COLOCANDO OS BINGOS NOS “IS”
(Por Domingos Oliveira Medeiros)
Jogo sujo. Pura hipocrisia. O jogo político equivocado. A dança de interesses escusos. O jogo de vaidades. É assim que vejo o espetáculo do crescimento de um fato que, a bem da verdade, não deveria merecer tanta atenção por parte do governo, não fosse por um detalhe: o escândalo provocado pelo senhor Waldomiro, amigo do ministro José Dirceu, flagrado no exercício de um cargo público, recebendo, de um bicheiro, propina, segundo ele, para ajudar um amigo em dificuldades; e, de quebra, ainda conforme o citado senhor, o registro de doação de R$ 100 mil reais para o então candidato do PT ao executivo do Distrito Federal.
Jogos de azar, crime organizado, lavagem de dinheiro, tráfico de drogas, prostituição e outras mazelas, dizem os que se colocam contra a liberação das casas de bingos. Como se não existisse, em pleno funcionamento, o jogo do bicho. Como se a Caixa Econômica Federal não praticasse jogos de sorte de azar, para sorte do governo. Como se os bingos, não estivessem, há tempos, funcionando na clandestinidade explícita. Como se não houvesse registro de remessa ilegal de dólares para o exterior. A CPI do Banestado que o diga: onde andam os U$32 bilhões de dólares que saíram pela porta da corrupção e da impunidade? Quantos engravatados foram presos, até agora? E o que as casas de bingos teriam a ver com isso? Absolutamente, nada.
Por essas e outras razões, sou a favor da legalização de qualquer jogo. Melhor do que deixá-los funcionando na clandestinidade; sem pagar impostos; sem gerar empregos com registro em carteira; sem possibilidades de controle e fiscalização das atividades que lhe são próprias, da parte do Poder Público.
Vamos deixar de hipocrisia. Pior do que a legalização desses jogos, é o jogo dos especuladores; dos investidores internacionais; O jogo de azar para o Brasil, em que só os banqueiros dão as cartas. E enriquecem às custas de um exército de miseráveis, que aumenta à cada ano. Jogo que é praticado há mais de dez anos; desde o tempo do governo passado; jogo que só tem ganhadores de um lado: do lado do sistema financeiro.
Enquanto isso, políticas de investimentos, de desenvolvimento industrial, de geração de empregos e de distribuição de renda são adiadas. A história do crescimento do bolo se repete. Bolo que já murchou, faz tempo, no calor da desilusão dos brasileiros.
E pensar que a história se repete com um sindicalista no poder. Sindicalista que há vinte anos preparou-se para chegar lá. Que conhece, de perto, o sofrimento e as dificuldades do trabalhador brasileiro. Que viajou por todo o país, em caravanas de investigação da pobreza que assola nossa pátria. E que hoje, ao chegar lá, parece não ter projetos, planos e programas. Tem dificuldade, inclusive, para resolver uma questão que, em tese, já deveria ter total domínio: a questão do salário mínimo, da aposentadoria, da previdência social e proteção do trabalhador. Tantas lutas e tanto empenho para morrer na praia, com uma nota de R$20 reais no bolso dos trabalhadores. Não vou nem me atrever a perguntar o que está na mente de todos: o que fazer com tamanho reajuste? O que fazer com esta nota de R$20 reais, depois de tantas promessas ? (07-05-2004)
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