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Artigos-->As origens do nazismo - parte 2 -- 05/05/2004 - 14:21 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
As origens do nazismo - 2a. Parte



Ludwig von Mises



Mídia Sem Máscara - 04/05/2004



2. O Ponto Fraco do Liberalismo Alemão



Por volta da metade do século XIX, os alemães que estavam interessados em assuntos políticos estavam unidos em torno do liberalismo. Apesar disso, a nação alemã não obteve sucesso em livrar-se da opressão absolutista e estabelecer a democracia e o governo parlamentar. Qual a razão para isso?



Primeiro vamos comparar a condição alemã com aquela da Itália, que estava em uma situação parecida. A Itália também estava inclinada ao liberalismo, mas os liberais italianos estavam impotentes. O exército austríaco era forte o suficiente para derrotar todos os motins revolucionários. Um exército estrangeiro conteve o liberalismo italiano; outro exército estrangeiro libertou a Itália desse controle. Em Solferino, em Königgrätz, e às margens do Marne, franceses, prussianos e ingleses lutaram nas batalhas que tornaram a Itália independente dos Habsburgos.



Assim como o liberalismo italiano não se comparava ao exército austríaco, o liberalismo alemão também era incapaz de confrontar-se com os exércitos da Áustria e da Prússia. O exército austríaco consistia principalmente de soldados não-alemães. O exército prussiano é claro, tinha em sua maioria homens de língua alemã; poloneses, lituanos e outros eslavos eram somente uma minoria. Mas um grande número desses homens que falavam um dos dialetos alemães foram recrutados das camadas da sociedade que ainda não tinham despertado para interesses políticos. Eles vieram das províncias orientais, da margem oriental do rio Elba. Eles eram em sua maioria analfabetos e não familiarizados com a mentalidade dos intelectuais e dos habitantes da cidade. Eles nunca ouviram nada sobre as novas idéias; eles haviam crescido com o hábito de obedecer o Junker [aristocrata prussiano], que exercia poder executivo e judiciário em suas vilas, a quem eles deviam impostos e corvée (estatutos do trabalho não pagos), e a quem a lei considerava seus legítimos senhores. Esses eficientes servos não eram capazes de desobedecer a uma ordem de atirar no povo. O supremo comandante do exército prussiano podia confiar neles. Esses homens e os poloneses formavam a divisão que derrotou a Revolução Prussiana em 1848.



Tais foram as condições que impediram os liberais alemães de adaptar suas ações às suas palavras. Eles foram forçados a esperar até que o progresso da prosperidade e da educação pudesse trazer este povo atrasado para as fileiras do liberalismo. Então eles foram convencidos: a vitória do liberalismo estava prestes a vir. O tempo trabalhou para isso. Mas, ah, eventos traíram essas expectativas. Foi o destino da Alemanha: antes que o liberalismo pudesse triunfar, o liberalismo e as idéias liberais foram derrubadas—não só na Alemanha, mas em toda parte - por outras idéias, que novamente penetraram na Alemanha pelo Ocidente. O liberalismo alemão ainda não tinha cumprido sua tarefa quando foi derrotada pelo estatismo, pelo nacionalismo e pelo socialismo.



3. O Exército Prussiano



O exército prussiano que lutou nas batalhas de Leipzig e Waterloo era muito diferente do exército que Frederico Guilherme I havia organizado e que Frederico II havia comandado em três grandes guerras. Esse antigo exército da Prússia havia sido esmagado e destruído na campanha de 1806 e nunca mais reviveu.



O exército prussiano do século XVIII era composto de homens forçados ao trabalho, brutalmente treinados com chicotadas, e mantidos juntos por uma disciplina bárbara. Eram principalmente estrangeiros. Os reis preferiam estrangeiros a seus próprios subordinados. Eles acreditavam que seus subordinados poderiam ser mais úteis ao país trabalhando e pagando impostos do que servindo nas Forças Armadas. Em 1742, Frederico II estabeleceu como seu objetivo que a infantaria deveria consistir de dois terços de estrangeiros e um terço de nativos. Desertores de exércitos estrangeiros, prisioneiros de guerra, criminosos, vagabundos, mendigos e pessoas capturadas formavam a maior parte dos regimentos. Esses soldados estavam preparados para aproveitar cada oportunidade para escapar. Prevenção de deserção era então a principal preocupação da administração de assuntos militares. Frederico II começou sua principal pesquisa de estratégia, seus Princípios Gerais de Guerra, com a exposição de quatorze regras de como impedir deserções. Considerações táticas e até mesmo estratégicas tinham de estar subordinadas à prevenção de deserção. As tropas poderiam apenas ser acionadas quando firmemente reunidas. Patrulhas não poderiam ser enviadas para fora. Perseguição estratégica das forças derrotadas do inimigo eram impraticáveis. Marchar e atacar à noite e acampar próximo a florestas era evitado a todo o custo. Os soldados eram ordenados a vigiarem uns aos outros constantemente, tanto em guerra como em paz. Cidadãos eram obrigados, sob ameaça de pesadas punições, a barrar a passagem de desertores, capturá-los e entregá-los ao exército.



Normalmente, os comandantes oficiais do exército eram aristocratas. Entre eles, também, estavam muitos estrangeiros; mas o maior número pertencia à classe prussiana dos Junker. Frederico II repetia mais e mais em seus manuscritos que plebeus não eram adequados para comandar, pois suas mentes eram direcionadas para o lucro, não para a honra. Embora a carreira militar fosse muito rentável, como a de presidente de empresa que obtinha altos rendimentos, uma grande parte dos aristocratas proprietários de terras opunham-se à profissão militar para seus filhos. Os reis enviavam policiais para seqüestrarem os filhos de nobres proprietários de terras e os colocavam em escolas militares. A educação fornecida por essas escolas não era mais que uma escola primária. Homens com ensino superior eram muito raros nos postos de comandantes oficiais prussianos.[1]



Tal exército podia lutar e - sob ordens de um hábil comandante - conquistar, apenas enquanto se deparasse com exércitos de estrutura parecida. Eles dispersavam-se como palha quando tinham que lutar contra as tropas de Napoleão.



Os exércitos da Revolução Francesa e do primeiro Império eram recrutados do povo. Eles eram exércitos de homens livres, não da escória oprimida. Seus comandantes não temiam deserção. Portanto, puderam abandonar as táticas tradicionais de seguir em linha e dar salvas de tiros à esmo. Puderam adotar um novo método de combate, isto é, lutar em colunas e escaramuças. A nova estrutura do exército trouxe primeiro uma nova tática e depois uma nova estratégia. Contra estes, o antigo exército prussiano se mostrou impotente.



O estilo francês serviu como modelo para a organização do exército prussiano entre 1808–1813. Ele foi construído sob o princípio de que todo homem fisicamente saudável deve servir o exército. O novo exército manteve a experiência das guerras de 1813 –1815. Conseqüentemente sua organização não mudou por aproximadamente meio século. Como esse exército teria lutado em uma outra guerra contra um agressor estrangeiro nunca se saberá; foi poupado esse julgamento. Mas uma coisa está clara, e foi confirmada nos eventos na Revolução de 1848: apenas uma parte deste exército poderia ser confiado numa luta contra o povo, o “adversário doméstico” do governo, e uma guerra de agressão não popular não poderia ser travada com esses soldados.



Ao reprimir a Revolução de 1848, apenas os regimentos dos Guardas Reais, cujos homens foram selecionados por sua lealdade ao rei, a cavalaria e os regimentos recrutados das províncias orientais poderiam ser considerados absolutamente confiáveis As tropas do exército convocadas do ocidente, a milícia (Landwehr) e os reservistas de muitos regimentos orientais foram mais ou menos contagiados pelas idéias liberais.



Os homens das guardas e da cavalaria tinham de prestar três anos de serviço militar para cada dois anos em outras posições das forças armadas. Por conseguinte os generais concluíram que dois anos era um tempo pequeno demais para transformar um civil em um soldado incondicionalmente leal ao rei. O que era necessário fazer para proteger o sistema político da Prússia com seu absolutismo real exercido pelos Junkers era um exército de homens preparados para lutar - sem questionar - contra todos aqueles que seus comandantes os ordenassem atacar. Este exército - o exército de Sua Majestade, não um exército do Parlamento ou do povo - teria a tarefa de derrotar qualquer movimento revolucionário dentro da Prússia ou dentro dos estados menores da Confederação Germânica, de repelir possíveis invasões vindas do oeste que poderiam forçar os príncipes da Alemanha a permitir constituições e outras concessões para seus subordinados. Na Europa dos anos de 1850, onde o imperador francês e o primeiro-ministro britânico, Lord Palmerston, professaram abertamente suas simpatias em relação aos movimentos populares que ameaçavam o direito adquirido dos reis e aristocratas, o exército da casa dos Hohenzollern foi o rocher de bronze no meio da crescente maré de liberalismo. Tornar esse exército confiável e invencível significava não apenas preservar os Hohenzollerns e sua aristocracia; significava muito mais: a salvação da civilização da ameaça da revolução e da anarquia. Tal era a filosofia de Frederich Julius Stahl e dos hegelianos de direita, tais eram as idéias dos historiadores prussianos da escola historicista Kleindeutsche, tal era a mentalidade do partido militar na corte do rei Frederico Guilherme IV. Esse rei, é claro, foi um neurótico doentio que beirava a completa incapacidade mental. Mas os generais, liderados pelo general von Roon e apoiados pelo príncipe Guilherme, irmão do rei e provável herdeiro do trono, buscavam seu objetivo de forma firme e determinada.



O sucesso parcial da revolução resultou no estabelecimento de um Parlamento Prussiano. Mas suas prerrogativas eram tão restritas que o Comandante Supremo não era impedido de adotar medidas que considerava indispensáveis para a transformação do exército num instrumento mais confiável nas mãos de seus comandantes.



Os especialistas foram completamente convencidos de que dois anos de serviço militar ativo eram suficientes para o treinamento militar da infantaria. Não por razões de natureza técnico-militar, mas simplesmente por considerações políticas, o rei prolongou o serviço militar ativo para os regimentos da infantaria da linha de dois anos para dois anos e meio em 1852 e para três anos em 1856. Por causa dessa medida, as chances de sucesso contra um novo movimento revolucionário foram muito incrementadas. O partido militar estava agora confiante que no futuro imediato eles estariam fortes o suficiente, com a Guarda Real e com os homens do serviço militar servindo nos regimentos de linha, para conquistar os rebeldes mal armados. Contando com isso, eles decidiram seguir adiante e reformar profundamente a organização das Forças Armadas.



O objetivo dessa reforma era tornar o exército mais forte e mais leal ao rei. O tamanho do batalhão de infantaria seria quase duplicado, a artilharia aumentou 25 por cento e muitos novos regimentos da cavalaria foram formados. O número anual de recrutas seria elevado de menos de 40.000 para 63.000, e os postos de comandantes oficiais cresceram na mesma proporção. Por outro lado a milícia seria transformada em uma reserva do exército ativo. Os mais velhos eram liberados do serviço na milícia como não sendo completamente confiáveis. Os postos mais altos da milícia seriam confiados a comandantes oficiais das divisões profissionais.[2]



Cientes da força que a prorrogação do serviço militar já havia dado a eles, e confiantes de que tinham, por enquanto, suprimido uma tentativa revolucionária, a corte realizou a reforma sem consultar o parlamento. A insensatez do rei naquele momento se tornara tão evidente que o príncipe Guilherme teve de ser empossado como príncipe regente; o poder real estava agora nas mãos de um obediente partidário da facção aristocrática e de militares furiosos. Em 1859, durante a guerra entre a Áustria e a França, o exército prussiano tinha sido mobilizado como uma medida de precaução e para guardar neutralidade. A desmobilização foi efetuada de tal maneira que os objetivos principais da reforma foram alcançados. Na primavera de 1860, todos regimentos recentemente planejados já haviam sido estabelecidos. Só então o gabinete levou a conta da reforma para o parlamento e pediu que votassem a despesa envolvida.[3]



A luta contra esta despesa militar foi o último ato político do liberalismo alemão.



[1] Delbrück, Geschichte der Kriegskunst (Berlin, 1920), Part IV, pp. 273 ff., 348 ff.



[2] Ziekursch, Politische Geschichte des neuen deutschen Kaiserreichs (Frankfurt, 1925–30), I, 29 ff.



[3] Sybel, Die Begründung des deutschen Reiches unter Wilhelm I (2d ed. Munich, 1889), II, 375; Ziekursch, op. cit., I, 42.



(Publicado originalmente por mises.org)



Tradução: Priscila Wolff









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