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Artigos-->OS OSSOS E O OFÍCIO -- 03/05/2004 - 21:32 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
OS OSSOS E O OFÍCIO



Francisco Miguel de Moura*



“Jamais sentir-me-ei feliz se, em o sendo, possa tornar os outros invejosos.”, frase de Ascendino Leite, grande escritor brasileiro, no seu último livro. E está bem a calhar sobre as considerações que aqui iniciamos.

Reclama com razão o historiador Joaquim de Montezuma de Carvalho do esquecimento de Camões: “O país, tingido no vermelhão de algum remorso tardio, depositou uns ossos (que não são de Camões), no Mosteiro e Igreja dos Jerônimos, tendo ao lado esquerdo a companhia de Vasco da Gama e ao lado direito a de El-Rei Dom Sebastião (outros ossos improváveis). O que vem tarde demais é sempre fruto serôdio, não presta, é vergonha. O perdão da cultura é difícil.”

Enquanto assim acontece em Portugal, na Ásia, na chamada “Gruta de Camões”, os chineses colocaram, em letras do seu alfabeto é claro, a seguinte inscrição: “CAMÕES – O SÁBIO POR EXCELÊNCIA”, complementada com o texto: “As qualidades do espírito e do coração o elevaram acima da maior parte dos homens. Os literatos sábios o honraram e veneram, mas a inveja o reduziu à miséria. Seus sublimes versos estão espalhados por todo o mundo. Este monumento foi erigido para perpetuar a sua memória.”

Acrescenta Montezuma de Carvalho, para desmascarar a inveja de seus contemporâneos, em especial de Diogo de Couto, que o detratou na sua crônica: “A inveja tem permanentemente fome e enche a barriga vazia com os pedaços da dor alheia, bastando ao ódio um ‘ainda bem’ para amortecer os ímpetos caninos... O único contemporâneo de Camões que não teve inveja da sua altura como estro da poesia e da cultura foi Pero de Magalhães Gandavo, homem que viveu no Brasil e escreveu uma História da ‘Província de Santa Cruz’.”

Camões e Pessoa são as duas maiores glórias de Portugal, na poesia. O primeiro inventou praticamente a língua portuguesa que se conhece, não a falada mas a escrita, com seu poema “Os Lusíadas” e os belíssimos sonetos líricos. Fernando Pessoa cantou melancolicamente a glória passada de Portugal, sem ambição de muito publicar e tornar-se famoso na vida. Nenhum dos dois foram invejosos, mas despertaram, como soe acontecer, a inveja dos seus contemporâneos como atesta o cronista citado hoje, baseado em pesquisas sérias e documentos.

Não importa o tipo de vida pessoal que o poeta tenha tido. O que importa é o trabalho social por ele desenvolvido, o trabalho artístico. Pois a literatura não é apenas arte, é também vida.

Ler Camões e Pessoa é uma obrigação nossa, porque em seus escritos deixaram sua alma, a alma da língua, da tradição, dos costumes e da sabedoria válida em todas as épocas.

Se ambos despertaram inveja dos contemporâneos, são os ossos do ofício. Outros também serão invejados. Dos invejosos não há quem se livre. Mas eles certamente não são felizes. São muito mais desgraçados que a pobreza e o esquecimento de Camões e Fernando Pessoa, na sua época. Para serem cultuados eternamente.

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