| “Aly, pense bem: se nós só temos três candidatos para a próxima eleição de prefeito de Peão Biruta, a coisa é séria. Temos o merdinha, o merda e o merdão. A gente já estava acostumado com o merdão, aliás por muito tempo, bem antes dos pontilhões inacabados, do cartel da gasolina, do monopópio dos ônibus e do tráfico dos vales-transporte. Depois, a coisa só cresceu, graças a Deus. Aliás, nossa tranquilidade vem de bem antes da falsa revolução dos anos 60, quando havia "Elvis, the Pelvis". Naquela época, o grande chefe branco mandou acabar com a vontade popular, colocou submarinos na nossa costa e tudo deu certo. Foi um dos primeiros a reconhecer o novo governo, aliás. Até procissão da igreja saiu prá enganar o povo com o apoio incondicional da cúpula dos bispos para mandar os comuna pro inferno, lugar deles. Aquilo sim... Foram épocas áureas com os governadores que tivemos, os reitores e vários diretores da UNESP, que durou até meados dos anos 80. Aquele era um pessoal macho, do tipo rouba mas faz! Naquele tempo chefe de departamento tinha mandato de oito anos e ai de quem chiasse... Depois disso, a UNESP mudou para pior e tivemos que nos contentar com nossos homens em Brasília e com os prefeitos por aqui. Ainda bem que conseguimos manter os presidentes e os prefeitos até bem pouco tempo atrás. Em outras cidades, entretanto, os comuna ganharam. Só nos últimos tempos é que estamos nos sentindo em casa de novo, mas perdemos prefeitura e presidência. Então, para prefeito neste ano não adianta mesmo. Esse povo só sabe viver com gente do tipo merdão e é nele que eu vou votar. Ademais, não adianta votar em merdinha, porque além de fazer merda do mesmo jeito, não abre espaço para minhas irmãs, tias e sobrinhas no gabinete. Fica tudo uma nhaca só e aí tem que prestar concurso. Que coisa inútil... Eu prefiro ter o merdão lá na prefeitura e ter carta branca para fazer e desfazer”. Às palavras de Many Pulado, Aly Henado saiu pensativo e voltou prá pegar o seu já empoeirado e solitário paletó no escritório. Estava lendo um livro que dizia que no universo, semelhante atrai semelhante. |
