Gosto de inventar coisas e situações e depois transcrevê-las na tela do computador. Mas não usarei este recurso - o da invenção - na crónica de hoje. É verdade, li com esses olhos que os vermes haverão de comer. Deu no JT: "moleques de favela exigem duzentos reais para libertar Julie". Sei que você se espantará. Duzentos reais? Parece não fazer sentido, mas faz sim senhor. E o que é pior: a "mãe" de Julie, uma jovem senhora da classe média paulistana, acertou com os sequestradores que só pagaria cem paus pelo resgate. A ousadia dos meliantes vai além da compreensão. Negociaram pessoalmente com a dita senhora, no portão de sua casa. E mais: combinaram de entregar Julie no dia seguinte à negociação, também em frente à casa localizada na Zona Sul. Aonde este mundo vai parar, meu Deus?
Enquanto os holofotes da mídia miravam o desenrolar do sequestro de Patrícia Abravanel Telesena do Baú, a pobre Julie, ao contrário de Patrícia - que, segundo os noticiários, permaneceu numa confortável casa no elegante bairro do Morumbi - amargava horas de sofrimento num barraco de favela. Sem tomar banho. Sem direito a cortar as unhas. Comendo resto de comida, abrindo mão de sua dieta acompanhada disciplinarmente pela mamãe nutricionista.
A polícia? Bem, a polícia estava ocupada demais com o caso da filha do dono do Baú. Julie ficou renegada para um segundo, terceiro plano. Espantosa a idade presumível dos sequestradores. Entre 9 e 12 anos de idade. Trata-se de mais um caso para tirar as noites de sono do Secretário da Segurança e do Governador.
A imprensa? A pedido dos familiares, não divulgou nada até que Julie fosse libertada. Graças a Deus, tudo correu bem. A família agora pensa em se mudar de cidade. Poços de Caldas ou Ribeirão Preto. Estão em dúvida. De qualquer modo, não suportam mais a violência em São Paulo. Já arrumaram as malas.
Em tempo: Julie é uma poodle branca de 4 anos de idade. Dizem que é muito vaidosa.
