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Discursos-->Para demolir serena e definitivamente Babel -- 16/02/2006 - 00:15 (António Torre da Guia) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


FRANCISCO JOSÉ VIEGAS

Há gajos que quando falam ou escrevem sobre um gajo, mais fruíriam a gajice, se porventura provassem um bom naco de pasta intestinal ou introduzissem os inquietos apêndices teclantes pelo términos descendente.

Li algures, por peculiar biógrafo sob a milenar carga da evolutiva latrina, onde, dada a extrema higiene hodierna, até se pode depositar os alimentos a absorver, que Francisco José Pereira de Almeida Viegas é "conhecido do grande público pelo seu percurso jornalístico" e por ser "sobretudo um escritor versátil que já publicou obras de divulgação, de poesia, romances, contos, teatro e relatos de viagens", - mentira que enquadra irrefutáveis verdades que pouquíssima gente conhece. Aonde o "sabichão" foi pescar a enquadrante lengalenga, até as ratazanas deveras já pousaram as patinhas e obviamente, após a agradável labuta reprodutiva, terão depositado sucessivo rasto. Perdoem-me pois os Leitores o prodigioso esforço que aqui faço para evitar o polémico vocábulo "merda".

O considerado e afirmado intelectual que passo a referir - algo de "Eça-vivo-até-aqui" para ser estudado e aprofundado amanhã (foi, é, será sempre assim e o resto não presta) - nasceu em Vila Nova de Foz Coa, quiçá emanante de águas que lapidaram as gravuras rupestres feitas pela mão da nossa lusitana genética, a 14 de Março de 1962. Assim, pela metade do próximo mês, neste expectante ano 2006, completará 44 primaveras com integral propriedade.

Até aos oito anos, já decerto com o precioso livrinho do "Viva Salazar" bem entranhado no miolo e folheado até triplicar de volume, viveu no Pocinho, altura em que terá ajudado seus cultos progenitores, ambos professores primários, a mudarem-se para Chaves, tomando decerto o combóio puxado pela ronceira e fumegante locomotiva E215.

Reminiscências de uma meninice calmamente fruída entre as bençãos de odores campesinos e os poéticos murmúrios do Douro, têm-lhe servido de natural referência a seus escritos. No romance de estreia "Regresso por um Rio", FJV define o conteúdo como "um cântico de louvor e de saudades, da minha terra, dos meus lugares, do meu rio, da minha família, da minha infância".

Sem muito queimar as pestanas, modestamente entre aqueles que prestam um mínimo de atenção e algum devotado interesse pelo exercício literário, como tantos e tantos outros, conheço FJV através do ecrã televisivo. Além de aguardá-lo propositadamente em alguns dos seus programas, nunca mudei de canal sempre que a sua presença se me deparou. Mais: sempre que no café as opções penderam para as decorrentes lástimas que fecundam a ignorância-sabidola, corri sem mais para casa a fim de não perder as suas benquistas intervenções. Conheço muito pouco da sua produção literária pessoal e, como eu - apesar de espontaneamente admirá-lo - estarão, em idêntica percentagem, os eleitores que nas recentes presidenciais não votaram em Gracia Pereira.

FGV tem um aspecto donde emana serena e aprazível bonomia. O seu agradável modo de ser nunca deixa de ser para impor que presumidamente é, farsa estúpida que cada vez mais assola o cansado aparelho que outrora foi o consolo de meus olhos e ouvidos. A mestria que de Hermano Saraiva sai em fogo impante, de FJV brota em pachorrenta e suave harmonia, tal e qual vaquinha onde se deseja avidamente passar a mão. Em futebol, por exemplo, seu pendor clubístico é assaz gémeo do meu. Gostamos de azul e branco sem ouro dourado de mais ou aberrantes nódoas que conspurcam qualquer arco-íris. Presumo que ambos adoramos o softimento do golo adverso sem os esconsos favores dos "juízes-auxiliares". Da sua singela postura gosta-se à primeira vista e continua-se a gostar de olhos fechados.

De João Luís Barreto Guimarães, sobre a obra de FJV, leio: "envolvente e melancólica, lugar da perda e da inevitabilidade, palco de um recorrente apelo ao ancestral em que a partida e o regresso reflectem aturadamente a eterna procura de um lugar onde mereça a pena existir". Fernando Pinto do Amaral, em objectivo resumo à poética de FJV, considera-a "um equilíbrio entre o real, os sentidos e a memória".


Está-se pois em face, no que a expressão escrita concerne, de um multifacetado artista profissional, que afirma que «toda a literatura é policial». Nutre particular pendor pelo romance parodiado, um género que admira e cultiva, conjugando a prosa poética, a gastronomia, o futebol (uma das suas dilectas paixões) e os lugares a que está ligado por laços emocionais: Açores, Galiza, México, Irlanda, Escandinávia, Brasil, abordando os problemas da solidão masculina, do desencontro, do desencanto, das dúvidas existenciais e dos pequenos prazeres. O crime engendrado serve-lhe tão-só de mote para desenvolver os enredos e empolgar as relações das suas personagens.

Enfim e num bem urdido todo, FJV escreve livros, exprime-se em revistas e jornais do mais diverso género, faz programas de rádio e de televisão com notável à vontade, não cedendo nunca, exemplarmente, terreno ao medíocre descarado nem à sofismada complexidade que por aí anda a "medrar".

Após uns tempos de permanência no Brasil, FJV assumiu recentemente posse oficial do apaixonante "culto pessoano", desiderato que pretende incrementar e deveras implantar no espaço lusófono, algo que por si só representa um excelente reaprendizado do princípio para lograr um promissor horizonte no destino. De resto, para que serviria honrar e guardar o Mensageiro no Panteão Nacional se o conteúdo da mensagem não se expandisse? - "A minha pátria é a minha língua".

Vou enviar um e-mail a FJV e convidá-lo a participar na Usina. Veremos se tudo vale a pena mesmo depois da alma ser grande.

Após mais uma bem curtida experiência gastronómica, eis o fecho de um dos mais recentes escritos de FJV: "Ao ser devolvido à Estrada Nacional, depois de passar pela violenta lista de digestivos, perfumada por um bom café e um bom charuto, resmunguei, mas achei que o mundo estava mais perfeito. Não admira".

Aos 67 anos, como escreveria eu sobre um idêntico perpasse? - Ao ser devolvido ao inferno nacional, depois de mais um aprazível remate e intoxicar-me com duas condenáveis delícias, censurei-me intimamente, mas achei que o mundo ainda proporciona acasos dignos de uma criança, o que é admirável.

António Torre da Guia



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