Pouco era preciso,
uma rosa,
um narciso,
o regar de lágrimas,
prá vislumbrar o meu jardim.
Vai roçando uma janela,
uma parasita,
um jasmim,
o fixar sonolento,
de um olhar furtivo, enfim.
Enchendo de sol o verão,
um flerte,
uma vaidade,
a claridade do condão,
no raiar de uma verdade.
Galardões das chuvas,
um broto,
novos ramos,
lamaçal e flores novas,
encerrando a cor do outono.
Tiritar de um queixo frio,
xales de lã,
abraços quentes,
longo beijo de inverno,
alegria em corações ardentes.
Outra vez em meu jardim,
em pé,
olhar sereno,
a primavera que se repete,
olhando ao longe, este eu pequeno.
Espreguiçar do tempo é meu labor,
espaireço,
renovo forças,
não faço menor clamor
e vou amando o que já conheço.
Quando amanhece em mim,
outro verão,
lembranças,
maviosos novos botões,
de amores me farto noutras andanças.
AdeGa/96
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