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Cartas-->Carta a uma Mulher Especial -- 07/03/2002 - 11:07 (Vânia Moreira Diniz) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
www.vaniadiniz.pro.br

Querida Assunção

Sei que está muito longe de mim. Num lugar onde o descanso pode ser interpretado de vários modos. Nos últimos e difíceis anos em que uma cadeira de rodas te conduzia eras aquela figura de amor e compreensão que eu me acostumei a contemplar com os olhos úmidos e entremeados de admiração. Nada te abalava em tua fé, na enorme consideração pelas pessoas fossem quais fossem as atitudes tomadas, no vigor com que mesmo doente dedicavas à clientela ávida de contar-te as misérias e sofrimentos humanos e principalmente na enorme generosidade que espalhavas como um bálsamo à tua volta.
Nos momentos de confidência mútua e profunda, em que deixávamos esparzi de dentro do coração nossos traumas e alegrias acumulados, aprendi muito de doação, carinho, perdão pelo que me transmitia de tua vida atormentada. Atormentada, digo eu pelo estreito e modesto conhecimento verdadeiro do que era a tua riqueza interior incomensurável.
Muitas vezes te via sempre com um delicioso sorriso nos lábios levemente pintados, sorriso que apaziguou a alma e suavizou a dor daqueles que cercavam teu consultório de psicologia. Sorriso que deliciou a tantos desafortunados.
Não esqueço jamais do teu olhar inteligente e profundamente expressivo, quando falava da ajuda primordial que exercia sobre as mentes das crianças especiais. O progresso de senti-las mais perspicazes e com o mundo mais perto delas, a alegria de vê-las sorrir nas oportunidades de prazer desconhecido antes do tratamento. A satisfação de proporcionar-lhes o exercício de viver, tendo consciência dessa vida.
Jamais esquecerei a expressão desses seres maravilhosos e de seus pais que esperavam ali a tua luz que enfeixava raios dourados de esperança. Esperança que elas já não tinham e que vieram buscar na tua imensa generosidade que procuravas ocultar com uma capa de naturalidade.
Essa generosidade também cobriu as feridas interiores daqueles que já tão dependentes de drogas não conseguiam escapar do inferno de sua própria condição. Meu Deus, que trabalho bonito e emocionante que encantava a todos que conheciam a tua energia vigorosa. Não há palavras possíveis nesse momento.
Para todos tinhas uma palavra amiga e, entretanto tua própria vida que eu conhecia em detalhes minuciosos jogavas para o alto, esquecendo que tinhas essa artrite perniciosa e que te enchia de dores as noites insones. Mas eu sabia que de manhã estarias lá pronta a ouvir com minucioso carinho cada uma de todas aquelas pessoas indefesas, ricas, pobres, cultas ou ignorantes, a todos que te procuravam e deixando que vissem teu sorriso sedutor.
Só uma coisa não conseguiste ultrapassar, embora tenha que dizer em tua defesa que lutaste desesperadamente para isso: A morte repentina de tua filha.
Não posso esquecer quando falaste comigo nessa oportunidade e disseste de um jeito que as lágrimas me vieram aos olhos abundantemente:
-Preciso, estar no meu consultório, Vânia. Essa é minha vida. É a minha fortaleza inexpugnável. Só nele reunirei alento para continuar a viver. Tenho que estar com a minha gente e as minhas crianças.
Abracei-a com força e assim ficamos nós durante um instante interminável de emoção, em que procuravas conforto e eu pedia a Deus que te ajudasse num dos únicos momentos que a vira indefesa.
Poucos dias depois fostes definitivamente para essa viagem inexplicável deixando a saudade que jamais terminará, mas também o exemplo da figura humana impressionante, fascinante e apesar da deficiência talvez a criatura mais linda e deslumbrante que jamais conheci.

Vânia Moreira Diniz


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