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Erotico-->A Pequena Aeronave -- 30/06/2002 - 21:14 (Paulo Robson de Souza) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos





Sou pequena aeronave.
Descuidei-me. Estou perdido.
Ah, se coubesse um pedido,
transmutar-me em véu... ser ave...

Dez mil pés. O teto é baixo.
Tateio o desconhecido
estrato branco, doído
– o lençol com que me enfaixo.

Vôo sobre nuvens vastas.
Tempo fechado. Não vejo!
Só uma janela me basta
pra pousar no seu desejo.

Contato as barras do dia
que me elevam para o céu
em busca da geografia
sob o misterioso véu.

Encontrar a minha proa,
ir no rumo verdadeiro
e, na sina de quem voa,
ter meu norte derradeiro.

Na menor velocidade
de controle, me atirar
no buraco que encontrar
nessa nuvem que me invade.

Sem contato visual,
sem poder fazer fonia,
só me resta o instrumental
ante a morte que anuncia.

Só, no céu de água fina,
ouço uma voz feminina:
“Sou seu contato radar.
Venha me sobrevoar”.

É uma voz apaixonada
me indicando a coordenada.
Vou descer, sentir se devo
esquadrinhar seu relevo.

Quero, louco, dar rasantes
no seu corpo adormecido
e, num vento cintilante,
acordar o seu vestido.

Vou cruzar a sua pele
como hábil planador
em busca de brisas, cor,
pêlos... Procurando vales.

(Acha que está me salvando
da morte, do seu bafejo,
quando está me indicando
aonde cheira a desejo!)

Sobrevoar seus perfis
como um espião sem medo
em busca de algum segredo
neste encantado país.

Contornar, emocionado,
dois picos róseo-marrons
que se elevam, se excitados
por sopros, beijos, por sons...

Traspassar dois morros calvos
pressentindo os seus odores
rumo ao campo dos mais alvos:
seu ventre ornado de flores.

Perpassar a mata gris
e os seus odores sutis
e descobrir um presente:
uma fonte da água quente.

Feito um ousado parapente
pentear sua rala mata
e perceber cataratas
nesta fonte de água quente.

Ser ultraleve, porque
hei de ter muito cuidado
quando for me abastecer
nos seus lábios delicados.

Feito um ás, voador disco,
circular seu tornozelo
e, mesmo correndo riscos,
contatar os seus cabelos.

Com as asas sentir o quente
dessa térmica corrente
que ascende da sua nuca
quando lhe deixo maluca.

É a minha perdição
este rastro de perfume
nesta grande depressão
entre dois grandes volumes!

Depois de uma manobra incrível
– um lancevàc impossível –,
voltar, vencer o perigo
do fundo do seu umbigo.

Como uma ave de rapina
depois de um looping e um tuneau
(entregando-me) eu vou
penetrar suas narinas.

Vou cortar sua voz manhosa
que minha atenção desvia
pra fazer acrobacias
no céu da sua boca rosa.

Ousado, voar de dorso
sobre a crista do seu torso
desclassificar-me em tais
atitudes anormais.

Escrever com fios de luz
na sua pele um poema
à tardinha, à meia-luz,
como em tela de cinema.

Projetar-me no seu dorso
meio sombra, meio luz
revelando, sem esforço,
as faces dos seios nus.

Quero me ver nos seus olhos
como se fossem dois lagos
– espelhos d’água de abrolhos
tão dependentes de afagos.

Georreferenciar
todo o seu corpo, o seu jeito
e, bem depois, reencontrar
a pintinha do seu peito.

Demarcar todos os montes
em que o espaço principia.
Definir os horizontes
da sua linda geografia!

E, contendo a saliência
deste humano aeroplano
vou pousar no altiplano
desta fêmea turbulência.

Ser o seu cúmulo-nimbo,
seu cúmulo, grito surdo
de trovão. O limbo.
Seu temporal absurdo.

As pintas das suas costas
são estrelas ao contrário:
sugam a luz decomposta,
mudam meu itinerário.

Vou ter falha de motor
vou ter pane estrutural
ao sentir o seu calor
e o seu solo escultural.

Pra que logo possa ter
meu merecido repouso
vou, enfim, subverter
procedimentos de pouso.

Vou me estolar com seu charme
sofrer uma grande avaria
e cair, estatelar-me
nas suas coxas macias.

Com o flap todo arriado,
sem sustentação, cansado,
pousar, enfim, de través,
na planura dos seus pés.

No aeródromo do amor
quero me aterrisar.
E, quem sabe, não rimar,
dessa vez, “amor” com “dor”.

Pôr sobre sua pele nua
minha sombra... depois eu...
e dizer que é toda sua
a inspiração que desceu.



____________

Agradecimento:
Piloto Marco Antonio Carstens Mendonça,
pela consultoria.

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