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Artigos-->Anos de Chumbo – Recuso! -- 23/04/2004 - 19:15 (MARIA PETRONILHO) |
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Recuso ser bola cinzenta inanimada e fria
Enfiada no cano de uma espingarda
Recuso ser a morte enviada por desígnio alheio
Pois me debato desde o instante primeiro
E escolhi com aferro o destino da vida
Serei pólvora e não chumbo; serei raio determinado
Até ao momento do meu próprio crepúsculo
Seguirei discorrendo ainda que no perigo
Na aba do abismo; nas horas negras do espanto
Serei arco de aliança entre a terra e o céu
Fincar-me-ei mansa no olho do furacão
Serei o remanso entre as fúrias rodopiando
Retrocederei no tempo do fim para o início
Aplacando a angústia, pois nada temo
Que atravessei tantas fronteiras exposta
Ao reverso das laminas aguçadas e encobertas
Traço ponto por ponto a minha sina
Arriscada na palma da mão estendida
Impavidamente à espera da última queda
De onde ressurgirei nova seiva
Na infindável consumação da vida!
Lisboa, 23/4/2004
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