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Artigos-->O NÚMERO OITO DO FLAMENGO -- 19/04/2004 - 22:46 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




O NÚMERO OITO

(Por Domingos Oliveira Medeiros)



Faltavam poucos minutos para o tão esperado início da partida entre o clássico Vasco e Flamengo, que decidira o campeonato carioca. Mais de 75 mil torcedores lotavam as arquibancadas do velho e conhecido Maracanã. O clima era de ansiedade e de alegria. Alegria contida. Com reservas. Afinal de contas, o jogo sempre foi uma “caixinha de surpresa”. Ainda mais em se tratando de dois antigos rivais.



O vermelho, o preto e o branco davam o tom da paisagem. Vascaínos e flamenguistas, pela vigésima oitava vez, decidiam o caneco. Gritos, urros e provocações ecoavam, de parte a parte, da multidão de torcedores. A paz estava no ar e se fazia marcante, desenhada nos corpos suados de alguns mais afoitos. A emoção, um pouco tímida, já se fazia presente entre faces sorridentes e as caretas de sempre. Bandeiras e braços se misturavam na dinâmica da espera. Faixas e cartazes homenageavam o rede transmissora do evento; e, entre elas, alguns recados para mães e pais: condenando a violência e falando da paz.



Dezesseis horas. O juiz da partida, depois de checar todo o ambiente, dirigiu-se para o centro do campo. Apito na boca, entre dois jogadores de cada time, autorizou o início da partida. Bola rolando em campo. A sorte estava lançada.



Logo aos primeiros minutos, a primeira surpresa: Vasco, o time que entrou em campo sem as vantagens do empate, fez o primeiro gol. A torcida vascaína comemorou com um grito de alegria, ainda tímido, posto que, logo perceberam, era cedo demais: ainda tinha muito jogo pela frente.



E assim o jogo foi consumindo o tempo e acirrando os ânimos dos torcedores. No primeiro tempo, o Vasco parecia jogar melhor. Algumas entradas mais duras, de parte a parte. Desespero, desconfiança,. ansiedade e esperanças estampadas nos rostos suados dos torcedores que pareciam trazer - preso na garganta - o grito de “é campeão!...”. mais como um desejo inconsciente, do que uma certeza.



E veio o segundo tempo. Logo no início, e do mesmo jeito do primeiro, o Flamengo deu o troco: gol de Gol de Jean, e o time rubro-negro voltou a ter a vantagem do empate e adquiriu ânimo novo. Entusiasmo do Flamengo, desespero do Vasco. A gritaria na torcida aumentava, ao mesmo tempo em que a violência entrou em campo. O número oito do Flamengo, desde cedo, sobressaía pelo excesso de faltas. Faltas perigosas. Fora da bola. Artes marciais. O pé na altura do rosto do adversário. Nenhuma advertência. Nenhum cartão para o número oito. E a impunidade empurrou o jogo para a violência geral. Como era de se esperar. E o espetáculo foi, pouco a pouco, perdendo seu brilho.



Até que o juiz, pressionado pelos fatos, resolveu agir. Um pouco tarde, pois poderia ter evitado a seqüência de socos e coices que se sucederam. Aos doze minutos, o primeiro cartão vermelho; expulso Coutinho, do Vasco. Alguns minutos depois, o segundo, de Jean. Os jogadores do Vasco ainda tentavam reagir. Até que veio o gol que garantiu o título ao Flamengo: também de Jean. Flamengo 3 x 1.



Tudo isso sem deixar de registrar a briga e os empurrões que fizeram a festa da violência em campo: cartões amarelos e vermelhos. Aos montes. Tardios, como sempre. Quatro expulsões: duas para cada lado. E, para coroar o antijogo, um pontapé de Róbson Luiz em Ibson aumento o número de cartões vermelhos para seis.



Faltavam poucos minutos para o término do jogo. Estávamos na prorrogação de cinco minutos concedida pelo juiz. Mais violência: invasão de campo por jornalistas e torcedores. Enquanto na arquibancada, o grito de “é campeão” não parava um instante.



Campeão, sim. De direito. Mas, de fato, todos perdemos. Pela violência em campo. Vasco e Flamengo, times consagrados e experientes, não deveriam deixar que a emoção tomasse conta da razão, em prejuízo do esporte, do espetáculo em si, do exemplo positivo que deveriam passar para o público.



Perdeu o juiz que não agiu no tempo exato. Demorou para “segurar” o jogo e impor suas autoridade. Talvez com medo de ficar “mal visto” por esta ou aquela torcida. Optou pela impunidade, vista e sentida por uma multidão de telespectadores.



Perderam os torcedores, pela omissão, no sentido de deixarem de lado a oportunidade de cobrir com vais os jogadores que, de forma justa, foram expulsos, manchando o espetáculo daquela tarde tão bonita.



A grande violência começa com pequenos gestos como estes que ocorreram dentro de campo. A banalização desses fatos é que contribuem para que, aos poucos, percamos a capacidade de nos indignarmos com a fome, com a miséria e com as mortes a troco de R$5 reais ou um par de tênis ou uma camisa usados.



19 de abril de 2004









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