Eu era uma criança emocionalmente fechada
Carregando experiências traumáticas
Esperando a qualquer momento
O rompimento com as pessoas amadas...
Comecei a desconfiar do que me diziam
Comecei a duvidar de minha própria dor...
O mundo era um algoz:
Estabelecia limites
Produzia frustrações
Causava muito sofrimento.
Para não sofrer, aprendi a técnica do disfarce:
Mascarava experiências negativas
Mascarava a dor de tantas feridas
E descrevia tudo colorido.
Ao crescer, assim agendava minha vida:
O ano todo, o máximo de alegria.
De segunda a segunda, muita animação.
A cada hora, ativar a imaginação.
A cada minuto, o máximo de prazer.
E em nenhum segundo, cabia o sofrer.
Tornei-me uma pessoa gulosa
Não só para comer e beber
Pois a energia da gula
Tornava-me voraz...
Nada para mim era pequeno
Tudo era máximo, super:
Alegria, alegria, sem trégua
Experiências interessantes a todo instante
Projetos feitos de fervor e festa
Morar cada vez melhor
Conseguir inter-relações em toda área
Gozar plenamente a vida
Curtir um entusiasmo constante
Qual o vício da adrenalina...
Mostrar meu charme natural
Conquistar o amor das pessoas
Viver a leveza de uma dançarina...
Consegui tão profundamente
O otimismo introjetar
Que a escuridão não conseguia incorporar.
Fui muito de fugir da dor
E atualmente percebo que não preciso mascará-la
Porque a vida tem todas as possibilidades:
Tem a dor, mas tem a alegria
Tem o lado claro e o escuro.
Surpreendo-me ao perceber
Que havia, na busca louca de prazer,
Um medo terrível da privação
Um medo de ficar sem liberdade
Um desejo de escapar da realidade
E não havendo um engajamento de coração.
Já aceito meus problemas emocionais
E deles consigo me ocupar...
Viver cada possibilidade é viver de fato
Viver o aqui/agora é viver conscientemente
Sem necessidade de fuga
Que só leva a mais erros praticar.
Não dispensei e nem perdi a alegria
Apenas ganhei a sobriedade...
Estou atingindo uma profunda auto-aceitação
Porque cada pessoa, perante o universo,
É aceita sendo do modo que é...
Procuro viver realisticamente
Entre a beleza e a dor
Sem pairar em fantasias de passado
Nem na possível grandeza do futuro.
Não mais reprimo o sofrimento
Aprendi a ter alegria e gratidão pela vida
Tornando-me forte o suficiente
Para suportar qualquer confronto e ferida.
* Este é o padrão VII, do tema: Da criança ferida ao adulto rumo ao seu interior. Segundo David Daniels e Virginia Price, na tipologia do Eneagrama, há nove padrões de pensamento, sentimento e ação formados na fase de desenvolvimento da nossa personalidade. O padrão de cada um de nós começa na infância, pois a criança, de alguma forma, foi ferida e encontrou um jeito de sobreviver, ou seja, inconscientemente adotou um dos nove padrões para se defender. Isso o adulto carrega, porém pode caminhar rumo ao seu interior e reverter ou amenizar a ferida.