Eu ainda no ventre da mãe...
Lugar quente, apertado...
Mas a rejeição desde ali
Trouxe, para minha criança aqui,
Uma profunda tristeza
Uma falta de encaixe na vida
Muita insegurança e solidão.
Tendo apenas o mundo interno como espaço meu
Entendendo que o mundo exterior exigia muito
Tranquei-me para o que ficava fora
Apertei-me - como no ventre materno -
E tornei-me um ser reservado e auto-suficiente.
Fui aumentando o campo do conhecimento
E fui reduzindo o campo do sentimento.
Na idade adulta, vivia em constante prontidão
E para poder preservar-me
Defendia-me praticando a evasão...
Caía fora, evitava o engajamento emocional...
Costumava segmentar minha vida
Em pedaços praticamente independentes:
Qualquer conhecido, de um compartimento,
Não cruzava com outro em nenhum momento.
Desenvolvi uma avareza geral
E queria, sempre e sempre, mais acumular:
Conhecimentos, idéias
Espaço, sossego
Bens materiais e espirituais
Tesouros relacionados ao meu eu.
Quereres e desejos passei a limitar...
Procurava não me expor
Muito menos revelar meu interior.
Sonhava meu mundo como um castelo
Onde ninguém me visse
Onde eu pudesse pensar
E apenas viver o belo.
Ouvir as pessoas era bem fácil
Mas a proximidade corporal me era difícil...
Viajar era tão instrutivo!
Saber era gozo e poder!
Não suportava de nenhuma forma
Exigências ditando norma
Nem a intromissão em dizer que errei
Quando algum fato afirmei.
Atualmente entendo que o sustento da vida
Dá-se naturalmente e com perseverança
Não preciso reter o que é meu
Nem ter medo de ficar em desamparo
Porque tudo me virá em abundância.
Estou conseguindo desfraldar
A bandeira dos meus sentimentos:
Não vou mais fugir deles
Nem preciso na mente me refugiar.
Reconheço, dentro de mim, a raiva e o medo
Que antes detestava demonstrar.
Abro-me a novos fatos
Abro-me a novas impressões.
Adotei a meditação como fonte de energia:
Abasteço meu espaço interno
Para enfrentar as forças externas.
Posso tocar as pessoas terapeuticamente
Sinalizando estar disponível para ajudá-las...
Assim exerço o desapego
E tiro a mim do isolamento.
Sinto necessidade de agir
De engajar-me e de amar.
Converto meu conhecimento em prática
- Uma autêntica ousadia –
Assimilo a objetividade
Consigo a verdadeira compreensão
E consigo me unir à sabedoria.
*Este é o padrão V, do tema: Da criança ferida ao adulto rumo ao seu interior. Segundo David Daniels e Virginia Price, na tipologia do Eneagrama, há nove padrões de pensamento, sentimento e ação formados na fase de desenvolvimento da nossa personalidade. O padrão de cada um de nós começa na infância, pois a criança, de alguma forma, foi ferida e encontrou um jeito de sobreviver, ou seja, inconscientemente adotou um dos nove padrões para se defender. Isso o adulto carrega, porém pode caminhar rumo ao seu interior e reverter ou amenizar a ferida.