O silêncio do início
Assim foi considerado
Era o primeiro silêncio
O silêncio esperado
O amor que se previa
A paixão que acontecia
Eu estava enamorado
Quase nada se falava
Quase tudo se dizia
Entre olhares calados
O amor acontecia
Eram gestos carinhosos
Afagos bem generosos
Era tudo que se ouvia
E o tempo foi passando
Nosso silêncio aumentava
Não se ouvia barulho
Só o amor escutava
Nas mãos entrelaçadas
Conversas eram trocadas
Na paz que ali reinava
Era o silêncio sadio
Do desejo e da alegria
Dos que se gostam e se amam
O silêncio de quem confia
O silêncio que se consente
O silêncio do amor presente
O silêncio que se vivia
E assim eram as noites
Eternas, silenciosas
Juntos ali trocávamos
Confidências amorosas
Quando ouvimos rumores
De mágoas e dissabores
E de questões duvidosas
Até que veio o silêncio
O silêncio inexplicável
Sem gestos e sem flores
O silêncio injustificável
O silêncio doentio
O silêncio por um fio
O silêncio abominável
O silêncio que incomoda
O silêncio indiferente
O silêncio ensurdecedor
Que explode dentro da gente
O silêncio quase total
Silêncio que não é normal
Silêncio que está doente
Silêncio de quem ouve mal
Silêncio que esconde a verdade
Silêncio sem trégua e sem forma
E que antecipa a saudade
Barulho que se faz presente
Em cada gesto indiferente
Repleto de falsidade
Foram tantos os silêncios
Durante a nossa amizade
E agora que se despedem
Vão deixar muita saudade
Sejam silêncios berrantes
Sejam silêncios falantes
De mentiras e verdades
Teve o silêncio do sim
Teve o silêncio do não
De quem estava afim
E silêncio de separação
O silêncio pragmático
O silêncio enigmático
O silêncio do perdão
Teve até o mais cruel
O silêncio sem retrato
O silêncio indiferente
O silêncio sem recato
O silêncio que entristece
O silêncio que arrefece
E o que mata no ato
Mas de todos os silêncios
Um só eu guardo comigo
O silêncio do teu corpo
O silêncio do abrigo
Minha impressão sincera
Mesmo de quem já era
Do meu amor inimigo