sentada na varanda
busco alegria nas minhas coisas pequenas
vendo e ouvindo essa chuva
que põe um verde estonteante no jardim
percebo-me precisando desesperadamente
de correr o mundo
andar – desconhecida e pura
por novos caminhos
não nego meu amor pelo que tenho
minhas coisas pequenas
amo esse quintal de dar água na boca
com seus sabores e aromas
gosto da cadela correndo na varanda
dos passarinhos – especialmente na primavera
quando o jardim vira aeroporto-motel
aquele frissom de asas e penas, bicadas,
revoadas mil e ciumeiras trágicas
alegra-me colher mangas, laranjas,
o cheiro das goiabas caídas, madurinhas,
arrancar as jaboticabas negras de doçura
ai, que me foi duro conquistar o paraíso
gosto de sentar na sala e ouvir Enya, Ema, Paco,
tomar vinho tinto,
sentir aroma de canela, almíscar, lavanda,
enquanto escrevo meus segredos e penas
ai, tão bom receber meus amigos,
às vezes aos montes, ruidosos, felizes.
às vezes, um ou outro, triste, sussurento,
querendo colo, ombro,
exigindo-me atenta.
agora precisava mais que isso
quero correr o mundo, vadia e louca
quero ser andarilha
nada ter e tudo conter
- quero ser apenas aquela que caminha
|