esses não são versos para ti,
ofereço-os aos pajaritos - teus olhos azuis
Peron é um poema ambulante, com seus temperos,
sua sabedoria discreta, sua alegria quase contida
que fica ameaçando soltar-se
- mas a porta apenas se entrabriu
Peron é daqueles sujeitos
que se arriscam cautelosamente
- isso existe
assim, faço-lhe versos aos olhos pajaritos
como um registro da sua passagem
dessa flor brilhante que nos deu
nesse dia do meu aniversário
penso que não volta
assustou-o a língua solta
as intimidades antigas que não conhecia
- Peron não sabe exatamente o que viu
mas digo-lhe que viu as flores da minha vida
os amores fraternos que permeiam meus dias
os carinhos que recebo diariamente
viu até os segredos de muitos
que aqui, nesta casa, sempre ficam transparentes
esta é uma casa de tanta gente,
de noites de música, abraços
e há dias de lágrimas, desabafos,
jantares para conversas baixinhas
no pé do ouvido
esta casa é um poema, como você, Peron,
porque aqui guardamos tantos risos e dores
tanta coisa humana, tantas confidências...
aqui sabemos de tudo que vai na alma dos amigos
e eles conhecem cada dor que parimos
cada sorriso que damos ao mundo
assim, foi isso o que viram os teus pajaritos
- gente de carne, osso e alma viva
nesse dia do meu aniversário
fevereiro 2002
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