O outro que nunca vejo
Mas que sinto a mim colado
Dá-me o sonho já usado
E tira-me o que desejo!
Em Mercúrio me protejo
E abro-me à Primavera
Que pressinto à minha espera
À saída do Inverno
Ou à boca do Inferno,
Seja onde for o manejo
Que o signo malfazejo,
Peixes, me queira ditar,
Continuo a procurar
O outro que nunca vejo.
Com Sagitário voejo
Sobre ágatas e ametistas,
Esmeraldas narcisistas
Entre verbanos odores
Para a nuvem dos amores
Onde me alcanço endeusado
E totalmente irmanado
Ao outro ser que me arrasta
Na distância que me afasta
Mas que sinto a mim colado.
Ah... Meu irmão desesperado,
Galgo veloz indeciso
Que sigo mas não diviso
Em tudo quanto me dou,
Quanto quero, quanto sou
À luz real do fado
Que percorro devotado
Na senda da novidade
E o destino por maldade
Dá-me o sonho já usado.
De inventor fui crismado
Pelo ar, esse maná,
Que a natureza me dá
D’inteligência segura
Que nasce ardente e pura
Por sublime lampejo
E em colorido festejo
Entrego sem condição
A quem a cobiça em vão
E tira-me o que desejo!