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Artigos-->A CASA DA TIA ODETE -- 04/09/2001 - 09:22 (Daniel Fiúza Pequeno) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A Casa da Tia Odete

Autor: Daniel Fiúza

20/02/2001



Tia Odete morava na cidade de Caucáia, uma pequena cidade encostada em Fortaleza. Hoje deve pertencer a grande Fortaleza, mas naquele tempo era considerada longe. A estrada era ruim, de terra batida e os transportes lentos. Era uma casa enorme, a frente pintada de amarelo canário, as portas e janelas de marrom escuro, e as Paredes internas de branco. Tinha quatro quartos, três salas, uma cozinha, um banheiro, uma varanda que era voltada para dentro, além de dois corredores largos e longos, isolando a casa totalmente dos muros que a cercavam. A calçada era de cimento queimado, quando batia o sol brilhava, mas ficava muito escorregadia quando molhada, o piso dos quartos eram assoalhos, estavam sempre encerados, o chão refletia tudo, os outros cômodos eram de lajotas brancas, decoradas de azul turquesa, parecia coisa de português, exceto a cozinha que também era de cimento queimado, no banheiro a metade das paredes eram revestidas de azulejos brancos com detalhes em azul, muito bonitos. A casa, não tinha garagem, nem jardim, era apenas uma parede alta que não dava para ver o telhado, duas janelonas, e uma porta alta divida em duas folhas, no alto da casa, tinha quatro bocas de jacarés em formas de calhas, quando chovia viravam cascatas, a gente tomava banho de chuva ali. Todos os móveis da casa eram de madeira pura, de uma cor marrom, quase preta, tão pesados que para mexe-los, era preciso muita força. Umas das salas, ficava sempre arrumada, nunca era usada, os quartos, dois tinham janelas para a rua, e os outros dois para o corredor lateral esquerdo da casa. Todos os quartos tinham uma cama, em cada cama um crucifixo pendurado, dois criados-mudos, com uma moringa e um copo em cima, um guarda-roupa, uma cômoda com espelho, exceto o quarto da tia Odete, que a cama era de casal, e tinha um móvel a mais, que parecia uma pequena capela, cheia de santos e castiçais, e dois vasinhos compridos para colocar flores. Ás camas e ás mesas eram cobertos com lençóis e toalhas branquinhas, de linho, bordadas, impecáveis. Na entrada da casa, no começo do corredor, tinha uma chapeleira e uma mesa pequena com a imagem de uma santa, acho que era santa Terezinha, duas cadeiras normais e uma de dois lugares, todas de assentos de palhinhas. Na sala principal, tinha um quadro de Jesus Cristo com um coração em chamas, eu achava lindo, e sempre me apegava com ele nas horas de maior aflição.Mais ao lado, dois quadros com as fotos dos meus avós, separados, um de cada lado. A sala de jantar era grande, alias todos os cômodos eram muito grandes, e o teto muito alto, não tinha forro, dava para ver o fundo do telhado e os caibros de sustentação, nessa sala tinha uma mesa, doze cadeiras com assentos e encostos de couro, um armário com portas de vidro trabalhado, onde minha tia guardava pratos e talheres, um pote de barro com água sempre fresquinha. Na cozinha tinha um fogão de barro, que usava lenha, e outro de ferro que usava carvão vegetal, uma geladeira a gás. Uma mesa lateral encostada na parede, que mais parecia uma bancada. Em cima do fogão a lenha, sempre tinha carne, toucinho, lingüiça, ás vezes até peixe, tudo salgado, que iam defumando com a fumaça, como ficavam gostosas aquelas carnes! Mais ao lado na parede, uma bateria de panelas e utensílios domésticos, além de alguns tamboretes, (bancos rudes de madeira bruta) e um outro armário bem maior, onde eles guardavam panelas e outros objetos. Anexo a cozinha ainda tinha um quartinho, tipo paiol, que servia para acondicionar os alimentos não perecíveis. O banheiro da casa era o local que eu menos gostava, tinha um medo terrível de ir lá, era escuro, tenebroso, cheio de aranhas no teto, um tanque fundo, devia conter uns dois mil litros, cheio d água gelada, e um caneco para o banho, eu achava que poderia cair dentro e me afogar, o banho era de cuia mesmo, não tinha chuveiro, nem água encanada, a porta era pesada e alta, com um ferrolho de ferro, eu nunca me atrevia a fecha-la, tinha medo de não ter força suficiente para abri-la. Naquele tempo não tinha ainda a luz elétrica da chesf, a pouca luz que tinha vinha de um gerador a diesel, que acendia ás sete horas, e a meia noite apagava, por isso todos tinham geladeiras a gás. Ás casas tinham lampiões a querosene, aqueles que tem uma manga metálica que vai ficando incandescente aos pouco, mas depois ficavam super claros, eles eram acesos assim que apagavam ás luzes. A varanda da casa era para lado de dentro, cheia de armadores de redes nas paredes, a gente sempre dormia lá depois do almoço, era a área onde eu brincava, e todos se reuniam para conversar. O jardim da casa ficava no fundo, não sei se era um jardim propriamente dito, mas tinha varias espécies de roseiras, umas plantas que davam flores, e palmas, alem de pequenas árvores que davam flores amarelas e vermelhas, era uma lindeza. Tia Odete cuidava daquilo com muita dedicação e amor, eu adorava ver os colibris que vinham visitar suas flores e roubar seu néctar. A casa tinha um quintal gigantesco, eu diria que parecia uma chácara, cheia de árvores, a maioria frutíferas, tinha dois pés de siriguela, dois de caju, um de tamarindo, um de cajá, outro de cajarana, e vários pés de graviola e ata, alem das bananeiras que ficavam no fundo do quintal. A divisa dele, era feita com cerca de arame, juntava com outros quintais, dando a impressão para uma criança de dez anos, de um ar de floresta. Ainda tinha no fundo do quintal o chiqueiro onde ela criava porcos, e um galinheiro com galinhas, patos e perus Na casa residia: minha tia Odete meu tio Alves, minha prima Maria, uma tia solteirona chamada Antônia, e Raimunda a empregada da casa. Além dos três gatos, zandí, passifal e esfarelado, (tinha esse nome por ter sofrido um acidente quando era pequeno, quebrou a espinha, sobreviveu, mas andava se arrastando). A casa da tia Odete era para mim naquela época, o melhor lugar do mundo, onde minhas fantasias de criança criavam asas, e meus pensamentos voavam, o lugar certo para uma criança, um verdadeiro paraíso.









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