Atlas estava deitado como sempre em seu tapete oval e felpudo estendido num canto do corredor. Gostava daquele canto porque podia observar bem o movimento da casa.
O menino Pedro vem andando em sua direção, fala “Nhô Atlas”, e dobra o corredor. O cão continua deitado na mesma posição, com o queixo inexistente colado com o tapete.
Babi, a protegida da casa, passa correndo com sua boneca, volta dois passos e, balançando a boneca, fala: “Atlas! Atlas! Pega!” e atira-a ao espaço indo bater na pequena estatueta de pedra sabão do vô Chico, cuidadosamente colocada no chão para não pode cair.
Atlas continua impassível, com olhar perdido, quase que surdo para os ruídos externos. Quem vai pegar a boneca é a própria menina, que continua sua corrida pela casa depois de encaixar de volta o nariz do pequeno homenzinho de pedra sabão.
O pai, no caminho para o banheiro, dá um pequeno afago no vigia da casa. Atlas agradece, permanecendo quieto.
Suspiro.
Faz um belo dia de sol lá fora.
Outro suspiro.
Quando a mãe se aproxima, Atlas levanta a cabeça vivazmente, com os olhos atentos.
-Atlas, eu sei que você tem sido um cão muito dedicado, e merece um prêmio.
A mãe se volta para a cozinha e abre a porta do armário, enquanto atlas já está de pé, e com o rabo retesado.
A um pulo seguiu-se outro, para pegar o conteúdo da caixa escrito “Biscoitos caninos” que a mãe acabara de jogar. Feliz da vida o cão terá agora só pra ele dois belos e densos biscoitos.
Com uma pequena volta, a passos precisos, Atlas retorna para seu pequeno habitat.
Vida de cachorro é complicada.
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