Usina de Letras
Usina de Letras
224 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62073 )

Cartas ( 21333)

Contos (13257)

Cordel (10446)

Cronicas (22535)

Discursos (3237)

Ensaios - (10301)

Erótico (13562)

Frases (50480)

Humor (20016)

Infantil (5407)

Infanto Juvenil (4744)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140761)

Redação (3296)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1958)

Textos Religiosos/Sermões (6163)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->17. SEGUNDA PEREGRINAÇÃO ASSISTIDA -- 03/09/2001 - 06:29 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Matilde se dispôs a receber o influxo de assistência da turma. Jovenzinha quando chegou, fazia mais de dez anos que ingressara na colônia, sempre trabalhando em prol dos amigos em piores condições. Não se interessou nunca pelos estudos, tendo feito sua matrícula na Escolinha por imposição do preceptor, que se esfalfava por trazer-lhe conhecimentos consistentes no âmbito filosófico da doutrina espírita, mas sem resultados práticos.



Matilde não se julgava atrasada. Absolutamente. Mas sempre considerou ser melhor alcançar progresso espiritual pelo desempenho da caridade, ainda que os gestos se tornassem simplesmente repetitivos.



Na crosta, perpassou por diferentes religiões, até desembocar no espiritismo, onde terminou os dias, por clara influenciação de um espírito obsessor, engraçado por ela no centro espírita.



Devem já estar tremendo os leitores de formação kardecista, na expectativa de que iremos desandar a narrativa, acusando os mentores da casa freqüentada ou os próprios dirigentes das associações e federações como ineptos. Não vamos fazer isso. Ao contrário, se tivesse dependido deles a salvação de nossa irmãzinha, é quase certo que lograriam afastá-la do obsessor.



A fraqueza era toda dela, que misturou os conceitos hauridos das diferentes religiões, seitas e cultos, de forma que não conseguiu livrar-se dos hábitos antigos. Queria, de certa forma, afastar-se do álcool (que cultivava muito em segredo) mas acabou por degenerar o mau costume, quando aceitou o desafio capcioso do mau mensageiro de que iria suplantar todas as tentações apenas com a presença daquela força espiritual.



Cabe elucidar que vira os médiuns do Candomblé em ação, fumando e bebendo, e iludiu-se com a aparente isenção de efeitos perniciosos sobre o corpo. Um dia, sem querer (devemos reconhecer que quem procura acaba achando), ateou fogo na cama, onde dormia, combinando da pior maneira o cigarro e a cachaça.



Matilde arribou deste lado completamente perturbada. O pouco de desenvolvimento que havia conseguido em encarnação anterior ficou em estado muito precário, submersos os pequeninos recursos sob espessa camada de entulho emocional. Foi assim que os primeiros dois anos se passaram na erraticidade, até que descobriu que jamais fizera nada de que pudesse recriminar-se contra nenhum ser existente. As recordações, é verdade, não iam muito longe, mas as acusações que sofria se limitavam ao âmbito da consciência. Não havia perseguidores. Aquele obsessor simplesmente se esvaiu, porque era gratuito e oportunista. Tendo logrado o intento de perturbar a pobre criatura, partiu para outras aventuras. Nem Matilde, por sua vez, desejou efetuar nenhuma perseguição, culpando-se integralmente por todos os atos contrários aos ganhos que deveria absorver moralmente.



Isto posto, tendo definido a criatura, conversamos com ela em estado sonambúlico, como fizemos com Tobias.



- Você acha que está em condições de oferecer seus préstimos em equipe socorrista em peregrinação pela terra?



- Faço o que posso. É verdade que posso pouco, mas também não pretendo desempenhar o papel de chefe de equipe. Estou cansada de ficar limpando feridas e de lavar os utensílios no hospital. No começo, eu pensava que iria submeter-me ao trabalho para superar as acusações de culpa que me fazia. Devo dizer que até hoje as acusações persistem e a minha alegria por ter colaborado com o povo daqui não se renova. Pensei seriamente e vi que o meu tutor espiritual tem razão. Se não estudar, se não conhecer outros campos em que possa exercitar a caridade, se não abrir os olhos para os horizontes existenciais, se não conhecer pessoas mais interessantes, mais gabaritadas (peço que o meu linguajar seja corrigido e melhorado na hora do ditado), sinto que irei ficar marcando passo pela eternidade. Gostaria de seguir adiante com os companheiros que deixei ainda encarnados e outros que encontrei aqui no etéreo e que habitam regiões mais felizes. Apesar dos estímulos do pessoal da classe, eu me vejo sozinha, aérea, sem aprofundar-me na análise dos problemas originados pelas drogas e que tanta discussão provocam no seio da turma. A minha folha corrida é a mais enfeitada de estrelas de todos os colegas, entretanto, não vejo nenhuma vantagem nisso. Pergunto eu: será que a minha manifestação não está passando muito dos limites da pergunta inicial? Qual era mesmo?



- Você se considera capaz de auxiliar uma equipe externa de socorro espiritual a entidades encarnadas sob o poder dos vícios?



- Na verdade, eu me considero capaz, sim, de auxiliar, apesar de não conhecer nada a respeito das excursões. Quando saí para acompanhar a turma no apoio a Tobias, estranhei a forma pela qual vocês agiram, desenvoltos e solícitos, como se nunca tivessem sido perturbados pelas drogas. Vocês vão dizer que os professores deram ajuda fluídica, mantendo todos nós despertos, sem permitir que nos deixássemos influenciar pelas baixas vibrações do ambiente em que imergimos. No entanto, não consigo entender como é que se concentram as energias cósmicas para o efeito aludido.



Precisamos intervir, para que atingíssemos os nossos objetivos. De natural muito quieta, surpreendia-nos Matilde com a enxurrada de idéias.



- Você disse que não tem inimigos.



- Não que eu saiba.



- Reconhece, entretanto, que sua fraqueza permitiu o assédio de um ser malvado?



- Perfeitamente. Foi por isso que, depois, fiquei trabalhando no hospital como uma desesperada. Pelo menos ali eu me considerava segura e podia ficar sossegada quanto a novos ataques. O sistema de proteção na colônia supria a falta de meu próprio campo de força quanto ao acesso de influências perniciosas.



- Você não acha perigoso sair com os socorristas, expondo-se novamente aos que visarem desarvorá-la?



- Enquanto estive na erraticidade, fui capaz de cuidar de mim, nas poucas vezes que me atacaram. É que onde me encontrava não havia seres tão malfazejos. No hospital, internaram-se alguns muitíssimos piores, mas em fase de assistência e, portanto, com a área da perfídia muito restrita e sob controle. Desses não me aproximei jamais. Os companheiros que irão formar na equipe de assistência aos pobrezinhos encarnados com certeza conhecerão as minhas fraquezas e providenciarão uma barreira contra as más vibrações que se emitirem contra mim.



- Que você sabe a respeito desses grupos de assistência?



- Sei apenas que são formados de gente do mais alto nível, gente suficientemente habilitada para penetrar no meio das turbas de malfeitores para os resgates das vítimas ainda promissoras quanto a não descaírem definitivamente nas trevas.



Solicitamos a Resildo permissão para encerrar a entrevista, crentes de que não poderíamos permitir que Matilde se integrasse na equipe de sua aspiração. Nem precisamos debater muito para oferecer o nosso veredicto, condenando a moça a permanecer na colônia, imersa nos compêndios filosóficos e doutrinários. Mas, no nosso pronunciamento, fizemos questão de ressalvar as boas qualidades dela provenientes de um trabalho muito eficaz na assistência material (se assim podemos dizer, sem confundir os leitores) junto aos médicos e enfermeiros. Não queríamos ser surpreendidos pela deliberação contrária dos professores.



Na verdade, Resildo concordou com as conclusões da classe, mas, assim mesmo, nos causou estranheza quando nos pediu para seguirmos junto da equipe socorrista de que Matilde participaria, ela na qualidade de ajudante geral, nós como meros observadores.



De volta à colônia, reunimo-nos e chegamos a resultado muito diferente do anterior: não só a coleguinha tinha tido um desempenho muito bom, como foi de excepcional utilidade nos momentos mais difíceis, pela capacidade de concentração e de sustentação fluídica junto ao grupo. Nós, que nos encontrávamos superprotegidos pelos mentores, sentimo-nos muito mais atingidos que ela pelos influxos energéticos negativos dos seres em distúrbio junto aos viciados em transe.



Foi então que a deliberação do orientador fez sentido. Foi quando Matilde solicitou permissão para estudar os meios de conseguir mais recursos cósmicos (fluídicos, energéticos, vibratórios e de outras naturezas e constituição), concordando em permanecer na colônia, montando guarda junto aos interesses dos companheiros de classe. Dessa forma, logrou uma monitoria e agora age com mais liberdade e desenvoltura, o que não é pouco para quem ainda se encontra fortemente impregnada pelos eflúvios alcoólicos.



Pedimos licença para interromper. Fiquem com Deus!



Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui