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Discursos-->Discurso no ato de inauguração do Centro Cultural Cesma -- 16/11/2005 - 14:44 (Athos Ronaldo Miralha da Cunha) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Discurso no ato de inauguração do Centro Cultural Cesma.

Ilmo senhor Valdeci Oliveira, Prefeito Municipal de Santa Maria.

Ilmo senhor Julio Brenner, Presidente da Câmara de Vereadores de Santa Maria.

Ilmo senhor Humberto Gabbi Zanatta, nesse ato representando os ex-presidentes e ex-conselheiros da Cesma.

Caro amigo e companheiro cooperativista Telcio Brezolin.

Fraterna amiga Sirlei Bevilaqua companheira de cálculos e projetos.

Demais autoridades mencionadas.

Amigos e amigas.



16 de novembro de 2005.
Essa data ficará na história do cooperativismo santa-mariense. Desde a aquisição deste terreno até hoje, passaram-se 8 anos de muito trabalho e grande expectativa. Acompanhamos a construção desse templo da literatura com os olhos ansiosos e o coração palpitante pela chegada desse memorável dia.

Hoje, em definitivo, o Centro Cultural Cesma passa integrar o patrimônio da cidade cultura.
Nossos olhos estão marejados pela emoção. Porque essa trajetória cooperativista e solidária começou há 27 anos no longínquo 16 de junho de 78. E quando lembramos essa vitoriosa caminhada é oportuno dizer que foi lá no Diretório Acadêmico da Agronomia que foi elaborado o projeto dessa façanha. Eram abnegados e utópicos os primeiros acadêmicos que apostaram nessa difícil empreitada. Convém dizer que eram visionários, eram revolucionários os estudantes que fundaram a Cesma.

Por isso o dia de hoje é aprazível e emocionante, pois nos provoca um infinito sentimento de solidariedade e algumas saudades perdidas. Aprazível porque a Cesma faz parte do nosso cotidiano. E emocionante porque nossas reminiscências passarão pelas imagens de companheiros que já não estão entre nós, mas que foram fundamentais na construção dessa cooperativa que tanto nos orgulha.
E quando nos repontamos ao ano de 78, obrigatoriamente, devemos fazer uma reflexão acerca daqueles tempos de chumbo, sonhos utópicos e atitudes heróicas. Nas passeatas exigíamos a democracia e nos panfletos pedíamos o fim da censura. Na clandestinidade queríamos a revolução. Utopia era uma palavra muito usada naquela época. Mas foram os incríveis estudantes da UFSM que partiram em busca de uma utopia compartilhada. Uma utopia possível e realizável.

Aqui cabem duas perguntas. Como dimensionamos uma utopia? Qual a realidade de um sonho? Talvez a Cesma faça parte de um pouco dessas respostas. Podemos afirmar, com certeza, que foram sonhadores, corajosos e perseverantes aqueles universitários. Fundaram a Cooperativa dos Estudantes num contexto político adverso para reuniões estudantis. Mesmo que fosse para alargar os ideais de Manoel Ribas. Mesmo que fosse para seguir a jornada cooperativista dos ferrinhos de Santa Maria.
Naqueles anos, as reuniões de estudantes eram vigiadas por uma ditadura que perseguia e amedrontava. Qualquer manifestação era considerada subversiva.
Por isso as reuniões eram clandestinas. E, na clandestinidade, foi preparada e planejada a assembléia que viria fundar a Cooperativa dos Estudantes.

E na gélida e distante noite de 16 de junho de 1978 foi convocada a assembléia de fundação. Nascia ali uma das maiores e bem-sucedidas cooperativas do Brasil. Uma cooperativa a serviço da cultura. Uma cooperativa para difundir o livro, a solidariedade e praticar o preço justo.

Coube a mim, por uma distração do destino, estar aqui buscando traduzir um pouco desse sentimento, uma vã tentativa de relermos o coração dos estudantes da década de 70 do século passado.
Para não correr o risco de esquecer alguém, pois somos quase 34 mil associados, tomamos a decisão de não citar um nome em particular. Pois, somos, todos, geradores e quadros dessa saudável utopia. Somos, todos, mercadores de sonhos e mascates da esperança.
O correto seria formarmos a mesa inaugural com 34 mil pessoas, o correto e justo seria citar a todos. Não o farei.
No entanto, um nome, tenho que citar. Perdoem-me os demais.
João Miguel. O primeiro presidente da Cesma. O nome desse auditório é em sua homenagem. Um batalhador, um companheiro que viveu adiante do seu tempo e que por estar adiante do tempo, cedo também nos deixou, vitimado em acidente de automóvel. Algumas palavras suas são tão atuais que é importante lembrarmos e termos sempre presente. Inclusive para servir de exemplo para futuros cooperativistas, para os futuros gestores da Cesma.
Vejamos o que disse João Miguel num discurso improvisado na abertura da I feira internacional do livro em 1989.

“A Cesma não foi apenas uma manifestação econômica. Ela foi uma manifestação política, social e cultural daquele momento histórico que nós vivíamos na universidade. Existia uma abertura gradual e uma nascente e relativa democracia. Na universidade havia um segmento que propunha o cineclubismo. Uma associação de pessoas para projetar filmes, fitas vindas de canais não convencionais. Filmes que não passavam no circuito comercial dos cinemas. A Cesma nasceu para trazer e fazer a cultura não convencional. Combater os interesses puramente lucrativos. Então, junto com a Cesma surgiu o Cineclube Lanterninha Aurélio.”

Assim falou o João Miguel e são princípios que fazemos questão de salientar. “Combater o lucro fácil e fazer a cultura não convencional”. Sintetiza sentimentos de uma cultura popular e de inclusão. A cultura de um povo.


Estamos dando adeus ao sobradinho azul da Astrogildo de Azevedo, como carinhosamente chamamos a casa que nos abrigou por mais de duas décadas. E aqui cabe salientar, uma parceria cultural, cooperativa e econômica com a nossa querida e sempre lembrada Universidade Federal de Santa Maria. Assim, externamos os nossos mais sinceros e profundos agradecimentos.
Sentiremos saudades da casa cinqüentenária. Saudades dos espaços pequenos. Dos livros amontoados nos corredores. Saudades da hélice que nós chamávamos de ventilador e que fazia mais barulho que vento. Saudades daquele jeito estudantil quase anarquista. Ou anarquista quase estudantil. Saudades da salinha do Telcio, palco de memoráveis encontros informais e debates imperfeitos e eloqüentes nos sábados pela manhã. Sentiremos saudades, simplesmente. Saudades porque nos apegamos a história que escrevemos e logo estará nos arquivos amarelados do Rascunho, nas fotos desbotadas e guardadas nas gavetas da vida e na memória viva dos estudantes.
Quando nos despedimos desse simpático e aconchegante sobrado, ficamos com a certeza que ainda será uma casa que disseminará o conhecimento e a cultura para os jovens universitários que ainda estarão por vir.

A Cesma é fruto de uma construção coletiva. E sempre se caracterizou como uma cooperativa ciente de seu destino dentro dos preceitos do cooperativismo. Da transparência administrativa e da democracia.
Ao término das obras do Centro Cultural Cesma, temos certeza que um sonho que se sonha junto transforma-se em realidade e a realidade é este monumento arquitetônico. Um sonho construído por cooperados ao longo de quase três décadas. Uma arquitetura arrojada e moderna encerra esse ideal que parecia tão longe no distante 16 de junho de 1978.
Temos ciência e clareza necessárias desse momento histórico. E seremos maduros para enfrentar os futuros desafios.
Nesse novembro cheio de expectativa e emoção em que a Cooperativa dos Estudantes torna-se um dos maiores espaços culturais do Rio Grande somos acometidos pela euforia da realização. Em nossas mentes estarão sempre presentes as doces reminiscências dos momentos difíceis e da perseverança por superar obstáculos.

Os cooperativistas que administram a Cesma e os que virão administrá-la têm a responsabilidade de levar adiante os ideais dos estudantes que tinham a alma no mundo, os olhos postos no futuro e um irreverente coração.
Mas temos certeza. A Cesma vai mudar, mas vai continuar a mesma. Seguindo e divulgando o código de ética cooperativista. Com austeridade administrativa, financeira e rigorismo nas despesas. E inserida, em definitivo, na cultura santa-mariense.

Enfim.
Não queremos buscar um lamento nas vidas que deixamos para trás, não queremos esquecer os companheiros que não temos mais, e que perdemos por rotas imperfeitas e tortuosas. Queremos referenciá-los como exemplos de cidadania, pois, hoje em dia, são raras essas atitudes solidárias. E por mais que a gente mude é impossível nos desapegarmos do passado. Não há motivos para ficarmos calados, tão pouco sairmos berrando ao vento. Não quero ser frágil nesse momento. Mas também não quero ser racional. Por vezes a emoção atrapalha, mas a razão também faz mal. Eu quero, um dia, num distante futuro reler antigos Rascunhos e relembrar que os muros que dividem são tombados por punhos que libertam e por vozes que deixam a democracia extasiada e a ditadura perplexa. Quero, sob o facho de uma lua convexa, ter sempre na memória, a luta e a história desses companheiros. Ainda quero sentir saudades desse tempo presente e ver que os sonhos dos estudantes de 78 não foram em vão. E, assim, então, ter a certeza que a Cesma sempre será parte da vida da gente.



Athos Ronaldo Miralha da Cunha
Presidente da Cesma


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