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Cartas-->Um instante num quarto escuro -- 01/03/2002 - 15:17 (Gabriel) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Me desculpe por me prolongar, parece que eu nunca vou terminar. Parece que eu nunca vou descansar. Não sei se devo insistir na nossa conversa. Não sei se vale a pena ("mas a pena não existe").

Eu queria apenas continuar aqui. Não sei se é o mundo, se sou eu, se é a combinação destas coisas que me fazem assim: desejoso de encontrar algo que eu acho impossível ir atrás.

Talvez você ache tediante ler estas palavras, talvez eu achasse se eu as lesse. Preciso ir embora daqui, preciso fugir novamente. Voltar para casa, recomeçar o adormecimento do corpo, da alma, de tantos pensamentos. Depois quandos eles estiverem em repouso e o sono já tiver se misturado aos sonhos, eu vou novamente me levantar e partir. Porque os sonhos também são perigosos e eu não consigo contê-los. Então eu parto.
Parto como alguém que recolhe meia-dúzia de roupas, vasculha algumas gavetas e sem avisar a ninguém, sai pela porta, à noite. Entre a lucidez da partida e o entorpecimento do sono, eu parto todas as noites.
Um dia, acordo em minha cama, uma cama já antiga, já sem formas. Uma cama minha, uma cama de menino que cresceu. Outro dia, acordo num ônibus, indo pra alguma cidade deste território que ideologicamente chamamos nação. Em outros dias, mais recentes, acordo numa cama antiga, mas não envelhecida pelo meu corpo e meus pensamentos, uma cama antiga de um lugar com uma história maior que a minha. Acordo pra pensar na próxima viagem, nos próximos olhares que preciso aprender a lançar, na vida sobre rodas que me causa um pequeno mal-estar, uma sensação vaga de vertigem.

Eu não vou deixar de escrever. Vou continuar até quando me restarem forças pra me manter aqui. Mesmo que eu não consiga mais suportar o olhar de todos estes que me cercam.

Eu vou implodir. Este desespero de estar próximos a pessoas desconhecidas.
Estas vidas traçadas e levadas sem eu reconhecer qualquer semelhança com a minha própria vida. Esta grandeza de tanta vida pequena.

Eu não sei que faço. Às vezes, queria alguém só pra conversar, alguém pra me dizer coisas fúteis, passageiras. Eu me esquivo e me impeço de fazer um corte nas possibilidades, me impeço de determinar o rumo dos objetos próximos a mim. Me esquivo de ligar para os conhecidos, ou quase conhecidos.
Me esquivo de sair dos corredores já visitados e dos caminhos já percorridos, me esquivo de olhara para alguém que me olha de forma mais terna. Me esquivo de compartilhar alguma alegria mais intensa, mais verdadeira. Tenho medo de alargar minhas fronteiras, de irrigar minhas pastagens, tornar mais verdes os meus limites. Tenho medo de não poder controlar um mundo maior do que este que me impus e no qual fui lançado.
Ah, como sou medíocre. Reconheço, por um lado, que fui "lançado" a este mundo e legitimo este lançamento por um imposição consciente. Sou realmente medíocre e talvez morra assim.

Mas não vou parar. Só porque disse morte, eu não vou parar. Porque eu posso continuar me estendendo sobre este pequeno cubículo. Posso cavar mais embaixo, descobrir novas camadas. Construir um universo subterrâneo. Posso ser profundo.
Mas não consigo me expandir, me estender pelo horizonte. Alcançar novas terras, conhecer novas pessoas. Mesmo que superficialmente. Isso, "superficialmente", o horror nasce daí. Tenho medo que vejam em mim e eu veja, horrorizado, no mundo a superfície.

...silêncio. Eu não consigo continuar.
Como isso me dói!

Leio o que escrevi, ainda estou aqui, mas já estou distante, pensando em mil idéias indefinidas. Pensando em sensações. Numa visão diferente. Ah, estou longe.

eu....
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