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Artigos-->16. PRIMEIRA PEREGRINAÇÃO ASSISTIDA -- 02/09/2001 - 07:50 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Acompanhamos Tobias em seu devaneio espiritual, desejoso de ir ver os parentes no campo terrestre. Também estivemos com ele lá, examinando as condições vibráteis da mãe, do pai e dos demais consangüíneos. Irmãos não teve, como assinalamos acima.



Resildo nos advertira:



- Vocês devem examinar primeiro os desejos que impulsionam a visita, para avaliarem se existe alvitre de sabedoria na atividade externa. Caso não haja, nem por isso irão deixar de ir à crosta, entretanto, deverão prevenir-se quanto aos problemas previamente enfocados.



Aceitamos a sugestão e pusemos o irmãozinho, cuja figura ainda se encontra bem próxima daqueles dezoito aninhos do desencarne, em estado de suspensão da consciência (como se o hipnotizássemos), para que respondesse a uma série de questões de nosso noviciado socorrista.



Acreditamos que tenha aceitado a imposição com malícia (no bom sentido), para, posteriormente, valer-se das informações colhidas em proveito de seu desenvolvimento. De qualquer jeito, aderiu e favoreceu bem rápida alienação da realidade circunstante.



- Você está ciente do motivo de estarmos fazendo-lhe perguntas?



- Perfeitamente. Desejo visitar os meus na crosta e Resildo nos impôs a condição do exame íntimo da vontade.



- O que você consegue ver dentro de si que possa ser prejudicial, à vista do impacto da realidade em relação aos encarnados na família?



- Não vejo nada, a não ser que restam resquícios de insatisfação por haver minha mãe me colocado nas mãos das babás e de me ter oferecido para o repasto dos criados, desde a mais tenra idade.



- Só isso?



- Sinto-me indisposto com relação ao meu pai, porque nunca me afagou a cabeça amorosamente.



- Você está sendo capaz de realizar uma viagem completa ao passado?



- Estou.



- Não há nenhum carinho dele de que se lembre?



- Tomou-me ao colo exatamente três vezes. Duas delas, para me retirar dos braços de minha mãe e me entregar à empregada do momento.



- Desconfiaria seu pai de que você não fosse verdadeiramente filho dele?



- Vocês devem esperar que eu avance nos anos até uma idade de oito anos, quando me lembro de ter testemunhado uma cena de ciúme.



- Que você vê na sua memória?



- Meu pai e minha mãe discutiram, passando a ocupar quartos separados.



- Você acha relevante saber quem começou a briga?



- Não tenho mais nenhum interesse. Mas, na época, lembro-me de que não ficou nada gravado de modo mais penoso do que os fatos anteriores.



- Você guarda alguma mágoa física de algum deles, como algum tapa, algum castigo de quarto escuro ou algo semelhante?



- Nada disso poderia ter acontecido comigo, porque tudo o que eu fazia ficava escondido deles, já que as preceptoras (com perdão da palavra) ganhavam para dizer que tudo ia cem por cento comigo. Sendo assim, aprontava tudo o que arbitrava como o pior para cada instante, sabendo que nada iria ser revelado. Ao contrário, choviam presentes sempre muito caros e atualizadíssimos, inclusive importados.



- Então a mágoa se concentra no aspecto moral!



- É isso aí.



- Sabemos que você se deu a vários vícios e que perdeu a vida em estado de alucinação química. Atribuiu o fato aos familiares?



- Antes e depois do evento.



- E agora?



- Não os isento de culpa mas perdoei-os, desde que compreendi Jesus.



- Jesus não sofreu nas mãos dos pais.



- Mas Jesus perguntou quem eram os seus verdadeiros pais e irmãos. Não foi uma espécie de repúdio?



- Quer dizer que você se julga sob o amparo do Nazareno?



- Completamente.



- Nesse caso, considera a sua visita aos antigos desafetos (segundo o seu próprio ponto de vista) perfeitamente possível?



- Sim.



- E para quê? Explique exatamente o que você espera alcançar vendo os seus pais. Não estaria desejoso de sentir-lhes a preocupação íntima pelo seu passamento, em razão do trágico acidente automobilístico?



- Rememorando o que me passou pela cabeça até durante os primeiros tempos na colônia espiritual, responderia que sim. Hoje, prefiro pensar em termos mais amplos, para conhecer os dramas deles, mas em função de suas personalidades, com a finalidade precípua de conhecer os pontos fracos de suas formações, na tentativa de descobrir quem foram para mim no que concerne às anteriores encarnações.



- Você não foi auxiliado pelos responsáveis do desvelamento do arquivo da memória?



- Disseram que o anterior repúdio daqueles seres para comigo foi por demais áspero, resultando na necessidade de me agasalharem em encarnação de algum lucro cármico. No entanto, como é do conhecimento de vocês, eles acabaram por me repelir de novo. Egoístas, jamais se aproximaram carinhosamente de mim.



- Que você pode contar-nos da vida intra-uterina?



- Que me encontrava sedado quase o tempo todo. Quando não, recebia o impacto da rejeição de minha mãe, pela ingestão de álcool e pela inalação de fumo.



- Não estaria ela ignorando os males que causava ao fruto de seu ventre?



- Nunca parei para pensar a respeito.



- Também não pensou em que as atitudes subseqüentes tivessem a mesma base?



- Não quero discutir o assunto nesses termos.



- Por quê?



- Dá a impressão de que fui obrigado a aceitá-los como pais e eles a mim como filho, numa encarnação perigosa mas necessária (reconheço). Esse princípio aprendi apenas nas aulas atuais. Mas espero superar todos os problemas, quando me encontrar diante deles.



- Se lhe dissermos que não vemos nenhuma perspectiva de proveito nessa viagem, que nos diria?



- Diria que estão errados, porque estou convencido de que, se não amo ainda aquelas criaturas, pelo menos tenho a certeza de que me agasalharam (mal ou bem) e me propiciaram um retorno de muito conforto material. Nesse ponto, o culpado fui eu mesmo de haver esbanjado a riqueza que estava destinada só a mim, filho único.



- Não teria sido isso mesmo que o levou a descuidar-se do futuro na vida, sabendo que tudo iria acabar vindo para as suas mãos?



- De fato, mas me ocorreu que...



Nesse ponto, Tobias mergulhou mais fundo na consciência e deixou de responder às perquirições que havíamos planejado para a seqüência da investigação. Quando acordou do transe, estava absolutamente consciente de todas as sutis vibrações que lhe foram despertadas. Considerou precipitado interrogar-nos sobre a nossa opinião e permaneceu por mais de mês recolhido em seu aposento. Como não se assustaram os professores, ficamos tranqüilos, aguardando o retorno do amigo. Afinal, havíamos despertado para a curiosidade do resultado psíquico da pesquisa. No entanto, precisamos curtir uma decepção, porque nada nos referiu do encontro consigo mesmo. Apenas se ofereceu para ajudar quem desejasse receber o mesmo tratamento de indução hipnótica, dizendo que muito bom proveito haurira daqueles momentos de ensimesmamento controlado. Deixou transparecer que as perguntas poderiam ter sido melhor elaboradas, mas foi só o que nos passou quanto a não termos ido ao ponto essencial de sua personalidade.



Umas semanas depois, chamou-nos Resildo e nos pediu que acompanhássemos o amigo em sua visita terrena. Foi uma surpresa, tendo em vista os cuidados anteriormente recomendados e ainda o fato de não havermos aprovado a saída. Nada nos foi explicado no momento. Aliás, foi claro o mestre:



- Vocês irão inteirar-se dos motivos da permissão, quando souberem sopesar as dificuldades de relacionamento entre Tobias e os pais.



Lá fomos uma noite à casa do amigo. Os pais dormiam em quartos separados. Eram relativamente jovens, para um filho que estaria com vinte e cinco anos se estivesse entre eles. Quisemos entrevistá-los em estado sonambúlico, mas não perceberam a nossa presença. Tobias não insistiu em ser reconhecido. Apenas se ajoelhou, num ato de contrição absolutamente estranho para aquele ser isento de emoções cordiais relativamente aos parentes, e pediu perdão aos dois. Nesse instante, puderam vislumbrar, vamos dizer assim, o fantasma do rapaz e estremeceram, forcejando os corpos físicos para que acordassem. Imaginamos que, na manhã seguinte, teriam algum sonho para relembrar mas não ficamos a par do que aconteceu.



Quando voltamos, solicitamos ao professor que nos explicasse a importância para o relacionamento deles de uma visita absolutamente inócua. Pensávamos e argumentávamos, em função disso, que melhor resultado se poderia obter se, na própria colônia, nos uníssemos para a transmissão dos melhores sentimentos de Tobias, dado que a nossa energia se concentraria e poderíamos arquitetar um simulacro mais completo e de efeito mais contundente.



Resildo, contudo, repetiu o que antes nos dissera:



- Vocês irão inteirar-se dos motivos da permissão, quando souberem sopesar as dificuldades de relacionamento entre Tobias e os pais.



Passamos a história exatamente do jeito que se encontra no momento. Qualquer indução que os encarnados possam extrair desta mensagem truncada, queiram, por gentileza, esforçar-se por passar-nos. Se de nada suspeitarem que possa esclarecer o caso, façam como nós: ofereçam-se para séria peregrinação ao fundo de suas almas.



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