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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->42. AS MENSAGENS -- 04/07/2002 - 06:06 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Recolhidos ao escritório, os amigos ansiavam por abrir a correspondência do etéreo. Eram duas mensagens não muito longas, escritas em letras miúdas.

Fernando propôs-se a ler a primeira, prometendo a Leonel permitir-lhe as interrupções convenientes para os comentários:

— Às vezes, é bom decifrar logo o que está escrito, para dar seqüência ao entendimento do texto.

— Vamos lá!

— Diz aqui: “Continuação da anterior”. Que anterior?

— Só pode ser a outra. Como é que começa?

— “Queridos amigos Fernando e Leonel.”

— Então vamos começar por essa aí.

— Está parecendo que foi apenas um o autor.

— Logo iremos saber. Leia, por favor!...

Leonel impacientava-se.


“Queridos amigos Fernando e Leonel.

“Sabemos que esperam do espaço espiritual a solução definitiva para o mistério da contaminação de Jeremias. Entretanto, não iremos satisfazer-lhes o resíduo de curiosidade mórbida que tais casos encerram. Não se decepcionem, a não ser consigo mesmos, à medida que forem percebendo os problemas íntimos sendo revelados. Cada linha que atravessa a frente da gente possui duas pontas. Em uma deve estar o carretel. Se de um lado estiver a ponta, o que se poderá esperar do outro? Não lhes parece lógico?”


— Você acha, Fernando, que estão sendo justos para conosco, que tivemos o desejo de ajudar, tão-somente?

— É questão de fazer exame de consciência. Veja o interesse em saber o que aqui se contém. Será que estamos, verdadeiramente, querendo auxiliar a moça que transmitiu o vírus? Ou dar de detetives?

Leonel não estava acostumado a essas minúcias da investigação consciencial. Pensou em que o costume havia sido estimulado pelo confessionário. Disse-o claramente:

— E você estava desprezando as confissões, as comunhões...

— Não vamos desviar o assunto. Se os espíritos não nos revelarem quem foi a causadora...

— Ou o causador. Não nos esqueçamos da “picada”.

— Se não nos disserem a origem da doença e como poderemos ajudar, é porque julgam nossas atividades perturbadoras da ordem que desejam manter, segundo critérios que desconhecemos.

— Fernando, continue lendo. É melhor. Você, para filosofar, está um pouco... (como direi?) ...cru.

Atenuara-se a tensão. As brincadeiras pareciam colocar as coisas de acordo com o equilíbrio cármico. Fernando teve a nítida impressão de que alguém lhe estava assoprando os pensamentos, mas calou-se. Ainda mantinha viva a curiosidade sobre o texto.


“Todo efeito tem uma causa. Toda causa promove um efeito. É a chamada ‘lei de causa e efeito’, base do raciocinar espírita e pedra angular do edifício existencial. Assim, é certo que haja coerência em todas as ações humanas e entre os desencarnados.

“‘Mas’, dirão, ‘há muitas ações incoerentes na vida.’

“Diremos nós que há ações aparentemente incoerentes. Descoberta a causa profunda, a causa escondida, a causa verdadeira, moral, psíquica, conjuntural, tudo se esclarecerá pelo princípio de causa e efeito e adquirirá coerência. Se concluírem, o que esperamos que o façam, que a reunião se tiver regido pela coerência, estarão aplicando o conceito de causa e efeito.”


Leonel estava estupefacto. Parecia-lhe que o texto só poderia ter sido escrito após sua manifestação no carro.

— Configura-se o poder de previsão? Será que sabiam de antemão qual iria ser o meu pensamento? Teriam capacidade de conhecer o futuro, a ponto de anteciparem o que eu iria dizer?

— Permita-me discordar. Pelo pouco que entendo de mediunidade e do procedimento dos mentores espirituais, acho que estão aplicando um golpe. Imagine que você nada tivesse dito. Eles não afirmaram que você diria. Deixaram a possibilidade de dizer. E como sabiam que poderia dizer? Através da influenciação espiritual sobre a sua mente, da mesma forma que se comunicam através dos médiuns. Foram eles que lhe deram corda, para que chegasse àquela conclusão. Não lhe parece que a minha explicação “filosófica” seja lógica, verossímil, psicologicamente possível e, principalmente, coerente? Coerente?...

— Acho que não precisariam de nada disso.

— Mas é meio eficaz de comprovar que estão junto a nós, atuantes e ligados às nossas melhores intenções. O que houver de “resíduo de malícia ou de curiosidade” será colocado de lado. Isto vem demonstrar que são benfeitores e não entidades maldosas, interessadas em que caiamos em tentação.

— Vamos prosseguir.


“Por razões de moralidade evangélica, pouco poderemos adiantar a respeito da mulher portadora do vírus assassino. Todavia, estamos capacitados a dizer que a hipótese da contaminação por meio de injeção infectada, na boate, deve ser afastada. É Jeremias mesmo quem nos informa que não se deixou picar. Ingeriu a droga por via nasal, em dose extremamente pequena. Diz-nos que se arrependeu no último momento, ao se lembrar dos filhos.”


Aqui terminava a mensagem apanhada por Esteves. O efeito no espírito dos amigos era devastador. A comprovação do conhecimento dos projetos relativos às investigações na boate incidia diretamente sobre a necessidade da presença dos protetores junto aos dois, durante a viagem de ida à casa de Francisco. Não havia como entender que Esteves pudesse estar a par de suas intenções.

— Amigo Fernando, se não estivesse ocorrendo comigo, não poderia acreditar.

— Você me lembra a passagem entre Tomé e Jesus. “Abençoados os que não virem e crerem.” Eu já estou vacinado quanto a essas descobertas. Mas se ficarmos apenas extasiados com o fenômeno mediúnico, não iremos nunca aproveitar as lições. O que posso deduzir do último parágrafo é que foi mesmo uma mulher quem transmitiu a doença. Ou você julga, apesar de tudo, que deveremos procurar o traficante?

— De jeito nenhum. Hipótese descartada. Aliás, pelo que estão dizendo, nem a mulher deverá ser investigada. Se fosse possível ajudá-la, eles seriam os primeiros a dirigir os nossos pensamentos nessa direção.

— Caríssimo Leonel, nem Sherlock Holmes diria melhor.

— Elementar, meu caro Fernando...

Os amigos estavam transbordantes de felicidade. Era como se todo um mundo novo se lhes abrisse em perspectiva de conhecimento.

— Vamos à segunda.


“Continuação da anterior.

“Ao cabo de algum tempo, esclarecer-se-ão naturalmente os fatos. Os amigos terão consignado, em suas folhas corridas de prestação de serviços, a boa vontade com que intentaram auxiliar o próximo. Nada existe no mundo mais difícil do que cumprir as lições cristãs. Nesse caso, a intenção foi absolutamente válida, uma vez que agiram com total discernimento em relação à lisura com que desejaram pôr as meretrizes a par da capital ocorrência. Se o inferno estivesse cheio dessas boas intenções, fecharia por falta de clientela.”


Ambos sentiam comichão de comentar o texto. Mas não tinham expressões que não fossem interjectivas. Estavam pasmos. Dos olhos de Fernando surtiam algumas lágrimas. Era o elogio da loucura, da santa loucura de que estavam imbuídos os cristãos primitivos. Mas estas eram sensações impossíveis de tradução verbal. Morreriam em seu coração.

A custo, conseguiu dizer:

— Sinto-me envolvido em vibrações de amor, de compaixão, de conforto moral. Se os apóstolos sentiram algo assim após Jesus ter partido, era o impulso para a divulgação do evangelho. Caro Leonel, acho que posso responder à sua questão, sem “adversativas”: se não prosseguir na prática desta doutrina maravilhosa, irei perder a oportunidade de concretização de todos os meus ideais religiosos.

— Quanto a mim, só posso agradecer à bondade dos orientadores espirituais por me estarem despertando para esse plano que eu renegava até hoje de manhã. Que digo? Até a hora em que terminou a reunião.


“Este que está ditando a mensagem é o irmão Roque, encarregado, juntamente com Tia Ana, da conversão de Fernando ao Espiritismo, tendo em vista haver-se manifestado crente da realidade espiritual, como nós a concebemos, no momento em que considerou a possibilidade de ajuda para ganhar a concorrência pública. Atitude moralmente incorreta, abriu as portas às influenciações deletérias dos seres que não se importam em praticar atos maldosos. O arrependimento, muito mais do que o receio imposto pela religião, através do confessor, ensejou-nos magnetizá-lo para as primeiras manifestações mediúnicas de caráter mecânico e visual. A história lhe é conhecida. Reafirmamo-la para efeito da comprovação necessária à confiança que aspiramos provocar-lhe em nosso discernimento.

“Enfatizo, não obstante, que não teríamos nós, Tia Ana e eu, forças para realizar todo este projeto assistencial não fora a participação e o apoio logístico de nossos anjos guardiães. Não há também como nos esquecermos de que estamos sob amparo de entidades mais adiantadas, cujas vibrações nos envolvem para nos garantirem que o trabalho chegue a resultado positivo.

“A partir da leitura desta ‘ata’, encerraremos a missão específica de despertá-lo para a fé a que Kardec dedicou os últimos anos de vida. Estaremos aptos a atendê-lo nas requisições morais que julgar necessárias. Entretanto, recomendamos que siga os caminhos que lhe ditar a consciência. Daqui por diante, esteja entregue às mãos de Deus. Que Jesus o proteja!

“P.S. — Se o confrade Leonel se deixar estimular pelas mensagens, será igualmente bem recebido no seio da comunidade espírita."


Fernando terminou a leitura em pranto. Leonel também se emocionara às lágrimas.

Letícia assomou à porta. O jantar estava pronto.

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