Segundo o conceito da maioria dos humanos, o tempo de vida nunca chega: 80, 90, 100 e mais anos, sob o imperial almejo de existência eterna, algo que a ciência continua avidamente a procurar. Inclusive, para ganhar tempo, através da velocidade, há uma significativa parcentagem de indivíduos que não logra sequer sua reforma. Mais: quantas pessoas morrerão naturalmente em relação àquelas que perecem entre as malhas da devoradora engrenagem do progresso?
Aos 66 anos, quando bem analiso a situação de um semelhante meu com 90 anos, por mais bem tratado e lúcido que esteja, o seu estado existencial não me apraz, logo que me imagino em seu lugar. Interrogo-me: - Assim, como aquele e se lá chegar, o que vou eu andar a fazer entre o ciclo dos dias, dos meses e dos anos futuros? Chegado lá, terei eu a percepção que tenho agora?
Por consequência, auto avaliando-me seriamente, sentindo que normalmente correspondo com eficácia ao raciocínio, enquanto concluir que tudo vai indo nos "trinques", como soer é dizer-se, cá vou indo de vento em popa ao sabor da corrente que me impulsiona. Todavia, a partir de agora, sempre que profundamente olho o horizonte da existência, depara-se-me um cerrado nevoeiro onde qualquer previsão não tem hipótese de divisar-se com nitidez e, claro, deixo-me ir avante, consciente de que a vida, de facto, se alguma finalidade tem, eu serei tão só uma espécie de transmissivo elozinho na cadeia colectiva da sustenção que a algures vai.
Que vá e vá para onde for. No que a mim concerne, só espero, tal como sinto e penso agora, que a decisão sobre o meu domínio nunca me saia da mão. Mas isso... É exclusivamente só comigo!...
António Torre da Guia |