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Humor-->Penico -- 08/08/2014 - 18:22 (José Luiz de Carvalho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

– É inacreditável o poder de um prego – disse Fernando, durante um breve intervalo em que nenhuma voz se ouvia no ambiente.

E o silêncio perdurou naquela mesa por mais alguns segundos, sustentado pela expectativa e a curiosidade de todos em escutar a frase que justificaria o respeito de Fernando pelo objeto em questão.

– Hoje vocês não estariam desfrutando da minha modesta presença – esclareceu ele – se o pneu do carro da minha então futura mãe não houvesse sido esvaziado por um prego que estava cravado em um sarrafo podre de madeira.

Embora alguns já se inquietassem pela ânsia em serem os primeiros a lançar um gracejo maroto, Fernando seguiu com a exclusividade da palavra e esclareceu:

– Uma bela senhorita, refém de um pneu murcho, às seis horas da tarde, em uma avenida de grande movimento, logo atraiu a atenção de inúmeros voluntários, em meio aos quais se encontrava meu pai. Ali se conheceram! Entre a troca do pneu e meu nascimento, transcorreram-se apenas dois anos.

– Foi amor ao primeiro prego – galhofou Abel, liberando, assim, os demais ouvintes para ilustrar, com outros trocadilhos, a história que Fernando insistia em contar.

– Meus queridos! – reagiu ele. – Quero esclarecer que o foco da minha exposição não é sobre um caso de paixão, embora ele também seja relevante, pelo menos para mim. Tento chamar a atenção para as formas como o acaso interfere inusitadamente em nossas vidas. E continuou:

– Desde que me contaram como meus pais se conheceram, eu passei a atribuir muito mais valor ao prego do que antes – contestou Fernando. – Hoje estou convencido que, sem ele, eu não teria nascido. Um brinde ao prego!

A brincadeira começou a agradar a galera. Tanto foi assim que, depois de algumas cervejas e antes de se despedirem, o grupo já havia entrado em acordo sobre o próximo a trazer uma história real, marcante, cujo encadeamento dos fatos remetesse a algum elemento decisivo no curso do processo.

– Uma camisinha! – foi logo revelando Nelson, quando se reencontraram na semana seguinte.

A turma de pronto reagiu, pois a história que ele seguramente contaria seria óbvia e, portanto, sem o charme do entrelaçamento que queriam explorar com aquela brincadeira.

Provavelmente, imaginaram todos, a dita cuja que seu pai usava certa noite teria furado e, em consequência, sua mãe se engravidou, blá, blá, blá... Faltava criatividade e ineditismo: primeiro porque um furo numa camisinha ou em um pneu são todos iguais, embora as consequências possam ser um pouco menos administráveis no primeiro caso. Segundo, alguém iria parir de novo, tornando o caso ainda mais monótono.

Nelson confirmou que essa era mais ou menos a história que ele pretendia narrar e, por isso, ela foi imediatamente rejeitada, sem louvor, pelos amigos. Ninguém brindou à camisinha.

Nas semanas seguintes, os participantes do jogo, preocupados com as vaias, buscaram ser mais cautelosos e criativos nas histórias que traziam. Uma das premissas era que também fossem verdadeiras.

E vieram muitas! Assim, o museu imaginário dos objetos fatais foi crescendo semana a semana. Tinha começado com o prego de Fernando, e já colecionava, entre outras, um liquidificador, três galinhas-d’angola e até um absorvente íntimo. Houve inclusive quem atribuísse seu sucesso profissional a um ar condicionado barulhento da repartição onde trabalhava, e assim por diante.

Nelson, que tinha ficado para a repescagem, depois do caso da camisinha, veio finalmente com uma história interessante, cujo protagonista era um penico. Assim que mencionou o nome do referido objeto, a galera, com mais respeito e expectativa do que da vez anterior, preparou-se para escutar sua narrativa. O elemento citado tinha um potencial enorme de gerar um caso interessante, tanto pela fonética da palavra quanto pela natureza de sua utilidade.

Entretanto, a frustração foi enorme, pois Nelson não se referia ao artefato de apoio noturno e sim ao ato de afinar, baixar o facho, esperar por clemência, enfim: pedir penico.

– Quinze anos atrás – disse ele –, fui injusto e egoísta com Márcia, minha namorada, e de forma categórica decidi abandoná-la. Meses depois, vendo que dera uma tremenda de uma mancada, resolvi recuperar o tempo perdido e reestabelecer meus vínculos definitivos com aquela a quem eu realmente amava. Muito mais do que uma parceira, ela se tornou a grande alavancadora de minha carreira. Talvez minha vida tivesse sido boa com outra mulher, mas certamente não superaria minha felicidade com ela.


A emoção tomou conta do ambiente. Embora não fosse um objeto real, os amigos consideraram a analogia interessante e antes mesmo que a unanimidade fosse atingida alguém se antecipou e bradou:

– Valeu!!! Um brinde ao penico do Nelson!!!

 

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