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cronicas-->Sinfonia -- 23/10/1999 - 12:00 (Renato Rossi) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ontem em casa parei um pouco no pátio e fiquei
ouvindo o barulho da rua. Não, não eram
automóveis ou ónibus, caminhões, buzinas,
britadeiras, campainhas, rádio, televisão, tiros
e tantos outros sons da vida moderna. Me refiro
ao barulho dos bichos. Aqueles sons que a gente
só houve quando quer. Normalmente não são
notados.

Quando não se tem aqueles barulhos todos e surge
um pouco de tempo para ficar quieto é possível,
sem nenhum esforço, ouvir por assim dizer uma
barulheira imensa. Na realidade trata-se de uma
sinfonia. São os barulhos dos bichos que estão
soltos por aí em árvores, galhos, gramados,
arbustos, em todo lugar. Bichos que a gente só
ouve, dificilmente os enxerga. A cigarra por
exemplo. Nesta época do ano aqui em Brasília,
elas estão em todas a parte, cantando como nunca.

Se no lugar em que mora, você não conta com este
privilégio e entende que a doceria francesa da
esquina não compensa a distància da natureza, de
suas raízes, não desanime nem se sinta diminuído.
Você pode imitar estes barulhos e reproduzir o
autêntico show da natureza mesmo que esteja no
décimo andar em uma avenida sem nenhuma árvore.
Mesmo quando a poluição é insuportável você pode
se sentir em uma mata, se não virgem, pelo menos
pouco frequentada. Com os ensinamentos abaixo
você vai verdadeiramente mergulhar em si mesmo e
voltar às suas raízes rurais, mesmo que você não
lembre a diferença entre uma galinha e um
avestruz. Não se preocupe, não se trata de novas
modas caipiras. Refiro-me à natureza de verdade.
A natureza natural. A natureza em si. E sua
sinfonia.

Vamos lá?

Vamos por partes. Vamos aprender antes os sons
básicos e depois combiná-los. Não se acanhe,
depois do ensaio todos vão gostar e poder
compartilhar com você este "sentir" a natureza.

Repita dez vezes: nhac nhac nhac - este é o
primeiro som.

Novamente, para ficar perfeito. Mas não um nhac
nhac burocrático. Feche os olhos, bote sentimento
e ritmo. A cada grupo de nhacs uma pausa um
pouco maior. Quando a pausa estiver muito
demorada, comece a diminuí-la. Depois repita o
esquema. Assim, na realidade você faz nhac
nhac nhac nhac nhac nhac
nhcac. Isto. Agora vá aumentando e diminuindo os
intervalos entre os grupos de nhacs. Muito bom.
Muito bom.

Tente novamente.
Legal. Aposto que já está perfeito.


Agora o segundo som básico: é zzzzzi com durações
variadas, ou seja: zzzzzi zzzi zzzzzzi zzzi
zzzzzzzzzzzi zzzi zzzzi. Note que a cada nova
duração, repete-se o zzzi básico. Ele é
importante pois serve de referência.

Repetindo então: zzzi zzzzzzzzzzi zzzi zzzzzi
zzzi zzzzzzzzzzzzzzzzzzi zzzi zzi zzzi zzi.
Cuidado para não dar ritmo de trem. O Trenzinho
Caipira já foi criado e o velho Vila não está
precisando de imitadores.

Muito bom. Muito bom. Agora então o último som
básico. Preste atenção:

ÚÚÚÚÚÚÚÚÚÚ - Note que não é como numa vaia. A
vaia é com ponto de exclamação. Aqui é ainda
mais agudo. Como em um silvo. Bem agudo. Como um
apito de trànsito quando contínuo. Quase como o
som do vento em uma esquina: úúúúúúúúúú. Este é
contínuo. Você fica silvando indefinidamente,
compondo o pano de fundo de nossa sinfonia..

Isto mesmo. Acho que está ótimo. Pelo que vejo,
você entendeu muito bem.

Bem, agora que você já domina os sons básicos
você tem duas alternativas. Ou repete sozinho
algumas combinações ou junta um grupo de amigos e
cada um se encarrega de um dos sons. Aí fica
muito melhor porque torna-se possível ouvir a
mistura dos sons básicos, justamente como ocorre
na natureza. Querendo bater os braços e sair
voando pode, mas cuidado para não ficar muito
fresco, nem subir muito alto. Ocorre que se o
pessoal para, você pode cair e se machucar.

Façam agora. Eu espero para ser lido até o final.

Ficou bom, não ficou? Sugiro ensaios de meia hora
por dia, por uma semana, até que o grupo atinja
um entrosamento perfeito. Depois é sair por aí
oferecendo às pessoas da cidade os sons da
natureza. Sugiro uma apresentação pública na
doceria francesa da esquina.

Quando você está só, em vez de combinar os sons,
talvez seja melhor você escolher um deles e
imaginar os demais. Assim você usufrui de toda a
beleza dos sons da natureza num experiência
individual e intimista.

Sendo de todo impossível atingir algo razoável,
sugiro um disco do Egberto Gismonti ou uma
passada lá em casa (ingressos a preços
promocionais em outubro - o ingresso dourado dá
direito a um coco gelado).

Em breve lançarei meu próprio CD com o legítimo
som das cigarras brasilienses.

Aguardem.

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