"Foi há tantos meses atrás
que nem me lembro mais
de que festa eu saía.
Não sei se era batizado,
casamento ou aniversário
nem por que tanto eu bebia.
Mas me lembro de todos os amigos
que estavam no local,
naquele enorme salão.
Sei que no final eu fui o motivo
de uma grande celebração.
Também sei que foi num fusca
que peguei uma carona.
Não me lembro da cor porque
no lugar só havia escuridão.
Muito menos quem era o seu dono.;
Chico, Edu ou João.
Também não sei quantos integrantes
haviam naquele veículo
onde adentrei sozinha.
Até hoje não sei quantas pessoas
cabem num fusquinha.
Fui logo vítima de um sarro
porque sentei-me no colo de um gordo.
Quem era barrigudo como um sapo.;
Vinícius, Carlinhos ou Veloso ?
Tudo começou antes mesmo
do veículo sair do lugar.
Os movimentos do desejo
tem tentáculos para o saciar.
Alguém puxava meus cabelos enquanto
havia um queixo barbudo no meu pescoço
e nas minhas coxas grossos lábios
que seriam do Gil, do Sérgio ou do Fábio.
Grandes bíceps me enrolavam
e nos meus ouvidos uma língua porosa.
Quem fazia cócegas na minha barriga,
Antonio, Paulinho ou Feitosa ?
Já estava tão tonta
que estava perdendo a consciência
quando tentei segurar-me em algo.
Me agarrei nos cabelos
de um peito muito cabeludo que seria
do Raul, Milton ou Geraldo ?
Ai que saudade daquele bigode
que passeava pelas minhas costas
e nos meus seios aquela enorme mão
que era do Nelson, Lucio ou Luizão ?
De quem seria o hálito de fumante
que não saía da minha boca
e aquele longo dedo no meu ânus ?
Eu mais parecia uma deusa grega
entregue a uma legião de romanos.
Em cada freada tudo se ajeitava.;
braços e pernas numa enorme alegoria.
Evitar até que eu tentava
mas já estava algemada pela fantasia.
Não sei o que era maior:
A vergonha, o desejo, a adrenalina,
ou aqueles grossos pênis
que adentravam a minha vagina.
O revezamento de membros era constante,
cada vez mais gostos que antes
em todos os orifícios.
Maior seria a vergonha do dia seguinte
por isso contei até vinte
e decidi me jogar de um precipício.
Então gritei: - Orlando, pára esse opala.
Alguém respondeu: - Meu nome não é Orlando,
nem esse carro é Opala, e mesmo assim
não posso parar por mais de uma razão:
Além do carro não estar mais andando
já fomos longe demais para voltar
e não sou em quem está na direção.
Dentro daquele carro
- misturado com cerveja e cigarro -
logo teve cheiro de sexo.
Quem seria tão bem dotado:
Francisco, Altemar ou Roberto ?
Finalmente desmaiei
depois que me alcançou o orgasmo.
Não sei o nome que falei:
Ai Ney, Francis ou Erasmo !
Não sei se o rádio estava ligado
mas ouvi anjos cantarem diversas vezes
antes mesmo de ir ao céu
conduzida, talvez, pelo Noel
que se deliciou no manjar dos meus deuses.
Acordei no meu quarto com uma
ressaca maior do que minha casa.
Não quis saber quem eram os cantores
daquele coro que me ardia em brasa.
Desta experiência não esqueceria jamais
nem deixariam as impressões digitais
que ficaram no meu corpo completo,
facilitando a identificação dos autores
daquela tortura excitante
que tanto gostei. Confesso.
Me lembro também que alguém
deu-me um beijo de despedida,
foi Alfredo, Agenor ou Carrilho ?
Depois de nove meses de esquecimento
o meu único sofrimento
é escolher o nome do meu filho."
Chico (Buarque), Edu (Lobo), João (Gilberto).;
Vinícius (de Moraes), Carlinhos (Lyra), Caetano (Veloso).;
(Gilberto) Gil, Sérgio (Mendes), Fabio (Junior).;
Antonio (Jobim), Paulinho (da Viola), (Chico) Feitosa.;
Raul (Seixas), Milton (Nascimento), Geraldo (Vandré).;
Nelson (Gonçalves), Lucio (Alves), Luizão (Gonzaga).;
Orlando (Silva).;
Francisco (Alves), Altemar (Dutra), Roberto (Carlos).;
Ney (Matogrosso), Francis (Hime), Erasmo (Carlos).;
Noel (Rosa).;
Alfredo (Pixinguinha), Agenor (Cartola), (Altamiro) Carrilho.
