Que eu não tenha a inocência das tilápias,
pois que não me quero perder-me
pela sedução dos engodos.
Que eu não tenha a malícia das cascavéis,
pois que não me quero temido
pelo rastejar nas tocaias.
Que eu não tenha a graça dos símios,
pois que não me quero enxergado
pela diversão dos trejeitos.
Que eu não tenha a tolerância dos asnos,
pois que não me quero montado
pelas cangalhas dos prepotentes.
Que eu não tenha o fingimento dos gatos,
pois que não me quero amado
pela hipocrisia da conveniência.
Que eu não tenha a ferocidade dos touros,
pois que não me quero sangrado
pela disparada da insensatez
Mas que eu tenha a mansidão vigilante dos beija- flores,
a esperteza preservadora dos corvos,
a sociabilidade altaneira dos papagaios,
a solidariedade desassombrada dos castores,
a afetuosidade fidedigna dos cães,
a valentia desbravadora das formigas.
E que sendo assim,
pois que assim há de ser,
far-me-ei homem sem renegar a minha animalidade,
permanecerei bicho, enfim,
sem que a desrazão me castre a humanidade.
Maceió, 22.01.2002
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