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Artigos-->O sentido da vida -- 10/03/2004 - 10:35 (Paulo Milhomens) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos








“Macaco ou clown, em monstruosa pompa de curvas setas estrelados, silentes, caminhamos pelo pátio dum asfalto escorregadio: silentes, caminhamos pelo pátio, e ninguém disse uma palavra”.

Oscar Wilde – Balada do Cárcere de Reading, Tomo IV, verso 54, publicado em 13 de fevereiro de 1898.





Existe cena mais insuportável que a do vexame público? Ou estou enganado quando as pessoas sentem-se reais e cruéis flagradas em situações cotidianas, sem amarras, quase indefesas? A grande dificuldade – ou melhor, a maior – do ser humano neste mundo atual, é encontrar-se, fazer de si um instrumento de rara beleza. Formosura que não apropria-se dos conceitos estritamente estéticos no homem, não indagando suas condições morais, estas sim, capazes de transformá-lo decisivamente em algo melhor. Não sou sociólogo, mas associo a Arte de modo que esteja próxima às outras ciências. Aliás, falando especificamente do teatro, considero-o como uma ciência vastíssima. Quando li o regulamento e decidi escrever esta carta, também percebi que fazer uma curta e enfandonha biografia de um longínquo jovem da região norte do país seria pouco eficaz. Chato, para ser sincero. Porém, redigir uma prosa de forma cuidadosa e explorando meus conhecimentos como um colunista ou colaborador de artigos pareceu-me ( intelectualite?) mais produtivo, pelo menos ao ator Paulo com muita evidência. Se defeito ou vantagem, nestas circunstâncias, prefiro assim. E assim vou, neste ultramar que o teatro tornou-se em minha vida. Como mencionei Wilde, parafraseando um belo e melancólico poema seu, as naus de minha vida assemelham-se ao Clown encarcerado de Reading e o arcabuz feroz da solidão, voluntária, dolorida mas gozosa, irritante. Sinto-me quase feliz, o teatro chegou até mim num momento decisivo, mal completara vinte anos. O meu maior problema é o dinheiro. Isso mesmo: valor capital para tudo é uma antítese na filosofia que encarei na frente do espelho. Se ainda estivesse na infância, o mágico e fantástico país de Alice não seria a maior provocação. Pelo menos na dolorida escola da pré-adolescência, vivendo em condições humildes ( meu maior tesouro!) e desejando ardentemente ser um artista plástico. No futuro, perceberia que ser artista em determinados momentos seria um exemplo clássico de liberdade, mas de uma prisão revoltante. Ser o herói menino prepara o jovem homem a sofrer com mais claridade. Menos infantilidade. Se ninguém diz uma palavra de afeto após uma longa jornada de trabalho artístico, a personalidade do artista pode até enlouquecer. Se não for humilde, claro. Esta é a verdadeira chave dessa maravilha chamada teatro. Como chegar o mais perto possível da arte? A humildade como disciplina é o primeiro passo, porque guiará os outros pés para sempre. É por isso que a verdade verdadeira guia o ato verdadeiro do ator. A verdade mentirosa no teatro é apenas um gesto melindroso repetitivo, causando a indiferença que a mentira proporciona nos outros. Pode ser o Jardim do Éden ou o Inferno de Dante. O teatro é meu objeto de culto, posso fazer disso um objetivo de vida, portanto não vejo limites. Mas uma jornada pelo mar onde não escolherei a ilha portuária, tampouco a tempestade tirana e oceânica que causará a incerteza do marinheiro ( ator, artista ) errante é uma coisa estranha. Descobri que para os homens de teatro o mundo torna-se pequeno. Por isso são grandes homens, sua grandiosidade resplandece no globo. Boal que o diga. E isso me parece familiar, mas quero conquistar o mundo aos pouquinhos, rasgando estados em turnês esplendorosas nas ruas, praças, escolas e palcos italianos. Meu grupo é mambembe, chama-se “DSTesudos”. Estranho, não ? Engraçado, sim, adjetivo correto. Aí que reside a ideologia, talvez mais cruamente. O grupo pertence a um projeto voltado para prevenção e conscientização sexual desenvolvido pelo MNLM – Movimento Nacional de Luta pela Moradia do Tocantins. O teatro entre as pessoas transeuntes é fantástico ! Sempre haverão 15 ou 30 para nos assistir – estes levarão a mensagem quase perfeita até suas residências. Me apaixonei ardentemente pelo teatro e hoje tenho muito medo dele. Tenho medo de amá-lo até o fim dos meus dias, não importando a hora, o espaço e o lugar. Se isso acontecer como já acontece, minha faculdade de História pode ir para o espaço. Quando atravesso os corredores da Universidade Federal do Tocantins, alguns comentam: “Lá vai o artista, parece um cara legal”.



Se em meu país as fronteiras geográficas são relativas ( não do ponto de vista sócio-econômico, claro! ), São Paulo é apenas uma gigantesca metrópole de 450 anos e pouco mais de 20 milhões de habitantes. O maior parque industrial da América Latina, a Babilônia das empreitadas européias no cone sul, bolsão de miséria imigrante, pode aderir à minha rota a qualquer preço, dependerá das oportunidades. Mas o que é uma oportunidade neste país? Principalmente quando falamos de Política Cultural? Ao mesmo tempo que a vida pode mudar numa questão de minutos, nada pode acontecer em anos... Pessoalmente, digo que se isso for um mistério aos artistas, a beleza da vida torna-se um vexame íntimo. Quero participar desse projeto pelo simples fato de não ter nada a perder. Sou jovem, solteiro, pobre e consideravelmente promissor, isso basta. Em relação à Arte, não quero me arrepender do que não fiz. O aspecto da Arte diverte minhas aptidões pessoais com mais eficácia que “programas” ditos melhores: entre uma encenação operística e um concerto de rock, fico com a primeira opção. Embora admire Robert Plant, ver o “Barbeiro de Sevilha” ou “Os Miseráveis” seria mais orgásmico. Se pudesse fundir as duas coisas, magnífico.



Eu acredito no Teatro. Não de uma forma piegas, amadora. Vejo-o como um mecanismo de transformação social profundo, quando utilizado por uma ideologia, rompedor de barreiras consideradas intransponíveis. O que antes parecia intocável, torna-se através dele, forma concreta em nossas mãos. Uma vertente realista e impressionista da vida, da sociedade. Nesta ótica, ser um grande diretor é a conseqüência de ser um grande ator. Mas isso é uma opinião pessoal, nessa carta testemunho pode não haver tanta importância o levante da questão. O que me leva a escrever essas palavras, de fato, é um desejo muito mais humano do que racional – viver definitivamente do Teatro. Entendê-lo em suas várias possibilidades, ser um ator do mundo talvez... Saber exatamente se aquilo que se lê, é o que se vive. Em tese, no teatro, isso não constitui uma regra. No final das contas, os erros e acertos são meus. Sinto-me bem agora. Grato a todos, aguardo gentilmente uma resposta.

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