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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->40. A REUNIÃO ÍNTIMA -- 02/07/2002 - 04:48 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Francisco apresentou Leonel aos recém-chegados. Deu-o como interessado nos acontecimentos que envolveram o cunhado. Entretanto, João desejou conhecer-lhe a convicção religiosa.

— “Estou” materialista, mas não assumo postura de “arrelia” quanto às crenças das pessoas. O que mais aspiro no mundo é ser respeitado. Para isso, respeito.

— Ouviu falar em Espiritismo? Em sessão mediúnica? Em evocação dos mortos?

— Claro! Até já iniciei a leitura de um livro...

Fernando completou:

— O Céu e o Inferno...

— Está gostando?

— Não pretendo expender opinião, para não ser injusto. Nem pra mais, nem pra menos. Está despertando minha curiosidade, pelo menos. Como disse a Fernando, vou ler até o fim.

— Está disposto, então, a acompanhar a reunião, sem interferir?

— Estou.

— Se pertencesse a alguma religião, pediria para repetir as preces habituais. Com materialista, jamais trabalhei.

Esteves, marido de Dalva, interferiu:

— Basta concentrar-se no que julga ser o mais honesto, o mais leal, o mais honrado sentimento humano. Quem ama a alguém no mundo, terá sempre ponto valiosíssimo a que dedicar o pensamento. Pense na esposa, nos filhos. Pense nas boas recordações que lhe deixou Jeremias. Se você não ajudar, também não irá atrapalhar. Com certeza, os protetores espirituais providenciaram para que tudo decorra da melhor maneira. Quando os encarnados iniciam a reunião, o ambiente já está preparado, no isolamento inevitável quanto aos seres maldosos que poderiam interferir. Seja bem-vindo aos trabalhos.

Fernando admirou a facilidade da exposição. Mais ainda, invejou a aproximação do casal no relacionamento espírita. Lembrou-se de Dolores, arredia... Também, fora ele quem desertara da religião que professavam. Teve curto frêmito de vergonha, mas ninguém pôs reparo em que estava alheando-se da conversa.

João assumiu a presidência dos trabalhos. Fez que Francisco trouxesse papel e lápis. Psicografia.

— Quem deseja escrever?

Dalva, o marido e Clara dispuseram-se. Fernando não sabia o que dizer. Francisco disse que participaria apenas psicofonicamente.

— Através da palavra falada, esclareceu para Leonel.

João preocupava-se com Fernando. Queria que tomasse parte ativa, mas julgava muito precoce atribuir-lhe função definida:

— Caso sinta a aproximação dos protetores, dê passividade. Mas espere que o guia lhe peça para falar. Não precipite qualquer participação. Sempre haverá claro indício de que é chegada sua vez. Acredito que estaremos bem orientados. Se assim for, fique atento para as imagens que se formarem em sua mente. O sentido da visão espiritual poderá auxiliar-nos a compreender os trabalhos em desenvolvimento, principalmente se Jeremias estiver em condições de comparecer.

Abriu um dos livros que trouxera:

— Se ninguém tiver nenhuma observação, poderemos começar.

Francisco foi encarregado das leituras, enquanto João acionava o aparelho de som, enchendo o ambiente de suave música sacra. Fernando reconheceu Bach.

O texto era extraído do Evangelho de Mateus. A obra aberta ao acaso, citava a expressiva passagem em que Jesus atendia a um centurião cujo servo estava muito doente. Realizara a cura a distância e estabelecera como causa a enorme fé nos poderes do Mestre:

“Senhor, não sou digno de que entres em minha casa; mas apenas manda com uma palavra, e o meu rapaz será curado.”

Aos poucos, Fernando foi “apagando”, sentindo-se envolver por suave dormência. Mal percebeu quando as luzes foram amainadas, permanecendo apenas uma lâmpada acesa no corredor de acesso ao quarto. Era o suficiente para os psicógrafos escreverem.

Antes de manifestar-se o guia de Francisco, Irineu, Fernando pôde vislumbrar que a sala estava cheia de entidades, entre as quais Tia Ana, Roque, Jeremias e diversos trabalhadores junto a cada médium. Desfez-se a visão, quando Irineu assumiu a palavra, pela potente voz do ex-militar:

— Meus irmãos, estejam na paz do Senhor! Os benfeitores familiares do amigo Fernando, reunidos com os protetores de Jeremias, resolveram dar atendimento às solicitações dos generosos corações. Entretanto, como os temas são de difícil explicação cármica, envolvendo procedimentos em cadeia durante várias encarnações, sirva-lhes a advertência de que devem agir em consonância com as aspirações de Jesus, quando trouxe o evangelho aos homens. Sempre haverá de ser o amor que propiciará condições para que se cumpram os desideratos com que se ingressa na carne. Pede o amigo que se lhe esclareça como trazer de volta ao lar a esposa. Não há que se impor nenhuma contrariedade a quem anseia viver livre dos compromissos antigos. É deixar nas mãos do Pai, querendo bem, respeitando, mesmo quando nos sentimos feridos no amor-próprio. Sabemos que o relacionamento está ameaçado, ainda porque nunca esteve, rigorosamente, dentro dos padrões humanos evangelizados pela cordialidade, pela mútua necessidade e pela compreensão.

Intimamente, Fernando manifestou a vontade de que se encerrasse a peroração. Entendera a mensagem. Doía-lhe a consciência, pois não cessavam de lhe passar pela lembrança as fugas para o carteado, para as corridas de cavalos, para as boates. Colhia o que plantara.

Irineu prosseguia:

— Haverá três mensagens escritas destinadas a esclarecer o tema da doença de Jeremias. Apenas a que Clara anotar é que poderá ser lida para conhecimento de todos. As de Esteves e de Dalva serão reservadas para Fernando e Leonel, a quem pedem os protetores que não comentem com outras pessoas. Não conterão o retrato definitivo da história real dos acontecimentos, mas serão suficientemente reveladoras das peripécias da vida. Respondendo à perquirição íntima de Leonel, Jeremias manda avisar que se sente à vontade para discordar de seu ponto de vista de que a pessoa não deve firmar conceitos existenciais por falta de clarividência. Diz-lhe que não há que se marcar passo ou perder tempo, se a pessoa estiver dotada de inteligência, sendo capaz de compreender os pensamentos abstratos. Diz-lhe também que está paga a promessa que fizeram um ao outro de se comunicarem, quando o primeiro desencarnasse.

Diferentemente de Fernando, Leonel estava muito desperto e pôde recordar-se do dia em que havia discutido com o cunhado. Nem tudo fora dito com convicção, estando ambos com seus copos de uísque. Mesmo assim, admirava-se de que Francisco pudesse ter conhecimento de algo que se passara apenas entre os dois. Há bastante tempo. Era ponto para ser averiguado.

Enquanto Irineu palestrava, João acompanhava a escrita dos três médiuns, providenciando a substituição das folhas preenchidas.

Fernando manifestou o desejo de voltar a divisar Jeremias. Queria saber se estava capacitado a lhe enviar mensagem visual.

Jeremias amparava-se em dois atendentes. Estava bem, lúcido, interessado nos trabalhos. Fez-lhe sinal de que sentia fraqueza e de que estava com saudade. Fernando compreendeu que lastimava ter partido tão cedo. Não se falavam mas entendiam-se perfeitamente. Foi então que Jeremias passou a Fernando a sensação nítida de que deveria amparar-lhe os filhos. E a visão se desvaneceu, como se o esforço tivesse sido demasiado.

Calara-se Irineu. Francisco se recostara na cadeira, com os olhos fechados. Parecia dormir. Fez-se silêncio. Ouvia-se somente a bulha dos lápis. Clara suspendeu logo a escrita. Esteves ficaria mais dez minutos escrevendo. Dalva se estenderia por mais cinco além. Quando terminou, João assumiu a coordenação dos trabalhos. Agradeceu aos benfeitores, orou ao Pai e rogou aos presentes que mantivessem elevado o nível de concentração, pois as energias desgastadas lhes seriam recompostas, através de seu magnetismo.

Fernando percebeu que João iria dar um “passe” em cada um. Contudo, o coordenador limitou-se a se concentrar em silêncio. Haveria o que ver no plano da espiritualidade? Não conseguiu, porém, sentiu forte empuxo mental, como se algo não lhe estivesse indo bem no pensamento.

“Acho que não devo ser apenas curioso. Devo aprender a colaborar com a imantação, para que os trabalhos mediúnicos se realizem a contento. Desculpem-me, por favor!”

Ficou sem saber se a manifestação repercutira favoravelmente. A verdade é que melhorou, despertando, paulatinamente, para a realidade material. Lembrava-se de tudo o que vira e ouvira. Regozijava-se internamente.

Quando as luzes se acenderam, estava escurecendo. A sessão durara pouco mais de quarenta e cinco minutos. O relógio da sala bateu seis vezes.

João recolheu as páginas e passou-as a Fernando, reiterando a recomendação do guia espiritual.

Leonel quis saber se alguém se lembrava do que escrevera. Dalva tinha vaga idéia. Esteves nada sabia. Clara só se recordava de que compusera versos.

— E Francisco?

— Como sempre, se não me contarem o que se passou, vou ficar na ignorância.

Fernando abriu a folha de Clara, pediu permissão e leu em voz alta:


A sigla da doença misteriosa
Instala-se na mente do coitado,
Deixando-lhe a noção que foi errado
Supor que, nessa vida, o mal se goza.

Apenas por ficar posto de lado,
Mantém seu asco pela minha glosa,
Ou julga ser bonita e poderosa,
Retendo só o som melhor formado.

Conheço uma pessoa que sofreu
O trágico destino da doença,
Morrendo muito cedo, porém, deu

Devido seguimento para a crença,
Ouvindo as preleções do Bom Judeu:
Razão que justifica a benquerença.


Não atinaram com o acróstico. Desgostaram-se do soneto, que não refletia direito seus sentimentos em relação ao que entendiam como positivamente poético. Faltava um título. Faltava um nome de relevo. Mas evitaram tecer comentários. O autor ou autores estariam por perto e a médium poderia magoar-se.

Dentre todos, Leonel era quem se mantinha mais quieto. Fora surpreendido pela seriedade da comunicação e pela eficácia das respostas às questões íntimas. Evitou interrogar as pessoas. Conversaria mais tarde com Fernando.

João exultava. Uma poesia. Era a primeira vez que tal ocorria em sessão por ele presidida. Pegara a folha e não se cansava de ler. De repente, exclamou:

— AIDS, AMOR COM DOR!

— Como?

— Vejam aqui. As iniciais: AIDS AMOR COM DOR.

Fora encontrada a chave do tema. Que conteriam as outras mensagens?

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