O que seria da faxina, como trabalho formal
Se não houvesse cinzeiro e poeira na sala do patrão
O banheiro a socorrer seu descarrego boçal
Os clipes e bolinhas de papéis espalhados pelo chão
Um tapete amarrotado, pronto para ser lavado
E, às vezes, até um travesseiro com fronha
Onde ele costuma se deitar bem acompanhado
E as garrafas vazias que sobram da inconha
E a lata de lixo, cheia de papel pela máquina picotado
Principalmente, no final do mês, por causa da folha
Época de pagamentos é que lixo fica mais amontoado
É quando ele faz conta de chegar pra sair da rolha
A pesquisa que tem que ser feita no carro
Pra tirar os cabelinhos compridos da loura
E o vermelho do batom, após o belo sarro
Mais parece um serviço de grande lavoura
E o carango tem que brilhar e ficar sem perfume
Afinal, ele tem que entrar nele sem deixar vestígio
Todo mundo sabe que a mulher dele tem ciúme
Mas, só pra acobertar seu romance com o Aprígio
Quem da faxina é e já faz tempo de casa bastante
Fichado com carteira assinada, quase aposentando
Sabe que sabe, mas finge que não sabe, triunfante
Não queixa do pano e nem de vassoura se amando
(Com os cumprimentos do Tim, crente em quarenta por cento,
filho da aposentadoria e servo da complementação previdenciária)
— Amém!
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