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Poesias-->MZXPLX - Dando a cara ao tapa -- 26/01/2002 - 13:08 (diogo grassini ferreira) |
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MZXPLX - Dando a cara ao tapa
desculpe-me se esse arquivo é longo demais, mas não tenho uma auto-crítica
boa o suficiente para barrar todos poemas ruins que quis pôr aqui. Leia
e diga-me o que acha.
A fama dura tanto quanto a digestão...
Caia no gosto do povo.
Caia na boca do povo.
Entale-se na garganta dos mais resistentes.
E no dia seguinte,
Invariavelmente,
Você será merda.
O dia bonito
Há tempos atrás, o sol agigantou-se
Tão vermelho quanto uma propaganda comunista.
Um decreto governamental instituiu o guarda-sol
O guarda-chuva, o guarda-costas e o guarda-livros.
Hoje, é o sol, sofrendo de icterícia, que decreta:
-Protetor solar ou câncer de pele!
*Nem tão impossível, nem tão absurdo...
Tu moras aqui?
Pesar coma?
Câncerteza!
*A felicidade
Um pulmão sem manchas.
O cabelo crescendo.
Não ter que tomar remédio.
Porque,
enquanto não chega a morte,
a felicidade é a cura.
*Você já passou por isso...
Chegar na sala de aula
Só os SEUS amigos não estão
Você fica procurando
Mas todo mundo está conversando
Você não quer ficar sozinho
Por isso vai embora.
E a garota amiga
Está passando por uma fase muito díficil.
De novo.
Uma fase que a impossibilita
de ver algo além da espinha
na ponta do seu nariz.
E a turma toda
Está longe, ocupada
Passando de ano
Passando lá de longe
de você.
Que já passou do ponto.
Todo dia, você
Você
Tem algo pra fazer
Com você
Pra ver se você fica melhor.
E você pensa que
Talvez
Fosse melhor ficar sozinho.
Sem você.
*Qualquer coisa num quadro de rodas
Carros costumam estabelecer diálogos rápidos.
Às vezes, passa um pneu cantando uma música apressada.
A buzina propõem um enigma: Decifre-o ou corre.
Atropelam-se faixas de trânsito, de misses, tudo morre.
As motos são muitos esfregadeiras, nariguentas
Embrenham-se por entre nesgas dos entre-carros
Chocam-se nos para-brisas. Brisa sangrenta no para-choque.
Esses incidentes infelizmente não são reatropeláveis
Entopem-se carros em ruas desertas num mar de carros.
Trazendo da memória brequeLândia da vagareza.
E, com tanta roda parada, cria-se a paranóia
De que a volta do mundo já não é mais rodada.
O tempo, o calor, tudo etc. faz com que os carros se odeiem.
Até porque
Carros costumam estabelecer diálogos rápidos.
Os carros perdem a compostura no meio das multidões,
Enparadosgarrafados desmontam-se em palavrões.
Num vai-que-breque vrum-não-foi
Entre se pisam, se afobam chuviscos
Limpa-vidros acenando num descompasso afogado.
Tão pouca gasolina num motor bebâdo
Que já soluça e ameaça revolver.
Fica no desespero o motorista,
Tão solícito quanto o chaveiro
Que quando muito acerta-se com a porta.
Pobre peça de carne desamarrotando a camisa
Tentando pensar em algo que rode
As engrenagens de seu cérebro engarrafado.
*Homenagem vergonhosa a Carlos Drummond de Andrade (perdoem-me!)
Na ida, tinha um pedinte no meio do ônibus.
Na volta, no meio do ônibus tinha um pedinte.
O que eu gostaria é
Que passasse um ônibus por cima do pedinte.
Entretanto, no dia seguinte,
no meio de ônibus estaria outro pedinte.
Eles sendo falantes e eu, ouvinte.
*Similaridades
O bom da vida é:
Ou indolor,
ou in dólar.
Vazio Singelo
Fui a cozinha.
Poderia haver alguém lá.
Luz ligada.
Mas não.
Só estava lá
A luz ligada.
só.
Como não havia ninguém lá.
Apaguei
A única presença que lá estava.
só.
Comparação
Deuscreve ser topolíneas tortas.
Presente do Saci
Um dos patins nem saiu da caixa.
Riqueza
Todos dormem.
Era o momento que ela esperava.
Levantou-se e centralizou a casa.
Estava há muito esperando por esse momento.
Acordada de cabeça no traveseiro.
Todos dormem
Ela dança, ela canta, grita
Silenciosamente.
Mais que tudo...
Ela possui!
Mas,
Na expansão demasiada de uma pirueta,
A recém-coroada rainha derrubou um copo
E o feitiço quebrou-se.
Também sou assim
Se dependesse de mim,
Eu acabava com essa putaria de cigarro.
Fala sério...
Que sensual é ter a porra dum câncer de pulmão.
Acredite em mim,
Eu sei do que eu stou falando.
Cerveja...
Péssimo sabor, grande comerciais.
Estou preso àquelas deliciosas
Mulheres...
Sereias...
Comerciais criativos...
Cerveja!
Vêem a piedade que guardo às piadas?
Ai, ainda mato um publicitário...
Gárrulo
Caros colegas,
Poetas, poetisas, poetastros, poe-piegas...
Vôo.
Pouso num galho arborícula.
Fico de longe, olhando seus ninhos,
Vejo-os alimentando seu poemas recém-nascidos.
Sou miúdo.
Não me notam o marrom tirante ao vermelho sarapintado de azul, preto e branco
que consta na minha designação
facilmente encontrada no Aurélio.
Gárrulo.
Belicoso.
Onívoro.
Cauda longa prum corvídeo.
Que me importa isso?
Ocupado me encontro
Praticando a antropofagia incestuosa
De irmão que come irmão,
Devoro seus vossos poemas.
Acertei-os com palavras duras.
Meio vivos, meios-termos.
Mastigo suas palavras
Tão mal-empregadas.
Mais que crítico,
Sou um gárrulo.
Menos errante do que um erro.
Morte no poema
Dobre a língua antes de recitar a morte.
Cale-se um instante antes de dizer que o poeta morre a cada instante.
Morte mata.
Já sentiste a expectativa de morte?
Já sentiste a expectativa de vida?
Mais cedo ou mais tarde ela virá.
Não queira ser aquele que a convidou.
*Irremediável poeta
Mentira.
Isso não é poesia,
É antes um desabafo.
Sou poeta?
Irremediável?
São tantos remédios.
São cápsulas, xaropes, pomadas e - os nunca admitidos - supositórios.
São dores queimações inchaços choros e apelos pra Deus
Às vezes sai uma reza
Dolorida como a ocasião.
E onde fica a poesia?
Na espetada da agulha?
Não. Não sei onde ela está.
Devo tê-la engolido junto de algum remédio.
Que os médicos receitariam para me ajudar?
Qual transfusão? Qual cirurgia?
A inspiração bloqueada pelo coágulo.
Com uns pensamentos restando no conta-gotas
Pinguei as últimas lágrimas nesta última poesia.
FIM
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