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Artigos-->Nascemos Iguais -- 02/03/2004 - 15:52 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
NASCEMOS IGUAIS

(por Domingos Oliveira Medeiros)







Nascera como qualquer criança. Envolto em sangue, pinças e outros materiais afins. O cirurgião fez a desinfecção de praxe. Era um menino. Grande e bastante chorão. Sinais de que seria manhoso ao crescer. O pai não se continha de tanta alegria. A mãe, ainda derramando lágrimas, fixava o olhar terno para o seu bebê. Apesar de o rosto ainda amarrotado, indecifrável, e os olhos quase fechados, a mãe e o pai o achavam lindo.



Passaram uma vista geral pelo bebê, para verificar se estava tudo norma. Estava. Os médicos balançaram com a cabeça dizendo que sim.



Não havia, aparentemente, nada de anormal. E o menino e a mãe receberam alta. E foram para casa, levando o milagre da vida. E muitos planos para o futuro daquela criança.



Em casa, começava a luta da mãe. O menino chorava muito. Mamava bastante. Até ferir o seio da mãe. Que não se importava com isso. Achava até bom, pois o leite materno é importante para o crescimento das crianças; palavras que lhe foram ditas, repetidas vezes, pelos médicos, enfermeiras e nutricionistas.



Noites sem dormir. Troca-troca de fraldas. Centenas de milhares. Urinadas e borradas. Uma indústria que funcionava dia e noite. Que produzia choros pela madrugada. E só se calava quando o pai ou a mãe o colocava no colo. Ou nos braços do pai. Que passeava pelo quarto. Sonolento, mas com a sensação do dever cumprido. E preocupado.



Preocupado com o dia de amanhã. Que já se anunciava com seus primeiros raios, invadindo as brechas de uma janela.



Tinha que acordar cedo. Mas isso não parecia ser o problema. Já estava acordado. Era só trocar de roupa e ir para o trabalho. Embora cansado.



E assim o menino foi crescendo. Até que um dia a mãe achou que ele tinha um defeito. Sua mão era muito grande. As duas. Mais do que ela considerava normal.



E conversou sobre o assunto com o marido. Que não se impressionou. - - Nada disso! Mãos grandes é sinal de coisa boa! Será um grande pianista! Violonista ou um jogador de basquete! Quem sabe um grande goleiro?



E a mãe acabou concordando com tudo aquilo. E o menino virou adolescente. Começava outra fase de sua vida. O menino não gostava de estudar. Seu negócio era passar o dia jogando conversa fora. Batendo papo com os amigos. Tinha boa oratória. E muitas histórias para contar.



Vez por outra, pulava os muros das casas dos vizinhos para roubar frutas. Ou passava longas horas jogando bola de gude com os colegas. Que reclamavam dele: não sabia perder, e era traiçoeiro no jogo. Fazia de tudo para sair vencedor.



Assim, à medida que crescia, mostrava sua verdadeira personalidade. Não sabia perder. Fazia de tudo para sempre sair ganhando. Qualquer vantagem o atraia. Até nos jogos de brincadeiras.



Soltando pipa, sempre queria colocar a sua mais longe e acima das dos demais companheiros. Tinha a mania de liderança. O que, aliás, não era de todo ruim. Não fosse sua preguiça para estudar. E aproveitar seu talento.



Até que virou um homem, como se diz. Mas não gostava de trabalhar. Resolveu então dedicar-se à política. Parece que tinha encontrado sua verdadeira vocação. Rapidinho, chegou a vereador, deputado estadual, federal e senador.



Ocupou vários cargos em muitos ministérios. Fez amigos de montão. E alguns inimigos, também.



Hoje eu fui visitá-lo. Na cadeia. Na condição de seu amigo e de seu advogado. Mão grande: este era o seu apelido; tinha se envolvido em vários processos de corrupção.



Indiciado em várias Comissões Parlamentares de Inquérito. Saiu imune de muitas delas. Mudou de partido várias vezes. Andou uns tempos licenciado. Teve seus direitos políticos cassados.



Mas, desta vez, foi pego em flagrante. Com a mão na botija. E não teve jeito. Acabou sendo trancafiado.



E eu nem sequer podia lhe fazer a promessa de que em breve ele estaria solto. Logo ele, que nunca acreditou em promessas. E fizera tantas!...







Domingos Oliveira Medeiros

Do livro do autor "Sonhos & Pesadelos"

Reproduzido em

02 de março de 2004





























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