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Poesias-->ENCANTOS DO COTIDIANO -- 23/01/2002 - 16:10 (carlos roberto gutierrez) |
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São estes pequenos
singelos gestos
São estes belos de afeto
resíduos esparsos de ternura
que ainda se espalham
e se encontram
em meio aos dejetos
no seio abjeto dos incontáveis insetos
que infestam a cidade
tal qual uma borboleta
súblime sonho
que voa e resvala
sobre as paredes frias e desplacadas
da sórdida realidade.
São estes ligeiros acenos
palamas de mãos estendidas de bondade
São estes sinais precoçes de saudade
o pavor de estar ou ficar só
o resmungar a alterar radicalmente a fisionomia
o sentir-se cobaia da alquímia depuradora da melancolia
e o medo de por ela ser envolvido e tragado
a ansiedade de chegar
partir re par tir
construir d e s t r u i r
reconstruir
reencontrar
o teto
de transformar as abstrações
em formas e figuras concretas
sentir o calor
que emana o velho lar
redescobrir
a cama o colchão aconchegante
a manta confidente
e aproveitar
tirar
todo o proveito do leito
e extrair
das poucas horas de sono
deste passageiro abandono
imagens de um encantador sonho
até despertar refeito
no bocejo das horas
do incansável metódico tempo.
São estes pequenos atos
enraigados
perfeitamente integrados ao cotidiano
pactos urbanos
o gosto o aroma forte do café encorpado
a baforada deliciosa do primeiro cigarro
o tilintar das xúicaras
o sutil esbarro nas generosas coxas
nos delicados seios
e aconchegantes nádegas da mulher amada
e de remate
um beijo na fronte
todo requinte no preparo
para um novo disparo
num alvo invisível
Novamente
o corre-corre
o lufa-lufa diário
o penoso itinerário
alternado em õnibus e subúrbios
e apressados passos entre eles
conhecidos e estranhos
a atender o ritmo normal da cidade
e ocultar a ovelha negra
em que meu ser habita
e acompanhar o servil rebanho
Subterfúgio
Carlos Roberto Gutierrez |
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