E as tais bananeiras estavam lá novamente, conforme o vento batia as cabeleiras das árvores inventavam o novo canto e derrubavam quaisquer tentativas de acordar daquele sonho imaginário, é bonito quando não se tem pressa de viver caminhos, é melhor deixá-los acontecer. Dos tantos momentos dessa narrativa, me passou agora pela cabeça a forma tão distante do homem diante do computador rebuscando palavras nesse caleidoscópio do teclado, chega a ser engraçado, o jeito solitário que os grandes meninos poetas têm de colher flores das árvores das palavras e dos sonhos, como se o tempo não tivesse pressa de tragar tudo o que vê pela frente, há gente que sonha de olhos abertos. São de medo os olhos de quem nos vê, abraçando todas as pessoas amigas, devolvendo sorrisos, dando a mão ao mais velho, elogiando as mulheres.
Outro dia estava almoçando em um restaurante da cidade quando de repente adentrou o local um casal de sexagenários, cabeças já encobertas pela neve dos anos, corpos curvados pela longa jornada cumprida, sentaram-se em uma mesa ao lado da minha e eu atento que sou as coisas ao meu redor e também porque o ambiente pequeno que era, não permitia um grande distanciamento entre as mesas, era inevitável não se ouvir o que se falava ao lado.
O garçom os atendeu e eles pediram suas bebidas e fizeram o pedido do prato que queriam e ao serem trazidas e servidas a senhora pediu mais gelo porém o garçom não percebeu o seu pedido e ignorou. Mas eu não ignorei e ao passar por mim tratei logo de falar com ele acerca do pedido da senhora e ela ao ouvir que eu estava chamando a atenção do homem para o pedido feito por ela, não acreditou e me pegou de surpresa "Não! Não é possível, um jovem prestando a atenção no que um casal de velhos pede em um restaurante agitado como esse, isso não é real!" , e ela perguntou meu nome, nos apresentamos mutuamente e ela de novo desferiu novo golpe "Meu filho você é casado? E quando eu respondi que era e há 19 anos ela foi a loucura e mandou assim "Tá vendo só meu velho, falou ao marido que se resumia a rir de tudo com aquele ar simpático de homem que já viu muita coisa nesse mundo, esse moço não é real, é virtual, se liga em velhos, é casado. Me responda meu filho, com a mesma mulher é? E quando eu respondi que sim ela se levantou e disse: "Você não é desse planeta!".
E o vento lá de fora do mundo dos sonhos insiste em soprar por aqui, não há lugar para atar sentimentos e igualdades, os homens perderam o referencial dos limites da honradez e da decência, perderam de vez a vergonha e não têm medo de nada, há rancor em cada gesto, em cada frase dita no dia a dia. Onde estão os bons momentos de canções e sorrisos, onde anda aquele jeito alegre e ordeiro de viver os dias, onde andam os amigos sem interesse, onde andam os abraços sinceros, onde andam os carinhos, onde andam os corações transbordantes de afeto e interesse pelo semelhante, por onde andam?