Pomar (reminiscências) 1*
Prezado amigo Francisco, nunca me esqueci: num final de expediente, levo-o ao pomar e falo das dificuldades que encontrava para conservá-lo. Enquanto andávamos e víamos algumas frutíferas, escutava-me e fazia algumas sugestões, além de apoiar o meu projeto.
Hoje o pomar está quase acabado: um sonho de que acordei.
A crônica abaixo, que está no meu livro Saudade, encerra, de maneira simples e sentimental, o trabalho de tentar contribuir, despretensiosamente, com um tema de interesse do governo ferderal. Seria uma gotinha de água no mar; entretanto, lembro-me de que os oceanos são formados de gotículas que se avolumam.
Há duas personagens principais: uma, Dr. X, fictícia; outra, real, Dr. F (é o amigo).
Pus também no meu site, Usina de Letras, com o título Pomar 1, em cartas. Teve até hoje 446 visitas, Embora o tema não seja do agrado pleno dos leitores, teve até hoje 446 visitas. Foi escrita em 16/11/2005 e inserta no site em 21/05/2007.
São passagens imorredouras e bonitas que a vida de trabalho na ECT, há quase 40 anos, pôde proporcionar-me; principalmente, quando se tem, como sempre tive, chefes e colegas amigos.
Com a estima e o abraço do
Benedito
Pomar 1 (*)
Estimado Dr. X:
Lembrei hoje deste assunto. Do tempo em que eu era muito bobo, porque bobo ainda sou. A mensagem, encaminhada à alta autoridade, não teve resposta.
Assim me dirigi:
Prezado Fulano:
Primeiramente, muito grato por todo o apoio à atividade que desenvolvo a que chamo Pomar da Universidade, uma vez que, silenciosamente, outros construí no SBN e em algumas localidades em que morei.
Conversando com o Dr. F e queixando-lhe dos obstáculos que tenho encontrado ao longo desses 17 meses para manter o Pomar, sugeriu-me ele contratar um estagiário de Botânica ou disciplina compatível para acompanhar cientificamente esse trabalho.
Conveniente será que ele fique subordinado a nós, para que possamos sugerir, controlar, rever e pôr em exercício todos os itens que disserem respeito à perfeita execução desse projeto.
Isso não implica a dispensa dos serviços do jardineiro e de seus auxiliares, os quais terão de se reportar ao especialista e fazer somente o que ele recomende.
A contratação do estagiário se justifica:
a) o terreno é extremamente ruim (nem grama consegue sobreviver), ponho – com recursos próprios – adubos vários, o que têm feito algumas frutíferas prosperar (cito apenas as que já produziram: amora, figo, gabiroba, romã, mamão, pêssego, pitanga, romã, uvaia);
b) é necessário alguém de conhecimento específico, malgrado o esforço da equipe de jardinagem, para tratar mais cientificamente o pomar;
c) a pequena despesa que tiver com a aquisição de mudas, de adubos, pesticidas e pagamento do trabalhador, além de poder ser abatida na declaração de imposto de renda, representa investimento de retorno inquestionável;
c) os órgãos externos de fiscalização, quando virem esse pomar bem tratado e progressista, hão de prestigiá-lo, sem dúvida.
Nada estou pedindo nada para mim (nem nunca o fiz nesses mais de 50 anos de trabalho), até mesmo porque não desconheço que a vida útil se está indo inexoravelmente e que também as coisas não se pedem, conquistam-se. Não há sequer resquício de vaidade: só uso o meu nome quando tenho de fazer cheques para pagamento dos insumos utilizados no pomar, no qual plantei (e estão sobrevivendo) 133 árvores frutíferas distribuídas em 35 modalidades. Assim:
Abacate, abacaxi, acerola, abiu, ameixa, amora, banana, cacau, cajá-manga, caju, cagaita, camu-camu, canela, cereja, figo, gabiroba, goiaba, graviola, laranja, lechia, limão, maçã, mangaba, mamão, pêssego, pinha, pinhão, pitanga, romã, sapoti, serigüela, tamarindo, tangerina, e uvaia.
Lembro que a preservação do meio ambiente, meta do Governo Federal, também há de agradecer.
Desse modo, com o meu pedido de desculpas se não for conveniente, solicito a fineza de apreciar esta exposição.
Atenciosamente,
___________
(*) Brasília, DF, 16/11/2005.
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