A que ponto uma pessoa pode chegar a se humilhar
para continuar vivendo uma ilusão
Sobrevivendo
Vegetando
Vivo desamparada de qualquer dignidade nessa lida
de dizer qualquer coisa incoerente
Inconseqüente
Indecente
Sobrevivo da esmola que ora apanho na calçada
da avenida molhada do esgoto entupido
De detrito
De lixo
Até meu suor já não cheira nem fede misturado
aos odores da fumaça dos carros no asfalto
Esburacado
Rachado
E meu sapato furado não tem salto nem graxa
preta nem branca nem verniz
Sou feliz
Por um triz
Se não fosse tanta conta e imposto a pagar talvez
seria dona do meu nariz
Mas o gosto de viver é doce como laranja passada
comprada no final da feira
Pela faxineira
Sem eira nem beira
Mas ainda bem que tem quem quer nessa vida
Ser gente trabalhadora