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Artigos-->E se DEUS Não Existisse? -- 10/02/2004 - 16:29 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


E Se Deus Não Existisse?

(Por Domingos Oliveira Medeiros)



Por incrível que pareça, e apesar das evidências, ainda tem gente que não acredita em Deus. A trajetória do idealismo dos homens, desde Descartes até Marx, foi a caminhada do homem rumo à auto-suficiência e ao excesso de confiança no poder ilimitado da razão. Chegaram, inclusive, ao absurdo de achar que ele, o homem, era o próprio Deus. Que tudo podia. Até mesmo rejeitar qualquer limite que lhe fosse imposto, frente à obsessão de compreender e dominar o mundo.



As religiões e as crenças proliferam; e, hoje, já são muitas. Para todos os gostos e estilos de vida. Mas Deus continua único. Onipresente. Onipotente. E não faz distinção entre as criaturas e suas religiões. Nem entre os que se julgam ateus ou agnósticos. Pois Ele é bom e misericordioso.



Para Ele somos todos irmãos; com as mesmas chances de seguir os caminhos traçados, há pouco mais de dois mil anos, pelo seu filho unigênito, Jesus Cristo, que se fez carne e veio à terra para salvar a humanidade de seus pecados. Em troca de uma aliança. E para nossa redenção.



Caminhos que são os melhores; porque eternos. Porque abençoados. É uma questão de fé. De escolha. E não poderia ser de outro jeito. Deus não se confunde com um ditador terreno que impõe sua vontade pela força. Pela opressão. Pelo terror. Ao contrário: concedeu-nos o “livre arbítrio”, deixando-nos livres e independentes para fazermos nossas próprias opções. Inclusive, optar por desmerecê-lo. Como fazem alguns de nossos semelhantes. Provavelmente por ignorância. Por egoísmo. Ou por vaidade.



A propósito, Dom Rafael Llano Cifuentes, Bispo auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro, em um de seus melhores livros, “Deus e o Sentido da Vida”, nos dá algumas explicações acerca de alguns dos motivos pelos quais algumas pessoas desacreditam na existência de Deus. Ele parte de algumas premissas.



A primeira delas, a de que



“tomamos consciência de que o homem não se resigna a morrer e que esse instinto de conservação animal tem, no homem, uma expressão muito mais profunda: o instinto de eternidade racional. Cada um de nós - expressado de uma forma ou de outra – quer ser feliz para sempre. Isto, porém, é impossível ser atingido sem Deus. Se Deus não existe, os seres humanos, os seres mais perfeitos do planeta terra, são, ao mesmo tempo, os mais infelizes: nasceram para a frustração e a morte. O homem sem Deus é, por definição, um ser frustrado.” (...) A própria criação reclama clamorosamente uma causa suficiente, um Criador. Não se pode explicar a realidade atual como conseqüência de um processo evolutivo que foi, por acaso, formando a ordem e a harmonia do cosmo e a perfeição de bilhões de seres vivos.”



O autor cita, ainda, como motivos para a descrença em Deus, motivos de ordem intelectual, de pessoas que absorveram um tipo de formação científica que “pregava a religião como coisa do passado”.



“O iluminismo racionalista do século XIX introduziu-se no século XX através do positivismo de Auguste comte (só é acreditável – afirmava – o que se possa aprender por uma experiência sensível); do evolucionismo materialista de Darwin (a existência atual das espécies – sustentava – é regida por leis evolutivas mecanicistas); do pansexualismo de Freud (o comportamento humano – pontificava – é fundamentalmente uma conseqüência derivada do instinto sexual); e de tantos outros que, de uma maneira ou de outra, ignoravam Deus ao tentar explicar a razão de ser do universo e do homem. Até tal ponto que permitiram a Nietzche dizer: Deus morreu”....



A bem da verdade, a tragédia humana consiste em procurar a felicidade onde ela não se encontra. Voltaire (sabidamente pessimista e anticristão) foi quem definiu com maior precisão essa realidade: “Todos desejamos conseguir uma vida feliz. E no final temos que resignar-nos simplesmente como suportá-la”.



E continua o Bispo Rafael Cifuentes, referindo-se a ilusória felicidade sem Deus, que alguns homens acreditam:



“Como tem experiência a cada instante do caráter fugitivo do prazer presente, que se lhe escapa como a água entre as fendas de um recipiente quebrado, cria ilusões para o futuro, (...) Seu desejo de felicidade fá-lo sonhar, como aos doentes febris, mil fantasias; deposita suas esperanças num futuro maravilhoso para consolar o seu tão insatisfatório presente. O homem é um novelista incorrigível. Tece com sua imaginação uma rede de devaneios e se deixa pescar por ela, como se deixa envolver no enredo de um romance de felicidade onde ele é o protagonista vitorioso. Constrói com sua fantasia o que deseja vir a ser e depois acredita que realmente acontecerá aquilo que imaginou. Esta imaginação o engana e o alegra ao mesmos tempo, como uma miragem”.



Mais adiante, observa o autor



“O cristianismo é divino e humano como o próprio Cristo também o é. E não seria humano se somente valorizasse o espírito, se não penetrasse a pessoa integralmente considerada, se desconhecesse as exigências profundas dos valores humanos, temporais, físicos, sensíveis, afetivos, sexuais e intelectuais. O cristianismo nunca quer ser considerado uma religião da “alma”, senão como uma religião da “pessoa”, formada por alma e corpo. Não oferece somente uma doutrina de “perfeição interior”, nem tende exclusivamente a criar uma atmosfera propícia para o desenvolvimento do sentimento religioso, nem apresenta, simplesmente, soluções para uma vida futura, “ultra-terrena”; compreende também os legítimos direitos da carne e dos sentidos, das realidades terrestres e naturais. É uma doutrina profundamente humana, que eleva o homem até o limite do divino. Tudo se reduz a algo sublime: fazer do Cristão um outro Cristo (Deus e Homem perfeito)”.



Persiste, portanto, conforme nos lembra o autor do livro até aqui comentado, as eternas perguntas: quem sou? De onde venho? Para onde vou? O que nos leva a questão principal sobre a maneira de encarar tais indagações. “Estes interrogativos – nos diz João Paulo II – constituem a expressão mais elevada da natureza humana; por conseguinte, a resposta a eles mede a profundidade do seu empenho na própria existência. Em particular quando o porquê das coisas é procurado a fundo”.



Ao que o autor do livro acrescenta: “Quando as pessoas vivem no âmbito do “como” e não entram na esfera do “porquê”, a sua atitude, em realidade, carece da propriedade mais característica da condição racional, ainda que o procedimento mental que venham a seguir pareça muito inteligente”.(...) O pensamento técnico e filosófico das duas últimas décadas do século XX caracteriza-se precisamente por um mal endêmico: falta profundidade. Gasta-se energia intelectual em solucionar problemas utilitaristas, na linha do “como” – como comportar-se da maneira mais eficaz para viver confortavelmente, como solucionar os problemas financeiros, como triunfar profissionalmente, como evitar dores...”.



Tais posicionamentos assemelham-se, no dizer do autor, ao roteiro de um navio fantasma, uma espécie de paranóia“ que separa a inteligência da razão: “as pessoas que viajam dentro desse navio – sem conhecer a duração da viagem, o seu destino, o seu porto de chegada, a sua razão de ser”.





Mas o aprofundamento deste assunto fica para uma próxima conversa. Por enquanto, vamos dar asas à imaginação e partir do pressuposto de que Deus não existe. E, sendo assim, uma vez comprovada a sua falta, como seria o mundo sem Ele?



A primeira constatação que me vem à mente é a de que, caso Deus não existisse, para muita gente, o mundo não seria muito diferente do que é hoje. A mentira, por exemplo, seria considerada fato normal, corriqueiro, e até, sob certos aspectos, elogiada. Motivo de admiração, inclusive, por se tratar de artifício utilizado por pessoas sagazes, espertas, astutas, que, valendo-se desse “artifício”, conseguem atingir seus objetivos, de forma rápida e sem muito esforço adicional.



Seriam, portanto, pessoas invejadas. Bastaria, para tanto, que fossem exímios mentirosos. Se não se tem a quem temer, nem a quem prestar contas no futuro, por que não usar da mentira para conseguir, por exemplo, bons resultados na política?



É verdade. Desse modo, próximos às eleições, nós teríamos um festival de mentiras, das mais inimagináveis até as mais rotineiras. Isto é, das mentiras muito bem arquitetadas até aquelas mentiras duvidosas; sem qualidade técnica. De pouca valia. Mentiras ditas por políticos com pouca habilidade na arte de mentir. Esse políticos teriam, evidentemente, poucas chances de serem eleitos. Mas, ainda assim, chegariam lá. Claro que em menor quantidade do que os campeões; do que os verdadeiros profissionais da mentira com M maiúsculo. Estes ocupariam, sempre, posições de destaque. No governo, na sociedade organizada e até na organização do crime.



Profissionais que chegariam a perfeição de chorar em público, dizendo-se vítimas de perseguições políticas. E o povo acreditaria neles. E eles insistiriam em dizer que nada têm a ver com as denúncias; nem com os inúmeros processos que correm na Justiça contra eles. E a Justiça, por sua vez, sem as provas suficientes, não conseguiria prendê-los. E eles continuariam soltos. E a população, diante da evidência dos fatos, não teria outra saída, e começaria a achar que as mentiras são verdadeiras. E que os mentirosos têm razão. Prevalecendo, assim a inversão de valores; como regra de modernidade e de bom viver.



Por outro lado, os candidatos que ousassem, por qualquer motivo, falar a verdade, seriam tachados de mentirosos, populistas e metidos a inovadores. Os eleitores, nesses casos, acabariam por desconfiar dessa minoria de políticos que, até mesmo por desencanto, ou ideologia própria, pretendiam impor à verdade aos seus discursos. Seriam considerados políticos totalmente incapacitados para mentir e enganar os eleitores. E, por isso, nunca seriam eleitos. Ou quase nunca.



E os presidentes? Ficariam bem à vontade. Poderiam dizer, por exemplo, que gostariam de dar um aumento maior para o salário mínimo, mas que se isso fosse possível, a Previdência iria à falência. Ou então teriam que aumentar os impostos para garantir um aumento maior nos salários.



Outra vantagem, se Deus não existisse, é a de que a população entenderia melhor o fato de o governo dizer sempre que o desemprego é um fenômeno global. E, por isso, precisa ser aceito pela população. Aliás, sob a ótica do governo, não existe desemprego. Emprego até que tem muito. O problema é que as pessoas não estão preparadas para assumi-los. Faltam-lhes estudo e conhecimento adequado às novas funções que surgiram com a globalização. Por isso o governo anda treinando todo o mundo. Mentira? E daí? Não é pecado. Acredita quem quiser.



Sem Deus para atrapalhar, dá até para entender as pesquisas eleitorais. Um sobe e desce normal. Vário cenários são apresentados. E ninguém acredita nas pesquisas. Até porque nunca ninguém viu algum conhecido seu dizer que teria sido consultado por qualquer desses institutos de pesquisas. Claro! Era tudo mentira! Mas as pesquisas acabariam por transformar em verdades as mentiras verdadeiras.



Sem Deus para atrapalhar, fica mais fácil prometer o milagre do crescimento, sem qualquer preocupação com o futuro.



E a violência? Seria uma grande mentira? E a fome? E as guerras? O terrorismo? O contrabando de armas? O tráfico de entorpecentes? Seriam verdades? Se são verdades, Deus existiria? Mas Deus não poderia compactuar com tanta miséria! Então Deus não existe mesmo? Deus seria uma grande mentira?



Não. Na verdade, Deus existe. Sempre existiu. Apenas não está presente no coração daqueles que praticam a violência. Todo tipo de violência. Todo tipo de mentira. Principalmente, a pior das violências: a violência dos que não acreditam na existência de algo superior e infinito. A violência dos que não acreditam na fraternidade e no amor. Na Verdade única e primeira. Em Deus.





10 de fevereiro de 2004.









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