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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->37. COMPASSO DE ESPERA -- 29/06/2002 - 05:19 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Após liqüidar os temas comerciais com o gerente, Fernando resolveu permanecer no escritório para pôr em dia os pensamentos.

Sentia a força da citação: “A caridade começa em casa”. Arrependia-se de ter sido tão arrogante para com Dolores. Relembrava a expressão de superior conhecimento do Edmundo, afirmando a constitucionalidade da liberdade de culto. Se fora ele a impingir a doutrina espírita, com certeza se implicaria nos artigos da Carta Magna. Por que, então, Dolores se arvorava em defensora intransigente da Igreja Católica Romana, como representante legal da Divindade na Terra?

Pensou em Kardec, cujo livro repousava sobre a mesa. O que não teria enfrentado junto ao então poderoso clero? Será que era casado? E a esposa, que religião professava? Como teria convencido a mulher a aceitar as informações da espiritualidade?

Eram questões que não alcançavam resposta. Queria avaliar as nuanças do pensamento intuitivo, mas nada lhe repercutia no fundo da consciência, como se as perguntas não fossem pertinentes aos temas habituais dos protetores.

— Será que não têm liberdade para tratar de todos os assuntos? Será que os consulentes ou os próprios assistidos não podem receber todas as respostas?

O sistema de estabelecer perquirições se havia comprovado eficaz. Aguardaria algo nesse sentido. Por certo, os espíritos estariam interessados no esclarecimento moral. Questiúnculas menores, a refletirem apenas curiosidade, não seriam do agrado de quem estaria tratando de melhorar o desempenho dos pupilos. Ou as propostas não estariam ao alcance dos guias, que, afinal, não eram obrigados a tudo saber. Só por se terem transferido para outro plano existencial, não quereria isso dizer que todos os conhecimentos se infiltrariam em suas mentes por osmose, por assimilação telepática ou por benignidade especial de Jesus ou do Criador.

Fernando estava habilitando-se a compreender que as elucubrações mentais se montavam segundo princípios dos recursos do seu raciocinar, mas por influenciação exterior, como se os mentores lhe passassem as idéias com as quais ia concordando, até o ponto em que a imaginação começava a divagar.

Aí começou a pensar em que Jesus, se não tivesse morrido na cruz, poderia ter vindo a constituir família. Lembrou-se do filme “A Última Tentação de Cristo”, desaconselhado do púlpito pelo Timóteo, mas que assistira em vídeo, interessado em caracterizar os pontos discordantes com a...

Interrompeu o devaneio. Era bem a exemplificação da interferência da imaginação.

— Eis que os meus bons amigos estão dando uma aula completa.

Satisfeito com o amparo, quis enveredar pelas possíveis reações do plano espiritual às atividades detetivescas. Repetia-se nitidamente a frase: “A caridade começa no lar”.

Notou a pequena diferença entre as citações (“casa/lar”). Será que o vocabulário vinha formulado do etéreo ou se construía no cérebro, conforme o saber ali depositado? Com certeza, médiuns como Chico Xavier receberiam tudo pronto. Não era o caso da xenoglossia?! Como pensar em retirar do cérebro do médium expressões idiomáticas totalmente desconhecidas? Ainda se fossem línguas como o espanhol ou o francês. E quando se trata do árabe, do japonês ou do chinês? Ou dos próprios textos poéticos? Será que o Chico teria recebido mensagens nessas línguas estranhas? Recordava-se de ter ouvido dizer que apanhara ditados escritos de trás para frente e outros que só poderiam ser lidos contra a luz ou refletidos no espelho.

Teria sentido imaginar que o Chico tivesse recebido mensagens em língua desconhecida dele mesmo, Fernando, para comprovar-se mais tarde a veracidade da suspeita? Não estaria aí a influenciação direta, sem o concurso do repositório da memória do médium? Que língua se poderia falar na Europa sobre cuja existência não tivesse ouvido falar? Não conhecia muito da geografia do Velho Mundo, mas foi capaz de se lembrar de um pequeno país: Luxemburgo. Haveria o luxemburguês? Chico Xavier teria apanhado ditados nessa língua?

Desconfiado de que estivesse recebendo uma resposta, resolveu escrever, para perguntar no Centro. Queria pôr em evidência a possibilidade do relacionamento efetivo com os benfeitores, sem a interferência da consciência, como se tudo devesse ser filtrado através dela, para merecer o carimbo da fidedignidade. Que interesse poderia resultar de uma conversa com os seres mortos (não gostou da expressão, achando que poderia ofender os amigos), se não lhe dissessem nenhuma novidade?

Nesse ponto, ergueu a voz, após verificar que o guarda da segurança não poderia ouvi-lo, e perguntou:

— Aonde deverei ir, com quem deverei falar, para desvendar o segredo da contaminação de Jeremias?

Bateu os olhos n’O Livro dos Médiuns e lhe veio a intuição de abrir a obra ao acaso. Talvez fosse bom método para explanações inteiramente alheias aos próprios pensamentos.

Abriu o livro e se deparou com quadro sinótico no qual se dividiam os médiuns em “de efeitos físicos” e “de efeitos intelectuais”. Mais adiante, especificavam-se os “sensitivos”, os “naturais ou inconscientes”, os “facultativos ou voluntários”. A partir daí, leu as várias subdivisões. Eram muitas. Contou sessenta e oito. Admirou-se da riqueza das possibilidades. Sentiu-se ignorante ao extremo. Como poderia aspirar franco relacionamento com os do etéreo, se não tinha nenhum conhecimento técnico do assunto?

— Bem pensando, concluiu, até que tenho avançado muito nesta primeira semana de efetivo trabalho mediúnico.

Nesse ponto das cogitações, verificou se não estava na hora de ir para casa. Por que não iria para o Centro? A pergunta o surpreendeu por inopinada. Que faria em casa, a não ser aborrecer-se com a mesmice da televisão? Com Dolores lá, trocavam idéias. Contavam os acontecimentos do dia. Falavam dos projetos junto à paróquia...

Sempre a religião a intrometer-se entre os dois. Desagradou-lhe a lembrança. Estava de mãos atadas. Segunda-feira, iria ao advogado. Até lá, compasso de espera. Amanhã, toca para a casa de Francisco. Ansiava para ver resolvidos certos problemas técnicos, já que a sessão evocaria determinados espíritos e não se abriria para o recebimento de quem os guias estabelecessem como os mais convenientes.

Era cedo para ir ao Centro. Ficaria lendo mais um pouco.

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