(Baseado no Conto ‘X e W’, de Arthur Azevedo (1.855 – 1.908)
O Xisto era tão feio, mas tão feio que... Ora, fica melhor apelarmos para as Ciências Exatas para dizer como era o Xisto. Pois então imagine um homem feio... Multiplique este homem feio por outros dez mais feios ainda. Está bom, --- resultado: você já tem o perfil do Xisto. E que ninguém se engane, achando que o Xisto nunca tinha nada para contar...
Relata-nos Arthur Azevedo que certo dia o Xisto, logo ao cair da tarde, ao fechar a janela do quarto onde morava sozinho, eis que, admirado, viu que no prédio defronte uma Dona parecia se insinuar para ele... “Não, não pode ser comigo!”, logo pensou o Xisto, que era um camarada consciente da própria feiura. E agora aquela Dona, que ele logo detectou como sendo a mais bonita da rua, parecendo... Não, não podia ser!
Por fim, ela furtivamente saiu da janela, após ter-lhe mandado um beijo pelo ar, assim como quando se coloca a mão em concha, beija, assopra e pensa, ---- Vai beijinho, vai para o Xisto! (Credo!...).
Não, não podia ser, ele próprio concluía. Mas no dia seguinte, à mesma hora, lá estava de novo o Xisto fechando a janela... E não foi que ela reapareceu!
E, enfim, encurtando esta estória, que não tem jeito mesmo de ficar bonita, tal qual o Xisto, depois de alguns encontros furtivos (Pois ela era casada...), eis que --- Viva! --- chegaram às vias de fato. Fizeram um amor louco, tão louco quanto uma perspectiva de até então alguém querer o Xisto... Mas ela quis!
Final do ato, ela, toda esquisita já, se esquivou então dele, com visível repugnância. E nunca mais o nosso Xisto se encontrou com aquela mulher.
Eis que, um ano depois, ele teve a explicação através de um colega de trabalho, o também feioso Wladimir, que contou que fora para a cama com a mesma Dona...
Pois não foi que o Wladimir conseguiu tirar dela a explicação para tudo! E assim esclareceu o fato ao pobre Xisto:
---Imagine que ela organizou um índice alfabético de todos os seus amantes... E estava aflita porque lhe faltavam o X e o W. O X foi você; o W fui eu!
---Mas... --- Teria feito o Xisto, atônito. E o Wladimir foi seco e direto:
---Se fôssemos uns monstros, Xisto, seria a mesma coisa. Veja você até aonde pode ir a mania de colecionar!
---------------------------------------------------------------------
TEXTO DO CONTISTA E TEATRÓLOGO BRASILEIRO,ARTHUR DE AZEVEDO.
======================================================================