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Cronicas-->EXAGERO -- 03/08/2001 - 01:40 (Débora Veroneze) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
EXAGERO



Marina chegou em casa chorando, completamente desesperada. José estava no quarto e, quando ouviu os lamentos da esposa, saiu correndo em direção à sala. Chegando lá, avistou-a sentada no chão com as mãos tapando o rosto, chorando e soluçando.
-O que aconteceu? - pergunta ele ao mesmo tempo em que se abaixa e acaricia o rosto da mulher.
-Você não vai acreditar!
-Só vou saber se acredito ou não se você contar.
-Serei despedida!
-Não acredito!
-Eu disse que você não ia acreditar!
-Como assim? Você é a funcionária mais preparada daquela empresa!
-Não é isso que o Gilberto pensa!
-Cadê a carta de demissão? Quero ver o que ele alega.
-Ainda não recebi. Acho que não deu tempo para fazer hoje.
-Conta o que aconteceu. Sou amigo do Giba. Quem sabe não podemos resolver isso juntos?
-Nán mon de aar! - resmungou Marina.
-Pára de chorar, caso contrário eu não entenderei nada. Repete devagar o que você falou.
-Ninguém pode me ajudar!
-OK! Com calma. Agora conta. O que pode ter sido tão grave?
-Vou contar! Só preciso de um copo de água com açúcar antes.
Zé vai até a cozinha, prepara um copo com água e muito açúcar, pega também uma caixa de lenços de papel e leva tudo para a sala. Deixa sobre a mesinha de centro e vai buscar a esposa que ainda está no chão chorando. Os dois sentam no sofá, Marina pega o copo com as duas mãos e , tremendo, toma toda a água doce. José espera mais um tempo e pergunta:
-Mais calma agora?
-Um pouco!
-Então conte.
-Tudo começou hoje pela manhã. Eu cheguei super atrasada na empresa.
-Que horas você chegou?
-Oito e cinco!
-Ora! Lá vem você exagerando novamente! Só atrasou cinco minutos.
-Ah Zé! Mas eu nunca tinha atrasado antes.
-Tá bom, tá bom! Continue.
-Aí eu fui até a sala do Giba pedir desculpas. Ele estava no telefone. Esperei por dez minutos até que terminasse de falar com a NetYork. Eu não entendia nada da conversa porque era em inglês, mas pude perceber que ele não estava nos seus melhores dias. Quando desligou, nem disse bom dia e foi logo perguntando:
-O que você faz parada aí na porta?
-Estou esperando para avisar que só cheguei atrasada porque houve um acidente na ponte e eu fiquei no engarrafamento por dez minutos; respondi.
-Está bem! Agora vá trabalhar, pois temos o relatório do mês para entregar no final do dia.
-Ele falou bem assim comigo. Nesse tom de voz. Dá pra acreditar? Eu, que sou o braço direito dele. Praticamente me expulsou da sala.
-Talvez não tenha sido essa a intenção do Giba...
-Ah Zé! Você fala isso porque não viu a cara com que ele me olhou. Estava literalmente bravo.
-Talvez não fosse contigo...
-Ah não é? Calma que vou contar o resto então...
-Eu fui para a minha sala e logo em seguida chegou a Ernesta. Aquela do financeiro, lembra?
José faz um sinal positivo com a cabeça e Marina continua:
-Então, ela disse que nesse mês tivemos prejuízo e que, se a empresa quiser continuar em pé, terá que enxugar os custos. Você sabe o que quer dizer enxugar custos? É despedir alguém para diminuir despesas.
-E quem disse que esse alguém é você?
-Calma! Ainda não terminei! Aí eu sentei e comecei a fazer o relatório. Foi quando o Gilberto mandou me chamar. Atendi rapidamente. Ao chegar em sua sala, ele nem me convida para sentar, só fala:
-O relatório vai demorar muito para ficar pronto?
-Acho que umas quatro horas! Respondi para ele.
-Assim que estiver pronto, traga-o urgentemente. Ah! Eu ia esquecendo! Termine o serviço e, antes de sair, por favor venha até a minha sala, pois tenho um assunto muito sério a tratar com você.
-Eu nem almocei, terminei o relatório antes das duas da tarde e, quando fui entrega-lo ao Giba, ele olhou pra mim, pediu que eu deixasse o envelope em cima da mesa porque no momento, não poderia falar comigo. Mas que eu não esquecesse de passar na sala dele antes de ir embora. Então perguntei de que se tratava o assunto de tamanha importància e ele respondeu:
-É sobre algumas demissões que serão feitas.
-Minhas pernas tremeram, voltei para a minha sala e as horas não passavam. Cada pouco eu levantava e dava uma volta na frente dele, pra ver se ele me chamava para conversar, e nada. Até que ele se irritou:
-Marina, você está com algum problema?
-E eu, num ato de idiotice inconsciente, respondi não!
-Então pare de ficar andando de um lado pro outro que eu preciso me concentrar e isso atrapalha.
José prestava atenção em todos os detalhes da história e já estava quase convencido que a esposa seria demitida no dia seguinte.
-E você fez o que?
-Eu? Ora! Fiz o que ele mandou. Fiquei quietinha. Quando faltavam dez minutos para encerrar o meu horário, fui até sua sala. Aguardei no corredor, pois um cliente estava sendo atendido , então ele pediu licença e veio até mim se explicando:
-Marina, não poderemos conversar hoje. O assunto é chato e delicado. Eu ainda vou demorar . Venha um pouquinho mais cedo amanhã e resolveremos este problema antes que o dia comece.
-É! Realmente eu acho que você será despedida. - concordou o marido - Mas é preciso entender a situação da empresa. Se não está bem, os cortes são necessários.
Marina caiu no choro novamente. Naquela noite não conseguiu jantar, andava de um lado para o outro da casa se perguntando: Por que eu? Por que eu? Quase não dormiu e no dia seguinte, chegou uma hora antes no trabalho. Ficou esperando por Gilberto durante cinquenta minutos e quando ele entra:
-Bom dia! Faz tempo que chegou?
-Não! Acabei de sentar.
-Quer um café?
-Não , obrigada!
Gilberto a convida para entrar e pede um café pelo telefone. Enquanto isso, Marina treme e pensa: comece logo a falar e termine de vez com essa tortura.
-Bem Marina, eu te chamei aqui porque preciso esclarecer algumas coisas antes de tomar as decisões. A empresa está passando por dificuldades. Eu consultei nossos economistas e a única solução apresentada por eles foi a demissão de alguns funcionários.
Nesse momento, Marina já estava com os olhos cheios de lágrimas. Torcia para que não precisasse falar, pois tinha certeza que engasgaria.
-Portanto, - continuou Gilberto - eu quero lhe comunicar que a sua carga horária aumentará a partir do próximo mês (e o salário também, é claro), pois precisaremos suprir a falta que os funcionários demitidos farão. E quero pedir um favor também: gostaria que você desse uma satisfação às pessoas que serão demitidas. Sabe como é...mulher tem mais jeito para lidar com essas coisas.
Uma sensação de alívio toma conta de Marina, um sorriso largo se abre em seu rosto e ela pensa: como fui imbecil...
-Eu sei que esse é um favor meio chato de se fazer, mas faça isso mim. E não esqueça: um dia a recompensa virá.
-Farei com a maior dedicação! - respondeu Marina.
Ela passou um dia maravilhoso, sorria para todos, estava muito feliz. Chegou em casa cantando, dançando e, o marido ao ver essa cena, não entendeu nada:
-O que está acontecendo? - perguntou ele.
Marina o abraça, beija, dança mais um pouco, dá um giro sobre o próprio corpo e responde:
-Serei promovida!

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