FALSIDADE IDEOLÓGICA?
(Por Domingos Oliveira Medeiros)
Mudanças são naturais. E acontecem à toda hora. Muda-se para melhorar. Para crescer como pessoa. Para aprimorar a rota que traçamos para a nossa vida. Para ajudar o próximo.
E a mudança, seja ela qual for, tem, sempre, alguns de seus alicerces básicos assentados no passado. Vale dizer, na experiência acumulada. Naquilo que acreditamos e experimentamos durante anos e anos de nossa vida. Experiências que foram passadas e repassadas pela peneira do chamado bom senso. De nossas reflexões. De nossas crenças e valores. Teoria e prática, num constante aprendizado.
E o que sobrou, como válidos, daqueles conhecimentos e experiências, foram incorporados ao nosso modo de ser e de pensar.
Mudar é um processo positivo. Não se pode, portanto, mudar para pior. Pelo menos, não se deve. A mudança, no sentido do crescimento, portanto, é sempre positiva.
Muda-se de residência, de barbeiro, de namorada, de time de futebol e até de religião. Esta última, é bem verdade, com maior tempo e como freqüência menor. Mas, sempre, no sentido de agregar qualidade ao nosso ser.
Por essas e outras razões, não consigo entender e aceitar a mudança brusca, e, no meu entendimento, para pior, do Partido dos Trabalhadores; principalmente, de alguns de seus principais mentores, como é o caso do Zé Dirceu.
A mudança do PT assemelha-se ao que aconteceu com o famoso Michael Jackson. Ninguém mais consegue lembrar de seu rosto original. Exemplo típico de mudança para pior; que o descaracterizou, como ser único; do jeito que veio ao mundo; do jeito que seus pais e seus amigos o conheceram.
O fantasma que resultou das “cirurgias ” que atingiu até sua alma, retirou-lhes todas as suas características básicas; no seu lugar, restou a “máscara” de um ser irreconhecível, enigmático, inexpressivo, esquisito.
Mudança infértil. Para nada. Ou melhor: para pior. Até a cor de sua pele sofreu alterações bruscas: de negra, passou a ser branca. Como se fosse resquícios de talco, jogado em seu rosto por algum carnavalesco, que o deixou, de certa forma, fantasiado de palhaço. Ou de espantalho; desses que fincam nas árvores de propriedades rurais, para impedir que as aves e os insetos predadores destruam a plantação.
José Dirceu, segundo relembra-nos a imprensa, teria dito, ao “Jornal da ANPR, órgão da Associação Nacional dos Procuradores da República, em março de 2000: “É o governo, são os partidos que sustentam o governo que querem amordaçar o Ministério Público. Porque querem encobrir as suas relações com irregularidades.”
Menos de dois anos depois daquele pronunciamento, já na condição de ministro-chefe da Casa Civil do governo do Lula, José Dirceu criticou duramente a atuação dos promotores, durante ato de desagravo ao deputado petista Luiz Eduardo Greenhalgh (SP) que, segundo o ministro, a Constituição estaria “sendo violada diariamente por uma série de procedimentos ilegais do Ministério Público e de alguns órgãos da imprensa”, ao comentar vazamentos de informações sigilosas sobre a morte do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel.
O que teria levado o ministro-chefe da Casa Civil a fazer tamanho comentário? Com que direito e autoridade ? Com que propósito ? E com tamanha incoerência em relação ao que pensava a respeito da insensatez de alguns governantes e parlamentares de calar o Ministério Público, segundo o seu pensamento antes de assumir o Poder?
Mudança brusca e repentina. Para melhor? Só o tempo dirá.
22 de janeiro de 2004
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