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Artigos-->Katrina -- 20/01/2004 - 17:21 (José J Serpa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

É sempre agradável reencontrar alguém. E quando o reencontro se faz ao fim de cinquenta e tantos anos, o agrado torna-se real satisfação, prazer. Especialmente se o reencontrado marcou mais ou menos profundamente o nosso passado.

No caso presente o reencontrado, ou melhor a reencontrada, chamava-se Katrina. Isso mesmo, Katrina.

Encontrei Katrina, pela primeira vez, na minha já distante juventude. Foram duas semanas de verdadeira comunhão de ideias e sentimentos, com momentos de profunda intimidade. Katrina era um ano mais velha do que eu. Nascera em 1936, numa aldeiazinha da região de Osterbotten, no Norte da Finlândia. Encontrei-a, quase por acaso, numa bibliotecazinha municipal das nossas ilhas. Era linda, de grandes olhos azuis, profundos, cabelos loiros, claros, ondulados. O seu corpo era alto, robusto, mas flexível, harmonioso e profundamente feminino.

Foi este aspecto físico de moça nórdica que me atraiu para ela. Mas foi a sua imensa generosidade que se foi manifestando à medida que nos conhecíamos melhor, que consolidou a nossa amizade e a minha enorme admiração por ela. Katrina era, de facto, duma generosidade extraordinária, mesmo entre gente jovem, que é onde esta virtude brota mais expontânea.

Desde o primeiro momento, completamente desinibida, à vontade, falou de si, da sua família, dos pais, de duas irmãs que tinha. Contou-me da vida feliz que vivera na sua terra natal e de um sonho lindo que a empolgara e a levara a abandonar terra, família, tudo, para o seguir. O sonho chamava-se Johan. Johan de Klinten, um jovem marinheiro desembarcado temporariamente em Osterbotten. Johan enfeitiçou-a com os seus modos de menino crescido, de inesgotável garrulice e bom humor. Era do Sul, da ilha de Aland onde o clima era mais doce e a terra tão fértil que nem precisava de ser trabalhada, tudo crescia naturalmente. Em Aland havia fartura de legumes de frutos, de trigo, trigo dourado como o próprio ouro, de maçãs. Não era como em Osterbotten, a terra de Katrina, lá no Norte, onde só medra nos poucos meses sem neve, um centeiozito enregelado e umas batatitas raquíticas...

Em Aland havia maçãs. Maçãs, aos milhões, encarnadas, amarelas, verdes... azuis. Katrina encantou-se pelas maçãs de Aland, por tudo o quanto Johan lhe dizia e seguiu-o para o Sul. Depois...

Bom, depois...

Agora que Katrina e eu nos reencontrámos, depois de tantos anos, ela anda-me contando de novo a sua história. Eu nunca me tinha esquecido completamente dela. Lembrava-me de vez em quando, mas os pormenores tinham-se esbatido na minha memória e só apareciam em vagas reminiscências, quando episódios da minha própria vida os evocavam. O que é engraçado é que esta Katrina reencontrada ao fim de cinquenta e tantos anos não perdeu nada da sua primitiva frescura. Pelo contrário, continua linda como se os anos não tivessem passado. Só que a narrativa me parece agora muito mais rica. Desta vez já não é somente a generosidade, a coragem de Katrina que me atraem, é também o destino daqueles que a rodeiam , de Johan, de Beda, do velho Seffer, e dos outros que me inspiram sentimentos muito fortes de simpatia, de censura...

Com efeito este reencontro com a Katrina de Sally Salminen tem sido tão agradável e tão recompensante, que eu quero ir, de seguida, à procura de outros reencontros. Quero encontrar-me outra vez com a Luisa de Eça de Queirós, com a Capitu de Machado de Assis, com a Emma de Gustavo Flaubert, com a Margarida de Vitorino Nemésio, com Ana Karenina, com Hester Prynne...

É que eu agora sei, por experiência própria, que o reencontro com estas mulheres é imensamente mais rico de prespectivas de todo o tipo, sociais, psicológicas, muito mais emocionante do que foi o primeiro encontro.

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