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Poesias-->UMA ESTRELA -- 16/01/2002 - 22:02 (VIRGILIO DE ANDRADE) |
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Foi numa tarde na biblioteca
Eu fazia direito, ele lecionava inglês
Eu tinha pra lá de dezessete anos
Ele bem menos que trinta e seis.
Naquele dia, quando me sentia infeliz, a felicidade chegou correndo
Esbarrou no meu braço e derrubou o livro da minha mão
Fiquei indignada e xinguei o destrambelhado de cachorro sarmento
Ele sorriu, fez que não escutou, e cantarolou uma canção.
Depois olhou tão fundo nos meus olhos que me fez ficar corada
Sorriu mais uma vez, com voz melosa pediu perdão
E ficou brincando com meus dedos, sem me dizer mais nada.
Senti frio, o calor tomou conta do meu ser, e não tive coragem de dizer não.
De repente um beijo
As pernas fraquejaram. Foi tamanha emoção
Que atingi às alturas e descobri que a terra é azul e a lua não era de queijo
E que tinha grudado na minha boca um rato que roubava meu coração.
Passamos o inverno, juntos. Formávamos um belo par
Só andávamos de rosto coladinho, olhos nos olhos, mão na mão
À noite aquecia seus pés na lareira
Enquanto ele declamava e tocava violão.
No segundo ano o destino nos separou
Ele foi lecionar em outro estado.
Telefonei, mandei cartas, passei e-mail
Mas nunca recebi um simples recado.
A tristeza abateu em mim. Foram tantos invernos que passei
frente à frente com a mesma lareira sorvendo a dor da desilusão
Que o fogo consumiu minha alma e murchei
Por não acreditar naquele adeus sem motivo e sem razão.
No mês passado recebi uma carta
Que por esquecimento, deveria ter sido postada a muito anos atrás
Nela estava escrito que você se foi, que virou uma estrela
Que não vai voltar nunca mais.
hoje vivo a escrutinar o céu para encontrar sua constelação
Chego a pensar que você foi engolido por esse universo sem fim
Que está vagando em buracos negros sem rumo ou direção
desejando que te encontre, para voltar para mim.
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