Cotovias
maria da graça almeida
Da poesia, uma centelha
quis plantar em meu jardim,
mais linda, a rosa vermelha
sorriu, zombando de mim:
-A poesia não se planta,
-diz-me, sábia e faceira-
a poesia só se colhe
de ilusões vãs, passageiras.
Desdenhei o seu conselho,
insisti na semeadura,
ao olhar-me no espelho
vi um poema na clausura.
Aprendi que a poesia
nunca brotará do chão.
Os versos são cotovias
livres da mão do alçapão.
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