E aí companheiro ??? Como anda a nova vida ???
Aqui está tudo tranqüilo. Tudo do mesmo jeito, o mesmo ritmo. Na verdade, quase tudo, pois estamos sentindo a sua falta.
Hoje de manhã estávamos lembrando de você, comentando algumas coisas, rindo um pouco das nossas aventuras por aqui. Por isso, resolvi escrever para comentar algumas coisas contigo, para dar notícias.
Nem eu, nem nenhum outro colega aqui imagina que um dia você fosse deixar o trabalho de campo para ir ocupar uma cadeira num cabine. A gente nunca pensou que você fosse um dia ficar no ar-condicionado, sentado numa cadeira em frente ao computador, só cuidando de papéis ...
Eh, a vida da gente dá muitas voltas, né mesmo ???
Lembro que de todos daqui da nossa equipe você era o mais “pé no mato”. Ninguém aqui tinha tanta disposição e gosto pelo trabalho de campo como você tinha.
Você mesmo gostava de dizer que o “trabalho na ponta” era mais importante e mais emocionante do que o trabalho do pessoal da burocracia que fica no gabinete.
“Enquanto esse pessoal só fica pensando e planejando, somos nós aqui da ponta que fazemos a coisa sair do papel. Somos nós que fazemos a coisa acontecer”, você dizia sempre.
Recordo de várias outras frases marcantes que você dizia. “Ficar sentado no escritório só faz engordar e aumentar o stress”. “Esse negócio de passar horas na frente do computador só serve para dar miopia”. “Ficar tempo demais trancado numa sala com ar-condicionado só piora a saúde da gente, só traz sinusite e resfriado”. “Mexer com papel é coisa de bibliotecária e advogado”. Muitas dessas frases até viraram jargão entre os membros de nossa equipe. Nós dizíamos e repetíamos muito cada uma dessas frases.
Você gostava de dizer que o bom era o trabalho de campo, as viagens de caminhonete pelas estradas de terra, navegar de voadeira, sentindo o vento na cara, deixando a pele ficar bronzeada pelo sol quente. Era isso que a gente gostava e fazia !!!
A gente curtia muito as aventuras, os improvisos, os sufocos de vez em quando. Cada viagem era um novo aprendizado, um desafio diferente. Todo lugar tinha uma comunidade, um tipo de gente, comida e coisas novas para ver e aprender.
Você gostava de dizer que esse tipo de trabalho, sem roteiro, sem previsões, gera muita adrenalina e enche a gente de paixão pelo que fazemos. Essa era a motivação de estar aqui na ponta, fazendo um pouco de tudo, com liberdade para dirigir o próprio ritmo, sem se prender a rotina e tédio do escritório.
A gente gostava de dizer que nós éramos os melhores, os mais fortes e corajosos, pois só nós tínhamos disposição para “chutar o escanteio e correr na área para fazer o gol de cabeça”.
Nunca imaginava que um dia você iria se trancar numa função dessas. Você não tem pinta de burocrata, nem é uma pessoa de gabinete. Só espero que você não se deixe contaminar pelo clima tecnocrático e acabe se esquecendo do pessoal da ponta que lida no dia a dia em situações bem diferentes das que você tem aí.
Peço que você, meu amigo, aproveite a sua experiência para fazer a diferença, sempre levando em conta a nossa realidade. Não se deixe contaminar pela papelada da burocracia.
Estamos com saudades, meu amigo. E quando você quiser aliviar o stress dê um pulo aqui. Venha nos visitar, trazer novidades. A gente pode dar umas voltas, colocar o papo em dia e relembrar os velhos tempos.
Quando você vier tenho certeza que vamos rir muito, do mesmo jeito que fizemos nesses anos todos !!!
Sei que você está numa nova fase, mas não se esqueça do que você era e não deixe de lembrar dos amigos.
