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Artigos-->O QUARTO PODER X -- 10/01/2004 - 12:57 (DANIEL CARRANO ALBUQUERQUE) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Numa conhecida passagem da Bíblia, Antigo Testamento, fala-se de um tempo em que os hebreus, decepcionados com o Senhor, dele se afastaram e trocaram sua adoração pela escultura de um carneiro de ouro. Deus castigou-os e obrigou-os a converterem-se novamente. Não conheço o relato em seus detalhes mas lembro-me sempre dele quando medito sobre uma inclinação que tem as pessoas para adoração. É uma compulsão. Uma necessidade quase biológica. É algo instintivo, que o indivíduo não compreende bem e não se dá conta de seu conteúdo neurótico. Começa na infância, cresce na adolescência e persiste na idade adulta, em cada fase daquelas o objeto adorado variando de acordo com a tendência da época e a complexidade individual. Adorar é muito diferente de admirar. Esse último sentimento tem como base o conjunto de qualidades verdadeiramente reconhecidas pelo sujeito. No caso da adoração, o objeto é escolhido aleatoriamente – como no caso do carneiro de ouro que poderia ser um outro animal ou outra criatura qualquer. O importante é que preencha o espaço vazio que necessita ser imediatamente ocupado. A criatura só precisa estar em certa evidência afim de poder destacar-se como falsamente especial. Líderes políticos, alguns de grande expressão histórica, como Hitler, Stalin, Evita, Antonio Conselheiro, Getúlio Vargas, etc. foram – e ainda são – adorados, independentemente de suas reais qualidades a favor da coletividade. Líderes religiosos, como o Padre Cícero, os papas em exercício e outros são exemplos de que para que haja a adoração só é necessário que a pessoa seja popular e receba elogios, sejam esses sinceros ou meramente especulativos. No início da década de sessenta, os jornais de todo o país divulgaram a notícia do nascimento de um rinoceronte no Zoológico de São Paulo o qual foi batizado como “Cacareco”. O animal ficou tão famoso e gozou de tanta simpatia que, na proximidade de um pleito para preenchimento de vagas para a Assembléia Legislativa do estado, uma pesquisa de opinião pública apontou-o como o candidato mais cotado. Podemos interpretar , à primeira vista o fato, como tendo sido o resultado do conhecido bom humor do brasileiro. Mas a verdade é que a maioria daqueles que manifestaram a sua intenção estavam falando sério. Há quem adore os santos, há quem adore políticos, há quem adore membros da própria família, há quem adore pessoas da mídia, cantores, atores, apresentadores. Há quem adore o seu professor, o jogador de futebol ou simplesmente o clube esportivo, o país, a agremiação, a escola de samba, etc. Nos casos de pessoas, a adoração completa-se ou toma corpo com um forte aditivo de natureza sexual. A essência da adoração é que ela é sempre incondicional. O seguidor normalmente equilibrado de um determinado líder político, por exemplo, haverá de romper com ele no momento em que perceber as falhas que haverão de decepciona-lo. Alguém pode manifestar com paixão a sua admiração por um determinado artista enquanto a arte vem de encontro com a sua inspiração mas manter-se lúcido o bastante para fazer críticas diante de um trabalho ruim. O adorador não tem olhar crítico. E o que é pior, se por acaso o objeto adorado se torna adulterado, o indivíduo modula a sua personalidade automaticamente de modo a manter-se com ele integrado. Boa parte da população alemã conhecia os horrores do nazismo e assimilaram a sua frieza em função da sua adoração. Muitos jovens integrantes de gangues se tornam assassinos frios ao copiarem seus adorados líderes. Na verdade, muitos mitos são criados com fins de serem obtidos lucros em forma de dinheiro ou de poder. As campanhas eleitorais são exemplos claros. Basta um retrato, um sorriso e discursos inflamados. Logo se cria um ídolo e um monte de idólatras. Sua necessidade por ídolos está lá, quiescente , bem à espera deles. Basta um pequeno empurrão. A mídia tem um enorme papel nessa construção. Por mais medíocre que seja um cantor, um ator ou um compositor, ele será inequivocamente um sucesso se for amplamente divulgado o seu trabalho e se for elogiado por algum animador. Alguns retoques ajudarão, é claro. É comum, também, para que a idolatria seja ainda bem ampla, criarem-se títulos de nobreza, como reis, por exemplo. E assim a mídia vem construindo através das décadas seus lucrativos reis. Rei da Voz, Rei do Futebol, Rei do Rock, Rei da Jovem Guarda, Rainha dos Baixinhos, etc.. Essa é mais uma faceta da contribuição negativa dos nossos órgãos de divulgação e entretenimento à cultura e ao desenvolvimento humano.



Janeiro de 2004

Daniel Carrano Albuquerque

E-mail: notdam@bol.com.br

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