Tinha os olhos de tom verde-azulado, estatura grande e traços de europeu.
Era interessante, principalmente quando se fazia engraçado. Queria que todas as atenções se voltassem para ele, incondicionalmente.
Eu, filha caçula, confesso que não lhe achava a mínima graça... Mas, daria um terço de vida, para tê-lo ao meu lado, agora, nem que fosse, apenas, para lhe ouvir as piadas repetitivas e sem graça nenhuma.
Por que as pessoas partem, sem dar uma brecha sequer de para onde vão?
E qual a razão de eu estar com ele, hoje, tão vivo na lembrança?
Acho que foi porque vi uma pintura de Jesus, numa exposição, com olhos mansos e piedosos.
Meu pai era assim: expressão ingênua de menino levado, mas demonstrava um carinho enorme nas ações paternas.
Austero, nunca deixou faltar nada... Só mais tarde, depois de crescida, pude entendê-lo de fato. Aquele ar rude era para “não perder a autoridade”.
“Afinal, um chefe de família tem muita
responsabilidade nos ombros” – disse-me ele uma vez, quando indaguei de sua braveza - .
Não era muito instruído, mas dava um valor imenso à nossa escolaridade.
“Estudem muito! Talvez, de vocês, ainda saia um futuro presidente para consertar este país de merda!”
Não tinha qualidades que comumente se destacam, mas uma visão que tenho de meu velho pai é de que era, antes de qualquer coisa, um exímio batalhador pela vida.
Morreu de enfarte fulminante, no hospital, sem dar o mínimo trabalho...
Morreu... Sem ouvir de mim certa frase, que ficará eternamente presa na garganta:
"EU AMO VOCÊ, PAI!"...
Já sentiu um
Toque Mágico.?
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