O caminho da estrela em 2004
Athos Ronaldo Miralha da Cunha
Estamos começando mais um ano eleitoral e o as agremiações partidárias organizam-se com vistas a acordos e coligações. E logo estaremos debatendo os destinos de nossas cidades com expectativas e esperanças renovadas. Faremos o julgamento das gestões dos atuais prefeitos.
Alguns analistas dizem que o debate será municipal. Entretanto, duas eleições são estratégicas e despertam os interesses, tanto a direita quanto a esquerda, da classe política brasileira. São Paulo, por ser o pulmão econômico do país e Porto Alegre por ser a “Meca” das esquerdas e sede dos Fóruns Mundiais, e por serem, ambas, governadas pelo Partido dos Trabalhadores. Esses dois grandes centros haverá de ser o foco das atenções da oposição ao governo de Lula.
O Partido dos Trabalhadores entende como fundamental manter o poder político na capital dos gaúchos, símbolo administrativo de um governo de esquerda, o PT tentará o quinto mandato consecutivo, como também em São Paulo, centro nervoso da política, da economia e do próprio PT.
Arrisco a dizer que se Lula não for candidato a reeleição, o candidato do PT virá de São Paulo.
A campanha eleitoral de 2004 será uma prévia da eleição presidencial de 2006. A vitória do PT nessas duas capitais ou um bom desempenho de uma coalizão com apoio do PT, consolida as reformas implementadas pelo governo.
Para as estratégias do governo Lula é fundamental uma vitória nos principais centros do país. Ou o PT se credencia como alternativa de governo ou chegará cambaleante na sucessão de Lula.
Nas eleições 2004, estaremos analisando e julgando os atuais governos municipais, mas também estaremos julgando os governos dos estado e, também, o governo de Lula.
O debate será nacional nos grandes centros. Pois o governo Lula assumiu gerando uma grande expectativa, falando em esperança e com um amplo apoio popular. E, convenhamos, as políticas sociais ficaram a desejar nesse primeiro ano de mandato.
Claro que Lula manteve a estabilidade econômica, o risco Brasil caiu consideravelmente, o dólar manteve-se abaixo dos R$ 3,00.
Mas alguns pontos ficaram sem as respostas desejadas, ou seja, a política de inclusão social, geração de emprego, reforma agrária e a política de assentamento dos sem-terras. O Fome Zero ficou aquém do desejado. E as três refeições diárias para todos os brasileiros?
Podemos contrariar ou apoiar as reformas, mas a maior mídia do governo foi o chamado “fogo amigo”. No ano que passou o PT foi o seu maior opositor no Congresso, o que deu mais publicidade, culminando com a expulsão dos quatro parlamentares e deserção de alguns históricos militantes.
Nesse contexto, o que está evidenciado é que o PT mudou e caminha para construir uma governabilidade. O PT amadureceu sendo governo.
Os mais apegados aos dogmas tradicionais da esquerda se rebelaram e foram expulsos e, certamente, quem estiver insatisfeito sairá nos próximos meses.
Digam o que quiserem, incoerência, mudança pragmática por ser governo ou uma incorporação social-democrata. O certo que o PT não é mais o mesmo. É sério. É crítico. É governo e aposta e deseja fazer o sucessor de Lula.
O PT estará para essa eleição como o mais rico e organizado partido político do Brasil e com uma baita vontade de ampliar sua base de apoio e de prefeituras.
E, nós, eleitores teremos que fazer esse julgamento. Em 2004 as emoções políticas serão fortes e agitadas.
Ainda bem que temos essa saudável democracia brasileira. Em outros tempos, nem tão longínquos, tínhamos a “democracia” dos fuzis e das baionetas que colocaram brasileiros no exílio. Hoje devemos saudar a nossa emocionante, empolgada e madura democracia.
Evidenciada pelo recente encontro entre FHC e Lula ao receberem um prêmio pela maturidade transcorrida na transição de governo.
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